Uma bonita oração

Por vezes as pessoas queixam-se que as orações da Missa são muito elaboradas ou até que nem se consegue perceber o que se está a pedir. Uma vez, numa conferência sobre o Concílio Vaticano II, um bispo dizia que as orações da Missa eram belas no latim mas que não chegavam ao coração das pessoas.
Há um quê de verdade nestas afirmações. Algumas orações presidenciais são de difícil entendimento, como, por exemplo, pedir a Deus "o que nem sequer ousamos pedir".
Mas hoje tocou-me uma oração, rezada depois da comunhão, no dia em que se celebra Santo Inácio de Antioquia. A oração reza assim: "Fortalecei-nos e renovai-nos, Senhor, com o pão celeste que recebemos neste sacramento, ao celebrarmos o martírio de Santo Inácio, para que, pelo nome e pelas obras, sejamos verdadeiramente cristãos".
Porquê esta oração neste dia? Santo Inácio de Antioquia faz parte da segunda geração de cristãos. A tradição diz que a comunidade de Antioquia foi fundada por São Pedro. Quando foi para Roma deixou um outro bispo, Evódio e que, a este, sucedeu Inácio. No livro dos Actos dos Apóstolos lê-se que foi exactamente em Antioquia que se chamou, pela primeira vez, aos discípulos de Jesus, de cristãos. A oração evoca esta passagem ao dizer que sejamos pelo nome e pelas obras verdadeiramente cristãos. Atenção: pelo nome e pelas obras. Não basta ter o título, é preciso praticá-lo na vida.
Santo Inácio foi, então, o terceiro bispo de Antioquia. Foi discípulo do Apóstolo João e conheceu São Paulo. Ali consolidou a fé da sua comunidade até que foi preso e levado para Roma, e condenado às feras, daí a representação dos leões à sua volta a devorá-lo. Para Santo Inácio a Eucaristia era a sua força e alento, de tal forma que escreveu também, já no cárcere, que "quero o pão de Deus, que é a carne de Jesus Cristo, da descendência de David; quero a bebida do seu Sangue, que é a caridade imortal". Daí também fazer sentido pedir a Deus que a Eucaristia nos fortaleça e renove, para vivermos sempre e cada vez mais na presença de Deus.
Há 10 anos visitei Antioquia. Visitei o lugar que a tradição indica ser o lugar de oração destes primeiros cristãos. Aí celebrei Missa, na chamada gruta de São Pedro. Mas não menos emocionante foi visitar a comunidade cristã, muito minoritária, que actualmente se resume a 45 famílias. Mas a fé destas pessoas continua. Numa igreja "escondida" num pátio, em cada domingo estes cristãos abrem o portão para alimentar os mais desfavorecidos do bairro. Bem que podem eles hoje pedir a Deus o que nós pedimos na Missa: força e renovação e a coragem de ser cristão pelo nome e pelas obras.

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