Creio na ressurreição dos mortos

Quando morri perdi a noção do tempo. Do tempo e do espaço. Não sei onde estou nem que dia é. Depois do meu último minuto apenas senti rigidez. O corpo, como qualquer máquina, deixou de funcionar. De repente tudo ficou duro: as pernas, os braços, o tronco, até os olhos se fecharam. A última coisa foram os ouvidos. Os barulhos ouviam-se cada vez mais longe até que, como se desliga um rádio, assim se desligaram os ouvidos. Já na outra dimensão, comecei a ver em que é que a morte me afectava: o cérebro dizia: perna, levanta-te. E a perna não se levantava. Continuava o cérebro: pulmão, respira. E o pulmão parecia surdo. Tentei todos os membros, tentei até os dedos dos pés, o nariz, e nada. Tudo imobilizado. Para não falar dos olhos. As pálpebras fecharam-se como portas de uma prisão. Pareciam ferro. Não sei se fiquei onde estava, se me levaram para algum sítio... não sei. Estou perdido. Mas não perdi a esperança. Todos os dias, e até várias vezes ao dia, dou ordens ao meu corpo - ordens men...