Arroz de pato ou pato com arroz?


Escapa à estrutura deste blogue uma entrada sobre gastronomia. Ainda por cima com um tema do qual não sou especialista, mas que tenho vindo a pensar nele: o famoso arroz de pato. Tal e como o conhecemos não o conheci eu na minha infância. Aliás, não me lembro sequer de ver a minha mãe ou a minha avó (as minhas referências na culinária) de o terem feito até vir a moda das camadas de arroz com o pato no meio. O que sim era da minha infância era o pato com arroz. Não era feito em casa: a minha mãe mandava-nos ir buscá-lo ao restaurante “O Cancela”, prato das quintas-feiras. E aquele almoço era um verdadeiro manjar. Levávamos o tacho e a cozinheira colocava no fundo um arroz de forno, solto (e sem haver o famigerado arroz vaporizado), feito com os miúdos do pato e em cima as partes do pato, trinchadas, com pele crocante e cheio de sabor. E na casa dos meus pais era o que se comia com alguma frequência. Fechou o restaurante e acabou-se o pato com arroz lá em casa. Há uns anos, mais ou menos uns 10 anos atrás, estando a família de férias em Feirão, ofereceram-nos um pato. A minha mãe, afoita, lá se encarregou de o matar e depenar e de fazer arroz de pato. Eu fiquei surpreso com a iniciativa. Pato com arroz não poderia ser porque não chegava para todos e arroz de pato seria a primeira vez. Pus-me à espreita e a admiração deu-se quando a minha mãe começou a fazer o arroz de pato no alguidar de barro que vai ao forno. Lá fez o arroz e, quase no fim, misturou o pato e, antes de o meter no forno lá colocou umas rodelas de chouriça. Perguntei-lhe porque é que não tinha feito em camadas ao que ela, olhando para mim, com um olhar quase “incomodado” com a pergunta, me respondeu: “e achas que antigamente havia tempo para andar a fazer arroz de pato às camadas? Já haver pato era uma festa!”. Mistério desvendado. Afinal não era pato com arroz, nem arroz de pato nem na sua versão desconstruída, como agora costumam chamar aos pratos desarranjados. Era arroz de pato feito à pressa porque a vida dos pobres e do campo não de prestava a grandes perdas de tempo em fornos e fogões. E eu passei a fazer o arroz de pato assim, sem usar o bendito arroz vaporizado, fiel à receita da minha mãe e ao alguidar de barro preto, que faz toda a diferença.

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