O que Maria jovem diz hoje aos jovens

Estive este fim-de-semana na Peregrinação do Rosário e da Família Dominicana. Há 14 anos que não o fazia em pleno. O tema deste ano foi "Maria, jovem, e os jovens com Maria". Foi muito interessante e belo tudo o que se passou nestes dias e, sobretudo, os testemunhos dos jovens e do "jovem" D. Gilberto Canavarro, bispo emérito de Setúbal que, presidiu à peregrinação.
Ontem fiz uma pequena conferência com o tema deste post: o que é que Maria, jovem, diz hoje aos jovens. Aqui a deixo para quem tenha interesse em a ler:

A vida de Maria quer na vida de Jesus quer na vida da Igreja é inspiradora, como modelo a imitar e mãe a quem rezar. Aquela pequena frase que o Papa Francisco aqui disse em Fátima, é das mais belas não por ser extraordinária, mas por ser simples e tudo o que é simples é belo: Temos mãe!
Gostava, nesta manhã, de vos lançar alguns apelos, a partir de Maria, certamente, mas tendo em conta os momentos fortes que a Igreja e o mundo estão a viver. E como o Papa Francisco é, sem sombra de dúvida, uma referência para a Igreja e para o mundo, será também certamente para cada um de vós, construtores de um mundo melhor.
Partilho convosco três intuições em que acho que acho que Maria pode ser inspiradora para as vossas vidas.
1. E gostava de começar pelo que nós, mais velhos, talvez apreciemos, e com alguma inveja, quando olhamos para vocês: a alegria. À medida que vamos envelhecendo, parece que vamos perdendo a alegria. A alegria dos jovens é diferente da alegria das outras idades. Uma criança é alegre porque sim, por é espontânea, porque brinca, porque acha piada a caretas e a novidades. A um adulto a alegria tem dias: conseguimos estar um dia alegres, mas também conseguimos que as preocupações da vida e os problemas nos tirem muitos dias de alegria. Uma pessoa de mais idade, tirando saudáveis excepções, consegue de vez em quando esboçar um sorriso. Temos de reconhecer que nós, europeus, somos demasiado sisudos “cara de vinagre” como o Papa tem dito. E é à primeira Encíclica do Papa Francisco, a Alegria do Evangelho” que vou buscar este meu pedido e creio ser também o de Maria: Não deixem que vos tirem a alegria. A alegria de viver. Várias vezes, no Evangelho, lemos que Maria exulta de alegria, rejubila, alegra-se. Nós, Igreja, nós, cidadãos do mundo, nós, Família Dominicana precisamos da vossa alegria. Precisamos da vossa alegria para não entrarmos no pessimismo, para não cairmos no “não vale a pena”. Por favor não deixem que as coisas más que trespassam a vossa vida, vos tirem a alegria de viver, a alegria de continuar, a alegria de “fazer barulho”.
2. Outra coisa reconheço em vocês, e que vejo também na figura de Nossa Senhora, é o dinamismo. Vocês mexem e fazem mexer. Talvez a nós, adultos, isso nem sempre seja bem interpretado, no sentido de vos querermos formatar à nossa imagem e semelhança. Quando penso em dinamismo penso em “resistir à cultura do sofá”. O bispo desta diocese de Leiria-Fátima dizia no domingo passado aos quase 200 jovens que crismou: “Não queirais ser jovens de sofá, sentados no maple de casa, a ver o mundo passar!”. E eu peço-vos para serem dinâmicos. E Maria dá-vos o exemplo. Depois de o anjo ter anunciado a Maria que ela ia ser a Mãe de Jesus e que a sua prima Isabel também ia ser mãe, não ficou no maple da sala mas “irrigou-se apressadamente para a montanha, a uma cidade da Judeia.” Mas também que este dinamismo não seja só momentâneo ou pontual. Os que são da área da engenharia sabem o que é um dínamo (um instrumento que gera energia). E está sempre dinâmico, porque tem sempre que gerar energia. Nós, mundo, nós, Igreja, nós, Família Dominicana, precisamos do vosso dinamismo, mesmo que isso incomode os mais velhos e os mais parados. Também aqui vou buscar a recente Exortação Apostólica do Papa Francisco sobre a santidade, que vos pode aconselhar: “Não é saudável amar o silêncio e esquivar o encontro com o outro, desejar o repouso e rejeitar a actividade, buscar a oração e menosprezar o serviço. Tudo pode ser recebido e integrado como parte da própria vida neste mundo, entrando a fazer parte do caminho de santificação. Somos chamados a viver a contemplação mesmo no meio da acção, e santificamo-nos no exercício responsável e generoso da nossa missão” (n. 14).
3. Terceira coisa que vocês nos podem contagiar: a vossa fé. Maria foi uma mulher de fé e foi pela fé que ela foi o que foi, fez o que fez e continua a ser o que é. Maria é modelo e exemplo não por ter sido uma mãe jovem, não ficou conhecida na história por ser de Nazaré, não é lembrada por ter ficado viúva cedo e por lhe terem matado o Filho. Maria é conhecida, amada e venerada por ter tido fé e porque disse sempre sim a Deus por causa da sua fé.
Uma das críticas (muito injusta) que se faz aos jovens de hoje é a de que não têm fé. Digo que é injusta porque achamos que vocês deviam seguir o que nós achamos que é a experiência da fé. E olhando para vocês, o que é que vejo? Que vocês têm uma espiritualidade muito profunda mas que nem sempre se sentem o à vontade ou a coragem de a partilhar. Penso nas paróquias, por exemplo. Conflito de gerações. Os mais velhos querem de uma maneira e os mais novos de outra. Uma missa solene… uma vigília de oração… é difícil porque temos modos diferentes de expressar a nossa fé.
Mas queria também – e termino – mostrar-vos o grande contributo que vocês têm dado ao nível da fé em dois campos que, há uns anos atrás quase não existiam: o voluntariado e as preocupações ambientais. Vocês, jovens, ensinaram a Igreja a perceber que não é só nas missas e nos terços que se pratica a fé. Vocês levaram a fé às actividades sociais e ao encontro com situações de fragilidade, através do voluntariado. Vocês têm vindo a mostrar à Igreja que ser cristão é também sair da sacristia e do adro e ir ao encontro dos desprotegidos, dos mais necessitados… E fazem-no na pequena e na grande escala: desde o voluntariado na cidade em que vivem até voluntariados missionários. E as questões ambientais. Vocês foram educados e educam-nos hoje a nós para o valor da ecologia, do cuidar e não estragar, da importância de dialogar com quem pensa diferente e reza até de maneira diferente. O mundo, a Igreja, a Família Dominicana precisa do vosso contributo, da vossa ajuda, da vossa fé para podermos, juntos sermos mais divinos e mais humanos. Não escondam a vossa fé! Vivam-na, partilhem-na e pratiquem-na.
Daqui a uns dias vai começar em Roma um sínodo sobre os jovens. Infelizmente não é um sínodo de jovens… é um sínodo de bispos que vão reflectir sobre os jovens. Há um texto preparatório, que certamente conhecerão. No fim do texto faz-se alusão a Maria e os Jovens. Convido-vos a ouvir: “Cada jovem pode descobrir na vida de Maria o estilo da escuta, a coragem da fé, a profundidade do discernimento e a dedicação ao serviço. Na sua «pequenez», a Virgem noiva de José experimenta a debilidade e a dificuldade de compreender a vontade misteriosa de Deus.
Nos olhos de Maria olhos cada jovem pode voltar a descobrir a beleza do discernimento, e no seu coração pode experimentar a ternura da intimidade e a coragem do testemunho e da missão”.

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