Arquivos: vida e pregação mendicante

Propus-me, nos próximos dias, a inventariar uns arquivos de um irmão da minha comunidade sobre dominicanismo. São 4 pastas, com muito material interessante para um projecto que os dominicanos de Portugal querem tornar acessível.

Há coisas que não vão caber neste projecto. Porque são tópicos, notas, apontamentos... 

 

Transcrevo para aqui uma nota que este irmão enviou para o provincial da altura sobre o tema da mendicidade da vida dominicana, que foi tratada num encontro europeu. É uma nota com alguns pontos bastante interessantes e lúcidas para compreender a mendicidade das ordens religiosas, e em especial, a dominicana:

1. Na legislação canónica actual têm especial interesse quanto aos mendicantes os cânones 634ss e 1265 do CDC de 1983 que regulamentam o direito de propriedade e disciplinam o princípio de pedir esmola.

2. Desde o Concílio de Trento, em sentido estrito, só os Franciscanos, dos ramos capuchinhos e observantes, são considerados actualmente Ordens Mendicantes.

3. A nossa província está numa situação de total mendicidade, endividada! Mas não é esta situação apenas que se falou.

4. O fr. N. fez uma exposição histórica do começo da Ordem até à proibição de mendigar e à faculdade de possuir bens em comum, não em particular.

5. Segundo as Primeiras Constituições quando os irmãos saem para realizar o seu ofício de pregação, não aceitarão nem levarão ouro ou prata, dinheiro ou presentes, salvo a comida, a manta e o vestuário necessário. Os conventos viviam todos, por vontade do fundador, em regime de mendicidade quotidiana. O que sobrava de cada dia era dado aos pobres.

6. Isto contrastava com a vida reclusa e feudal dos beneditinos  tem uma nova conjuntura social e eclesial, bem conhecida pelos historiadores, no começo do século XIII. A inspiração vem da imitação da vida de Jesus e da "regula apostolica".

7. O fr. N. lembrou, a este propósito, que na Bíblia a riqueza é considerada uma bênção e a pobreza uma maldição. Jesus e os Apóstolos, seguiram outros caminhos, já esboçados em algumas vertentes do Antigo Testamento.

8. Vários lembraram que, perante os modelos económicos e sociais do mundo actual, a pobreza e a solidariedade com os pobres representa uma "contra-cultura" de libertação indispensável - pouca coisa basta à vida feliz! - e permite autenticidade na pregação da "justiça e da paz".

9. A relação entre estilo de vida pessoal/comunitária e a solidariedade com os pobres e as vítimas das transformações económicas e sociais é fundamental. Podemos encher a boca com a causa da "justiça e paz" e viver de forma burguesa, tanto na vida pessoal como comunitária. Queremos ter tudo em nome do apostolado e o apostolado fica à espera.

10. A "pregação mendicante" significa que não somos donos da Palavra - é um dom de Deus - nem dos destinatários. É uma proposta de libertação a partir das pessoas em processo de libertação.

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