Jardim fechado

Ontem depositámos no claustro do Convento as cinzas de dois irmãos que faleceram. Foi, para mim uma bela ideia trazer para o claustro - lugar de reflexão e de contemplação, de comunhão entre a natureza, a humanidade e Deus -  aqueles que nos precederam e foram nossos irmãos na partilha da fé e do carisma dominicano. Não deve parecer estranho. De fato, as atas de canonização de São Domingos, narram que ele quis ser sepultado no coro, entre os irmãos. No depoimento de fr. Ventura de Bolonha, lê-se: “Ouviu (são Domingos) que o monge que naquela ocasião era reitor da igreja de Santa Maria do Monte dissera que se Frei Domingos ali morresse não permitiria que dali o levassem, mas sepultá-lo-ia naquela igreja. E como a testemunha contasse isto a Frei Domingos, este respondeu: Não quero de algum modo ser sepultado senão debaixo dos pés dos meus irmãos. Levai-me para fora, para eu morrer no caminho, a fim de me poderdes sepultar na nossa igreja”.
Amanhã haverá uma celebração de Vésperas, com ida ao claustro, para rezar por estes dois irmãos.
Bonhoeffer, num livro que escreveu sobre a vida em comunidade, disse que a oração em comum é o ato mais natural da vida cristã comunitária porque, quando rezamos a Deus em comunidade, esta oração deve ser a nossa oração, a nossa oração por este dia, pelo nosso trabalho, pela nossa comunidade, pelas misérias e pecados particulares que pesam sobre todos, pelas pessoas que se recomendaram a nós (Nos próximos dias o Mestre da Ordem publicará uma Carta sobre a celebração comum da liturgia).
Porquê Vésperas e não Missa ou um concerto? A oração de Vésperas é celebrada à hora do entardecer. Ganhou o nome da primeira estrela que anuncia a noite (Vesper). Tem um tom diferente da oração da manhã. Chegamos ao fim do dia, cansados e, no fim do nosso trabalho, paramos para rezar. Lembra sempre a morte de Jesus que entrou na nossa escuridão para a transformar com a sua luz. Ele é a nossa luz.
Também uma das características desta hora de Vésperas é que, a última intenção das preces, está sempre consagrada aos defuntos.
É o que iremos fazer amanhã à tarde. Rezar. Pedir a Deus por nós, os vivos, e lembrar também aqueles que, como é da nossa tradição dominicana, são agora mais úteis no céu do que o foram aqui connosco. Por muito importantes que tenham sido.
E iremos ao claustro. Quisemos que os irmãos desta comunidade, ou a ela ligados, continuassem connosco, num dos sítios mais bonitos deste convento, o claustro. O claustro deste convento une as quatro dimensões da espiritualidade dominicana: oração e pregação, vida comum e estudo. Ao olhar para o claustro recordo dois versículos de dois salmos que lembram a alegria e a pureza que deve brotar da nossa vida: o primeiro, tirado do salmo 133: “Óh! como é bom e agradável viverem os irmãos em harmonia”; o segundo do salmo 91: “O justo florescerá como a palmeira, crescerá como o cedro do Líbano”.

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