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A mostrar mensagens de outubro, 2014

O fim dos hábitos

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A senhora que trata da nossa roupa chamou-me à lavandaria para me dizer que um dos meus hábitos estava no fim da vida. Que tinha umas manchas que não saíam nem com nada, que já se estava a desfazer em algumas partes e que, se pusesse lixívia nas tais manchas podia ser pior o tratamento que o benefício. Apesar de o ter herdado já bastante gasto (foi-me oferecido em Roma, há quatro anos, quando estive no Capítulo Geral) era o hábito que mais vestia, por ser de bom tecido e, sobretudo, leve. Mas tudo tem o seu fim, mas o fim deste hábito ainda não. Vou guardá-lo numa caixa, para ser usado na última celebração. Esta semana é de hábitos. Irei a Sevilha tomar parte na tomada de hábito dos noviços dominicanos da Península Ibérica. Dois de Portugal, três de Angola (pertencem à Província de Portugal) e mais três da América Latina. Também eles herdaram hábitos de outros - é assim a tradição - e depois virá o tempo dos hábitos novos, sempre com a esperança de que morra o homem velho e nasça o

Mudança da hora e de ares

No dia da mudança da hora, talvez por habituação do corpo, acordo uma hora mais cedo, a mesma da hora antiga. Mas a brisa que esta manhã traz - a madrugada teve algum nevoeiro aqui no Alto dos Moinhos - é das poucas refrescantes nos últimos dias. Levou-me a Feirão, onde estas brisas suaves são mais frequentes logo manhã cedo e ao fim do dia. E levou-me às minhas primeiras caminhadas aqui no bairro, onde ao passar num vale da estrada das laranjeiras, sentia esta mesma frescura. Senhor, Deus de cada manhã, e desta tão luminosa e agradavelmente fresca, dá paz e conforto aos que andam fatigados com o calor da vida e das preocupações que moem. Que a tua frescura nos acalme e modele. Que a tua paz venha sobre nós, Deus que te revelas na brisa suave que o mundo procura e precisa.

Tutti quanti

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Gosto do Tutti quanti do italiano. "Todos" pode ser uma tradução. Entre as aulas teórico-práticas e a coincidência de ter, em cada semana, hóspedes italianos, tem sido uma mais valia. Tutti quanti. Depois do Sínodo, começou o trabalho dos mais "conservadores" da Igreja: desvalorização e imposição da doutrina. A par da conferência do Cardeal Kasper, a mesma editora faz agora sair uma entrevista do Cardeal-Prefeito da Doutrina da Fé, um dos notórios opositores ao Papa Francisco. Creio que o critério terá sido o da isenção: assim como publicaram o livro do Cardeal Kasper, agora também publicam esta entrevista. Mas ainda vai a procissão no adro. Por cá, nas Jornadas da Família e arredores, diz-se que o Sínodo nada mudou. Já só falta dizer que perderam tempo em lá ir. Faz-me lembrar as atitudes de alguns Bispos quando vieram da primeira sessão do Concílio: que ia ficar tudo na mesma. Depois, o P. Gonçalo Portocarrero escreve mais uma crónica infeliz: Que São J

Preparar retiros

Uma das coisas que tenho vindo a perder ao longo da minha vida de padre são os retiros. Não por falta de convites mas por falta de tempo para os preparar. Mas a alguns tenho de dizer que sim. Pelo bem que me faz. Rezar o tema, prepará-lo, deixar-se levar pela Palavra de Deus e pelas intuições que dela saem, procurar nos livros (evitar ao máximo ir à net excepto se for mais rápido encontrar uma citação) aquela expressão ou aquela ideia que nos ajuda a arrumar e desenvolver o tema que se vai reflectir. Amanhã vou pregar uma recolecção. Uma conferência de manhã, celebração da Missa, conferência à tarde e regresso a casa. Os temas vão ser dois: a dimensão sagrada do tempo e a oração e acção do discípulo missionário. Foi bom voltar a construir um retiro. Não sei que imagem usar, a do oleiro ou a do sonhador, que começa com uma ideia que levam a outras ideias e que constrói. Construir, interior e exteriormente, para que a vida exterior seja cada vez mais pequena e a interior cada vez mais

As questões do Sínodo

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Vai o Sínodo a meio. A primeira parte, mais geral, em que cada um podia dizer o que quisesse (o Papa teve expressões fortes que convidaram à liberdade de expressão pedindo aos Bispos, ao mesmo tempo parresia em falar e humildade em escutar), parece ter sido positiva para todos, conservadores, moderados ou liberais, como alguma comunicação social gostou e gosta de separar. Todos os que se inscreveram para falar puderam fazê-lo e, desta primeira parte, já saiu (não ainda em português) o documento que resumiu o tema e as abordagens que a ele se fizeram. 58 números, sem carácter vinculativo, mostram a grande abertura que o Papa quer dar a esta temática tão sensível e importante como é a da família. Várias vezes se tem repetido o que o Cardeal Kasper costuma dizer: não se trata de mudar a doutrina, trata-se de mudar a disciplina. Esta semana é de trabalhos de grupos. Por línguas, cerca de 20 bispos por grupo, voltam às questões, tentando ser práticos na teologia, na disciplina e na pas

As contas do meu rosário

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Celebra hoje a Igreja, e nós, dominicanos em especial, a festa de Nossa Senhora do Rosário. Especial porque a Ordem Dominicana é mariana. Desde o seu início que a Ordem foi mostrando e passando de geração em geração este carinho que cada dominicano deve ter por Nossa Senhora. Ao longo destes oitocentos anos cada dominicano reconhece esta presença maternal de Maria, de tal maneira que ela é até chamada de "Mãe dos Pregadores". Mas a festa de hoje realça um dos aspectos da pregação dominicana: o rosário. A tradição atribui a "invenção" do rosário ao próprio São Domingos, numa aparição que Nossa Senhora lhe fez, entregando-lhe o rosário - a Bíblia dos pobres - como também ficou conhecido. Cento e cinquenta avé-Marias, o mesmo número dos salmos, em que, por Maria se meditam nos mistérios de Cristo. E nas contas do rosário meditamos também nas nossas contas, o mesmo é dizer, meditamos na nossa vida. As nossas alegrias e preocupações, luzes e sombras, intenções e medit