Um Doutoramento Honoris Causa - Frei Bento Domingues, op

Estive na sexta feira em Braga para assistir ao reconhecimento civil de um homem de Igreja, com pena de que as estruturas hierárquicas da Igreja Católica em Portugal nunca o terem feito. Estarão talvez a juntar dados para o elogio fúnebre. Se assim for, tarde demais.

Mas que uma instituição civil o reconheça como uma figura consensual, de diálogo, de pontes, de pensamento actual e lúcido na sociedade portuguesa, entre crentes e não crentes, e também uma figura nacional e transversal a todos os sectores da sociedade tem mérito e muito. A Universidade do Minho reconheceu-o. E com ela muita gente.

Frei Bento, um homem de horizontes largos, um dominicano em que estudo e pregação se associam para servir à reflexão, um verdadeiro frei, irmão solidário nas situações e aflições do mundo.

Uma figura que nos questiona a nós que lemos e estudamos teologia. Pensar que teólogo é aquele que com títulos ensina teologia ou que repete o caminho feito no passado sem actualizações nem aberturas é um erro dos grandes. Em frei Bento reconhece-se que o teólogo é o que faz teologia, que vê o mundo com olhares de esperança e desafia a Igreja a ir ao essencial, a sair das sacristias e a entrar nas periferias onde Jesus, desde o seu Baptismo, foi e nos chama a ir.

Em frei Bento reconhece-se que sem estudo não há nem teologia nem diálogo possível. Não se consegue uma pregação eficaz que, na espiritualidade dominicana, leva obrigatoriamente à salvação das almas ou, se quisermos, numa linguagem menos medieval, que as pessoas encontrem Jesus e se deixem encontrar por Ele e que descubram a felicidade de viver com Deus e em Deus.
Frei Bento não precisava do Doutoramento. Não se move por estas e outras causas deslumbrantes. Que a sociedade portuguesa, quer por condecorações quer por outras iniciativas o reconheça, é gratificante. Com ele, toda a Ordem Dominicana se alegra e revê. Se pena tenho que a Igreja Católica portuguesa não o tenha ainda valorizado, mais pena tenho que a mesma não se valorize com homens e mulheres que, como ele, construam pontes, pensem e façam pensar.