Pedir perdão

Lemos no Evangelho um ensinamento de Jesus sobre o perdão: "Se o teu irmão, por sete vezes pecar contra ti e sete vezes vier ter contigo e disser: Estou arrependido, perdoa-lhe."
Hoje o Papa, na Irlanda, ao iniciar o acto penitencial da Missa, pegou numa folha que estava fora do Missal e, em espanhol, pediu mais uma vez perdão pelos vários abusos que ao longo dos anos, religiosos e religiosas acometeram contra menores.
Ao mesmo tempo, um ex-núncio dos Estados Unidos da América fazia sair uma longa carta em que pede ao Papa Francisco que se demita do ofício de chefe da Igreja Católica porque sabendo das coisas não fez nada.
Poucas pessoas como Francisco sentem vergonha, tristeza e pedem perdão como ele o tem feito.
Mas todos sabemos que violência gera violência e Jesus ensinou-nos que o perdão é o travão para os males do mundo e da Igreja.
Hoje o Papa pediu desculpa a Deus e às pessoas porque a Igreja (na qual ele se inclui e o ex-núncio também) não agiu correctamente e a tempo. O Papa fez o máximo que quem tem fé e está arrependido pode fazer: pedir perdão. Não exclui a justiça, que se tem que fazer, mas também não é tempo nem de novas inquisições nem de pedir cabeças em salvas de prata. Que o perdão do Papa seja um sinal claro para com todas as pessoas de que, independentemente de indemnizações ou da justiça que tem de ser feita, devemos também pedir perdão.
Deixo aqui o pedido de perdão, numa tradução livre e apressada, do texto que o Papa rezou, em seu nome, em nome dos abusadores (mesmo se não se arrependeram), em nome de quem encobriu (mesmo se não reconheceu), e em nome da Igreja da qual eu também faço parte:

"Ontem estive reunido com oito pessoas sobreviventes de abuso de poder, de consciência e sexuais. Depois de ouvir o que me disseram, quero colocar diante da misericórdia do Senhor estes crimes e pedir perdão por eles.

Pedimos perdão pelos abusos na Irlanda, abusos de poder e de consciência, abusos sexuais por parte de membros qualificados da Igreja. De modo especial pedimos perdão por todos os abusos cometidos em diversos tipos de instituições dirigidas por religiosos e religiosas e outros membros da Igreja. E pedimos perdão pelos casos de exploração laboral a que foram submetidos tantos menores.

Pedimos perdão pelas vezes que, como Igreja, não soubemos dar aos sobreviventes de qualquer tipo de abuso compaixão, procura de justiça e verdade, com acções concretas. Pedimos perdão.

Pedimos perdão porque alguns membros da hierarquia não tomaram conta destas situações dolorosas e guardaram silêncio. Pedimos perdão.

Pedimos perdão pelas crianças que foram afastadas das suas mães e por todas aquelas vezes nas quais se disse a muitas mães solteiras que iam procurar os seus filhos que lhes tinham sido tirados, ou aos filhos que procuravam as suas mães, que “era pecado mortal”. Isto não é pecado mortal, é quarto mandamento! Pedimos perdão.

Que o Senhor mantenha e acrescente este estado de vergonha e de compunção, e nos dê a força para nos comprometermos em trabalhar para que nunca mais suceda e para que se faça justiça. Ámen."

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