São Domingos em Soriano

 

15 de Setembro

Relação da milagrosa Imagem de Nosso Pai São Domingos tirada da Cronologia do Convento de Soriano de um Memorial apresentado à Sagrada Congregação no ano de 1694.
1. Chorando os nossos Religiosos do Convento de Bolonha, à roda da pobre cama de seu moribundo Patriarca, a falta de tal Pai e Mestre, ele movido de compaixão para os consolar lhes disse: Não choreis filhos nem vos moleste a minha ausência porque suposto meu retiro é para vos ser mais útil. Morreu ou para melhor dizer subiu a triunfar no Empíreo pelas escadas que sustentavam Cristo e Maria Santíssima, e lembrado da promessa com contínuas experiências de tantos anos tem feito e faz conhecer quanto é poderoso no Céu e quanto ama a seus Filhos na terra, o que mais que em nenhuma outra ocasião quis mostrar quando à semelhança do Salvador parece nos intentou dizer: Aqui me tendes convosco até o fim do mundo se não transubstanciado nas espécies de pão ao menos retratado em uma celestial pintura trazida a Soriano por mãos da Rainha dos Anjos.
2. Corria o ano de 1510, 219 depois do glorioso trânsito de Nosso Santíssimo Patriarca, e era Mestre Geral da Ordem a grande luz das Escolas Frei Tomás de Vio Caetano, quando por disposição do Altíssimo que com novos prodígios queria honrar a seu fiel servo Domingos, se determinou a fundação do novo Convento da Ordem na terra de Soriano. Achava-se neste tempo no nosso Mosteiro da Santíssima Anunciada de Catanzaro, Metrópole da Calábria, um Religioso superior chamado Frei Vicente de Catanzaro, varão de vida exemplar, o qual estando em oração no mês de Dezembro do dito ano de 1510, lhe apareceu Nosso Pai e lhe mandou fosse a Soriano fundar um Convento da sua Ordem. Mas julgando-se o Religioso indigno deste favor, cuidou que era ilusão do Demónio e não fez caso da recomendação. Tornou o Santo segunda noite e ordenou-lhe o mesmo. Porém, Frei Vicente, persistindo nos seus humildes sentimentos, não se moveu a obedecer pelo que, aparecendo-lhe terceira vez o repreendeu da incredulidade, mandando-lhe que sem demora executasse a ordem. Obedeceu logo Frei Vicente e partindo de Catanzaro chegou a Soriano a tempo que os moradores tratavam da mesma fundação. Sabendo estes o desígnio do Religioso e quem o mandava, o receberam como vindo do Céu, resolvendo-se com fervor à execução da obra. Como a terra de Soriano está dividida em arrabaldes, quiseram que ficasse a casa entre uns e outros para gozarem todos da assistência dos Religiosos e para principiarem a nova fábrica lhe deram uma Igrejinha da Anunciada, a cujo lado estava uma pequena habitação sobre um penhasco. Intentavam os empenhados na fábrica fazer o Convento mais abaixo e no plaino e para final da posse puseram uma Cruz de pau no tal lugar. Porém, como esta casa havia ser semelhante aquela de quem disse o Rei Cantor: Que tinha os seus fundamentos nos montes, apareceu na manhã seguinte a Cruz colocada sobre o penhasco. Imaginou o povo que fora isso obra de algum invejoso contrário à fábrica e tornaram a pôr a Cruz no lugar plaino com guardas à roda. Mas vieram a conhecer não fora a mudança de mão humana sim milagre do Céu porque, sem se saber como, no dia seguinte a viram restituída invisivelmente ao lugar montuoso. Vendo os moradores que a fundação era tão do Céu, tomaram mais ânimo e se aplicaram com todas as forças a ajudar a obra que também o Santo confirmou com milagres. Temiam os experimentados ter cal, porque a pedra do país era incapaz, mas feita a diligencia em nome de Jesus e de São Domingos, deu cal perfeitíssima. Também se sentiam de noite descer do monte com estrondo as pedras para o edifício e se achavam ao romper dia junto à fábrica. Viram também um Religioso Dominico desconhecido levar materiais para a obra e assistir-lhe com semblante angélico; e ainda que nenhum se lhe atrevia a perguntar quem era, todos julgaram que seria o Nosso Santo Patriarca. Cresceu o edifício em pouco tempo e com pouca despesa; e aperfeiçoou-se a Igreja, com algumas celas para os Religiosos, que não passavam de três Sacerdotes e dois Leigos. Adoeceu Frei Vicente e tornando à sua pátria de Catanzaro se suspendeu nos naturais o fervor das esmolas para a continuação do Convento, com que ficou a obra imperfeita até o ano de 1530, quando a Congregação observante das duas Calábrias, separada alguns anos antes da Província de Regno, por Ordem do Geral celebrado em Roma e Breve de Clemente VII, foi levantada em Província. Então achamos religiosos assignados no dito Convento com Vigário ou Superior, vivendo com suma pobreza, observância e grande edificação do povo, pois sendo poucos e estando tão desacomodados se levantavam a Matinas. A esta pobre e Religiosa Comunidade tinha Deus destinado para fazer-lhe o singular favor de dar-lhe por mãos da Imperatriz do Ceu e das suas duas Esposas Madalena e Catarina Mártir o precioso tesouro da milagrosa Imagem de São Domingos de Soriano, o que sucedeu na forma seguinte.
3. Depois de tanger o primeiro a Matinas à meia noite no oitavo dia do nascimento de Nossa Senhora do ano de 1530, foi o Irmão Lourenço de Grotteria, que era Terceiro ou Donato e servia de sacristão, acender as velas do Altar; e viu diante de si ajoelhadas três veneráveis Senhoras cujos semblantes, beleza, galas e majestade infundiam respeito. Pasmado com tal vista o Religioso, não sabia que fizesse, vendo mulheres na Igreja àquelas horas em trajes não usados no país; e isto estando as portas fechadas. Ficou imóvel e extático de temor e assombro. Neste tempo lhe perguntou a que mostrava ser Senhora das mais, a quem era dedicada aquela Igreja. Fr. Lourenço respondeu: A Nosso Padre S Domingos. Tornou a perguntar-lhe: Tendes nela ou no Convento algum retrato do Santo? Não Senhora, disse ele, excepto um mui mal pintado na parede. Tomai este, lhe replicou a soberana Virgem, e levai-o ao Prelado que o ponha no Altar maior; e dizendo isto, lhe entregou uma toalha embrulhada. Atónito o Sacristão, sem lhe perguntar quem eram, foi ter com o Superior, que vinha para o Coro com os demais, e lhes contou quanto tinha sucedido. Repreendeu-o o Prelado asperamente, entendendo ficariam abertas as portas da por sua negligência; mas, dizendo-lhe o Donato que estavam actualmente fechadas, ficou mais suspenso. Soltou a toalha e quando viram a celestial Imagem do Santo Patriarca, prostrados com interior moção, a adoraram; e depois vieram à Igreja a buscar as Benfeitoras; e como não acharam notícia delas, nem ao outro dia por toda terra, cresceu a maravilha. Na noite seguinte, estando em Oração um daqueles Padres, grande devoto de Santa Catarina, Virgem e Mártir, com desejo de saber donde viera o precioso tesouro, lhe apareceu a Santa e o segurou que fora dádiva da Mãe de Deus; e que ela com a Madalena, como Protectoras da Ordem dos Pregadores, tinham vindo em sua companhia. Com esta visão cresceu o afecto e veneração da Sagrada Imagem, vinda de tão soberanas mãos; e contemplando-a com mais atenção, a acharam debuxada na simples toalha de pintura tosca o comprimento de cinco palmos e um quarto; a largura de quatro, escassos: tem na mão direita um livro e na esquerda uma açucena: o hábito não cobre os sapatos; porém, o que mais enleia é não haver pintor, por mais insigne, que pudesse copiá-lo como em si é; sem dúvida, porque como a vida de Nosso Padre S. Domingos foi sem imitação, por singular nas virtudes, assim o é a sua efígie para se retratar. Não se divisa sempre com o mesmo semblante: antes com diverso e conforme a disposição da alma dos que o vêm. Porque a uns se mostra agradável e risonho; a outros grave e triste; umas vezes carregado, outras amoroso. E esta diversidade de semblantes também deve ser a causa de não haver pincel que imite a pintura, tendo-se tirado inumeráveis copias para todo o Cristianismo. Se não é a causa o refluxo dos luzidos resplendores, que o mesmo rosto despede, com que eclipsa a vista dos pintores para o poderem copiar. É tal a sua majestade, que muitos atemorizados arrojaram o pincel. Mas sendo os retratos dissemelhantes do principal, todos convêm na virtude de obrar prodígios como veremos. Pôs o Prelado a celestial Imagem com temor e reverencia no Altar maior por obedecer à ordem da Rainha dos Anjos. Considerando depois que a parede principal a que estava encostada era sujeita a grandes humidades, por causa da água que desce do monte, e se não podia remediar sem excessiva despesa, determinou com conselho dos Padres transferi-la para uma Capela junto à porta e assim fez por segura-la de algum dano. Porém, como as coisas do Céu não estão sujeitas aos poderes do tempo para confirmar esta verdade, na manhã seguinte se achou a Angélica pintura no primeiro lugar em fora posta. Julgou o Superior que esta novidade fora obra do Sacristão e repreendendo-o tornou o retrato à Capela. No outro dia o achou sobre o Altar maior. Pareceu-lhe teima do Leigo e chamando-o tratou-o com aspereza, afirmando ele que tal não fizera. Tomando a si a chave das portas pôs de novo a Santa Imagem na Capela escolhida para a sua conservação e na manhã seguinte a tornou a achar terceira vez no Altar maior. Desenganado o Superior com tão repetidos sucessos, obedecendo ás disposições do Céu a deixou ficar onde até hoje se conserva intacta das injúrias do tempo sem sinal de mancha ou humidade.
4. Para principiarmos a contar os milagres que Deus tem obrado por meio desta pintura nos vemos tão perplexos com o número que julgamos impossível escrevê-los todos pois só um Historiador conta 1584. Outro diz que só no ano de 1614 se viram perto de cinco mil, com advertência de que se não principiaram a escrever senão no ano de 1609. Darão princípio os que foram primeiros. Um oficial, chamado Estevão Schiavelli, de Soriano, andando a fazer um cano para recolher as águas, viu desencaixar do monte uma pedra que correndo velozmente vinha cair sem remédio sobre ele e servir-lhe de sepultura. No meio desta agonia não lhe lembrou mais que invocar o Santo na sua Imagem e ele aparecendo-lhe na mesma forma lhe pegou por um braço e o pôs em lugar seguro, sustentando com a outra mão o penedo. Este tal homem deixou os seus bens ao Convento onde tomou o hábito de Religioso Leigo e passou o restante da vida em serviço do Santo. Estando os Religiosos no Refeitório da mesma casa uma coluna que sustentava a fábrica deu de si e lançou por terra o tecto. Invocaram os Frades o patrocínio da Santa Imagem e quando se julgavam mortos e sepultados debaixo das ruínas se acharam sem perigo algum, nem dos pratos que estavam na mesa se viu um quebrado. Como se admiraram os seculares que acudiram ao estrondo. João Liscio, dos principais trabalhadores que fizeram o Convento, foi assaltado de uma febre tão maligna que em poucos dias o matou. Estando o cadáver amortalhado no meio da casa para o levarem à sepultura, a mulher cheia de fé foi à nossa Igreja buscar o milagroso retrato lembrando-lhe o quanto seu marido trabalhara naquela casa e prometendo-lhe um par de bois se lho restituísse vivo. Caso prodigioso: no mesmo tempo se levantou o defunto como se acordara de grave sono. Quiseram fugir os assistentes e ele os chamou dizendo que não temessem porque São Domingos o ressuscitara a petição de sua mulher. Viveu depois muitos anos com grande exemplo e reforma.
5. Com estes prodígios se abriu porta à devoção dos Fiéis que não só da comarca, mas de países distantes e estrangeiros vêm venerar a sagrada Imagem e admirar os milagres que Deus obra por seu meio. Francisca Branca, moça solteira, estava aleijada de todo o corpo e tinha as mãos retorcidas sem remédio. Fez voto de visitar a celestial pintura e, se conseguisse saúde, vestir o nosso hábito. Foi a Soriano em um carro, no ano de 1609, e entrando na Igreja viu o milagroso retrato brilhante como o Sol e no mesmo tempo estendeu para ele os braços gritando: Glorioso São Domingos sejais louvado! Chegando mais adiante ficou totalmente sã. Outra moça sarou de semelhante achaque só com pôr os olhos na sagrada Imagem e recomendar-se-lhe de coração. O mesmo benefício recebeu Rafael Porcelli, nascendo com os pés e mãos voltados para trás e um moço que tinha aleijado um braço da sombra de hum raio. Restituiu a fala a vários mudos como foi a um cavalheiro de Messina, no ano de 1614. Na Cidade de Cotton, a João Baptista, no ano de 1617. A Branca Bambini no de 1628 e a outros quatro que eram juntamente surdos e um deles aleijado de todo o corpo, os quais apresentados diante da pintura do Céu receberam perfeita saúde. Deu vista a cegos e entre eles a alguns de nascimento. Os enfermos de vários achaques, os moribundos desamparados, já dos médicos e as mulheres livres de perigosos partos, com as que fez fecundas sendo estéreis não tem número. Os mortos ressuscitados à sua vista ou tocados com a cópia do milagroso retrato, entre homens, mulheres e meninos são quase sessenta e alguns defuntos de dias. Aos mortos se seguem os que por meios extraordinários foram livres da morte. Dois irmãos naturais da Cidade de Mazzara, em Sicília, foram sentenciados à morte por fugirem do exército, tendo sentado praça. Prepararam-se as forcas para a execução fora da porta da Cidade. Recorreu a mãe ao poderoso patrocínio da milagrosa Imagem e quando os Ministros iam a executar a sentença se achou a porta fechada de sorte que a não puderam abrir. Estava o Juiz pasmado com os mais Oficiais de justiça, quando de repente apareceu um Religioso Dominico desconhecido que pegando-lhe pela rédea do cavalo o abanou em forma que parecia querer lançá-lo abaixo. Gritou ele, atemorizado, dizendo que soltassem os presos, mas quando foi a fazer-se a diligência os acharam milagrosamente livres das prisões e neste tempo desapareceu o desconhecido Dominico. Outros dois estavam condenados por culpas falsamente impostas; buscando o mesmo recurso do prodigioso retrato conseguiram a desejada liberdade.
6. De precipícios, de eminentes montes, altos muros e profundas cisternas livrou a infinitos homens, mulheres e algumas crianças que invocaram a São Domingos na sua portentosa pintura de Soriano, vendo-se em braços com a morte, porque lhes apareceu com o seu hábito e os socorreu nos evidentíssimos perigos. O mesmo experimentou um menino de cinco anos submergido em um arrebatado rio, pois recomendando os pais a esta oficina de milagres subiu o submergido sobre as águas vivo e sem lesão. Semelhante caso sucedeu a um mancebo que indo experimentar a altura de outro rio se afogou. No mar alto livrou de furiosas tempestades aos seus devotos e trouxe às praias alguns que desconfiados se tinham lançado às ondas, mostrando-os não só sãos e salvos, mas enxutos e sem sinal de naufrágio. Não só no elemento da água, mas no do fogo, obrou maravilhas livrando uns de incêndios e outros de tiros. A muitos, das estreitas prisões nos cárceres e escravidão dos Turcos. Um menino de treze anos, única esperança de seus pais, indo para uma quinta, foi preso por uns salteadores que esperavam dele grande resgate. Vendo-se preso em mãos de gente tão bárbara se recomendou à Santa Imagem, prometendo ir visitá-la. Apareceu-lhe o Santo de noite e disse-lhe que não temesse e o seguisse. Levantou-se animoso e passando por meio dos ladrões que o cercavam foi conduzido à sua pátria. Antonio Giaretta, do Reino de Sicília, estando cativo, tinha um patrão tão cruel que o teve treze anos preso com uma grossa cadeia à maneira de cão. Perguntou-lhe um dia por escárnio se teria quem o livrasse daquela prisão. Ele lhe respondeu que São Domingos de Soriano, seu particular advogado. Assim se verificou porque recomendando-se na protecção do poderoso retrato, o Santo apareceu e o tirou do cárcere a um lugar donde se embarcou para a sua pátria e foi render as graças ao Libertador. Com semelhante recomendação escapou milagrosamente das mãos Mouros Dom Francisco Maria, Duque de Nocera e Conde de Soriano, indo já ferido e tornando a ser assaltado dos mesmos, os viu fugir sem saber quem os seguia, com que pôde tornar à sua galé e voltar para Nápoles a curar-se. Restituiu-se o entendimento a alguns que o tinham perdido de todo sem mais diligência que visitarem esta taumaturga Imagem. À vista dela saíram inumeráveis demónios dos corpos e confessando que não podiam sofrer o domínio daquela pintura que do Céu tinha vindo por mãos da Mãe de Deus e os obrigava a deixarem o que possuíam.
7 Não só se acha nesta milagrosa imagem um remédio universal para todas enfermidades a que está sujeito o corpo, mas também para os males da alma. À sua vista se reduziram inumeráveis pecadores obstinadíssimos e é experiência comuníssima que basta pôr-lhe os olhos para sentir movimentos de contrição e piedade por cuja causa não bastam muitos Confessores para ouvirem as confissões gerais dos penitentes e o Pontífice Alexandre VII, que sendo Bispo de Nardo tinha presenciado tantas maravilhas, no segundo ano do seu Pontificado instituiu um Penitenciário na Igreja de Soriano à maneira dos que há na santa Casa de Loreto, com poder para absolver de todos os casos e censuras reservadas à Sé Apostólica. O Papa Inocêncio XI, de santa memoria, renovou a mesma graça no ano de 1685. Assim como o Santo socorre pontualmente a seus devotos quer também que estes sejam prontíssimos na observância das promessas e muitos tornaram a experimentar a repetição dos achaques por faltarem na satisfação do prometido, conforme se vê largamente no livro em que se faz memória de todos os prodígios que sucedem nesta casa. A mesma eficácia tem o azeite da sua lâmpada para comunicar saúde em todo o género de enfermidades, ainda em casos desesperados. Semelhante virtude se experimenta nas medidas tocadas na prodigiosa pintura, especialmente em febres e partos perigosos como se tem visto em todo Cristianismo. Passando dos racionais aos brutos, até os mesmos touros furiosos abrandam diante do seu Altar e reconhecendo no Celestial retrato o soberano poder, ajoelham e ficam tratáveis e obedientes. Vejamos algumas demonstrações antigas e modernas de estrondosos agradecimentos para se inserirem as mediações desta Imagem de São Domingos. O Papa Alexandre VII uniu à de Soriano uma Capela com as suas rendas e concedeu grandes privilégios aos Prelados desta casa. O Rei Católico Felipe IV deu ao Convento o senhorio do Condado de Soriano e de três vilas vizinhas, mandando-lhe mais uma lâmpada de prata e mil ducados em sinal da sua devoção. O mesmo Rei, no ano de 1660, deu mil ducados para reedificar a Igreja e Convento. O Cardeal de Medicis foi a Soriano em agradecimento da milagrosa saúde e ofereceu duas portas de prata maciça para se fechar a Imagem. O Cardeal Caetano, pela mesma causa, ofereceu um Caliz de nove libras de prata. O Cardeal Doria e o Trivulcio, o Bispo de Geraco testificaram gratificações com grandes ofertas. O Duque de Medina o de Matalone, o Príncipe Filiberto Manuel, o Duque de Montalta, a Princesa Olimpia, parenta do Papa Inocêncio X, obraram por agradecida devoção o que podia executar a mais vaidosa grandeza. Disto há tomos inteiros e tudo isto indica milagres portentosos. O concurso não tem possível expressão. De Moravia, de Cefalù, de Alemanha, de todas as Índias se divisam preciosos votos e rendidos Romeiros. Há procissões de penitentes, que com as costas ensanguentadas entram gritando: São Domingos aplacai a justa ira de Jesus Cristo nosso Juiz: alcançai-nos misericórdia. Quatro Pontífices afervoraram esta Romaria com muitas indulgências. Jejuam-se quinze Terças-feiras com Confissão e Comunhão nestes dias, em veneração do Santo e não se sabe que ficasse frustrada esta diligência em qualquer pretensão. O Papa Alexandre VII concedeu grandes Indulgências a quem executasse esta devoção em qualquer parte da Cristandade com o coração ao menos em Soriano. O ruidoso boato de tantos milagres foi o motivo de que os Reinos de Nápoles e Sicília escolhessem a São Domingos por seu Protector como se vê dos Autos desta escolha. A mesma causa teve Felipe IV para se fazer Protector do Convento de Soriano. Nos nossos tempos se continua a mesma evidência e repetição dos milagres que deixamos de referir porque mal podemos reduzir ao abreviado desta história o que ocupa grandes volumes. Concluamos com dizer que a Imagem segue o seu protótipo: se São Domingos foi um insondável abismo de virtudes, esta sua Imagem o é nos milagres. Se São Domingos enquanto vivo foi o raio destruidor das heresias, quis o Céu enviar à terra este seu retrato para emudecer as blasfémias de Lutero e Calvino contra a veneração das sagradas Imagens. Falta respondermos a uma dúvida: Porquê entregando Maria Santíssima este painel a um Terceiro ou Donato (que é a mais assentada opinião) se pinta sempre este caso, entregando-se a Imagem a um Sacerdote ou Frade do Coro. Respondo que isto não é faltar à verdade da tradição, mas considerar que à data não foi dirigida ao Terceiro mas a toda a Ordem dos Pregadores e esta melhor se representa no Estado Clerical que no de um Terceiro. Além de que o Donato não foi mais que um mensageiro, escolhido para este ministério pela sua grande singeleza, mandando-se-lhe que levasse o recado sem reconhecer o que nela havia de sobrenatural e o entregasse aos Sacerdotes como só dignos de tratarem e admirarem tão soberano mistério. 

(Este relato foi tirado do Agiologio Dominico, vol. III, 1710, pp. 663-66. O único trabaho que deu foi verter para um português corrente, mantendo, porém, a articulação da época.)

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