Quando a misericórdia tem o sabor de Deus

As leituras deste domingo são de uma grande beleza. Dizem-nos uma verdade que devemos ter sempre presente em nós: Deus não nos abandona. 
Na primeira leitura da profecia de Jeremias Deus diz-nos que cuidará de nós. O salmo diz-nos que ainda que tenhamos de passar os vales mais tenebrosos da vida temos confiança porque Deus está connosco. Na segunda leitura a certeza de que a paz que nós desejamos e devemos promover está em Cristo e é uma paz universal. E no Evangelho, Jesus que se compadece de nós e não nos deixa sozinhos. Deus não nos abandona, Deus nunca nos abandona. 
Na semana passada ouvíamos Jesus no Evangelho a enviar os seus apóstolos. E hoje o regresso. O evangelho está construído em três tempos: o regresso e o convite de Jesus a um tempo de descanso, a viagem para a outra margem e Jesus, que compadecido de toda aquela multidão, começa a ensinar-lhe os valores do Reino de Deus para que sintam Deus sempre próximo. 
 Os apóstolos regressam cansados mas alegres. Prestam contas do seu apostolado. Como dizíamos na semana passada, não vão em nome próprio, não vão anunciar ideias ou opiniões mas foram repetir as palavras e os gestos de Jesus. E Jesus, que no Evangelho de São Marcos é um Jesus que não pára nem descansa, leva os apóstolos para um lugar isolado. Não se trata de fazer aqui a apologia das férias, ou de pensarmos que nas férias podemos descansar de Deus. Mas também todos devemos perceber que tem de haver lugar para o descanso e é saudável que o tenhamos e promovamos. Há diferença entre o descanso e a preguiça. 
Depois passam de barco para uma outra margem. O passar para a outra margem, que muitas vezes nos evangelhos significa ir ao encontro de outras pessoas, desta vez parecia ser afastar-se das pessoas. E de facto mais uma vez o evangelho nos ensina que a outra margem muitas vezes é um desafio. Que as coisas não assim tão lineares, que não há certezas absolutas. 
E finalmente, na outra margem, apesar do planeado descanso, outra vez as multidões, à procura de Jesus e dos Apóstolos. E temos aqui mais uma revelação de Jesus, que mais não é revelação de Deus: a compaixão. Jesus é verdadeiramente o rosto humano de Deus. 
Três verbos que nos aparecem no outro lado da margem, essenciais para quem quer ser discípulo de Jesus: Jesus viu, encheu-se de compaixão, começou a ensinar as multidões. Cada um de nós, cristão, não pode viver fora da realidade do mundo. 
O ver é essencial para depois podermos agir. Um mundo perdido, é certo, em guerras e injustiças, violação de direitos humanos, em políticas que provocam movimentos migratórios, preocupações, desilusões, desânimos… o mundo está perdido mas não condenado. As guerras e as injustiças não são uma fatalidade. Não é obrigatório vivermos angustiados. 
Depois, o discípulo de Jesus tem de ter a mesma compaixão de Jesus. O motivo da compaixão não é porque andaram muitos quilómetros ou porque andam atrás do fenómeno Jesus. O motivo da compaixão é de estarem como ovelhas sem pastor. A compaixão faz o milagre de aproximar e o discípulo de Jesus não pode estar longe das pessoas que procuram. A primeira leitura condenava os pastores porque dispersavam perdiam as ovelhas. Aí dos discípulos de Jesus que em vez de reunir, de aproximar, dispersam e perdem quem de Jesus se quer aproximar. 
E finalmente Jesus detém-se com as pessoas. Também aqui o discípulo de Jesus deve aprender com ele: a parar, a escutar, a dialogar, a transmitir palavras de vida e de paz. É o que se espera do discípulo de Jesus. 
Fiquemos então com estas três atitudes que vemos em Cristo e que Cristo quer ver em nós: ver, compadecer-se e deter-se.

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