O essencial é invisível aos olhos
Leio com as mãos. Desde sempre e provavelmente para sempre. Nasci cego e, por isso, vejo com as mãos, com o nariz, com os ouvidos... Vejo para dentro. Por isso, para mim vermelho é calor, verde é frescura, azul é luz, mesmo sem saber o que isso é, branco é nada e preto é tristeza. Para mim as cores são sensações, as paisagens longos corredores, abertos ou fechados, conforme o que se estiver a falar. Mas gosto de ler e de escrever. O primeiro livro que me marcou não o li, ouvi-o. A minha mãe, como qualquer mãe, lia-me histórias de encantar e eu, que vejo para dentro, imaginava a história à minha maneira. E lembro-me do principezinho. Devorei o livro com os ouvidos, quando ainda não sabia ver, e depois com os dedos, numa edição própria para quem, como eu, não lê com os olhos. E acompanha-me a frase talvez mais marcante do livro: o essencial é invisível aos olhos. Esta frase era-me repetida vezes sem conta pelos meus pais, quando chorava, revoltado, por não ser como as outras pessoas. Era...