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A mostrar mensagens de outubro, 2012

Ossos de Santo

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Huesos de Santo é o que se come por estes dias em Sevilha. São doces, com formas de ossos, como por exemplo as nossas tíbias, que se comem para festejar o dia de todos os santos. Vendem-se em quase todas as pastelarias, embora os mais conhecidos sejam os da Campana, com montra alusiva e tudo, ou os do Corte Inglés, que tem sempre de tudo. Hoje, aqui no convento, os ditos huesos foram regados com vinho do Porto, que trouxemos de Portugal. Quando venho a Sevilha, e tenho tempo livre, dou sempre as minhas (mesmas) voltas: ir à catedral, à missa canonical, em latim, com os ofícios e órgão. Depois passear pelas mesmas ruas, as de sempre, parando aqui e ali, entrando numa loja ou numa igreja, recordar o que não consigo esquecer. E estar no convento. Sentir-me em casa, à vontade, falando dos assuntos da mesa, hoje ao jantar de um filme/documentário que se estreou aqui no Convento: lo conocido por conocer. Um filme de promoção vocacional, que nasceu da ideia dos frades mais novos, de gr

Sevilha, mais uma vez

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Estou de partida para Sevilha. Mais uma vez. Sevilha não me cansa. É sempre com prazer e alegria que regresso à cidade das maravilhas onde vivi um ano, no meu noviciado. Vou a acompanhar o P. Provincial, que tem lá uma reunião de provinciais. Pela minha parte, aproveitarei para revisitar os sítios que mais gosto. No dia de todos os Santos, estaremos na celebração da tomada de hábito dos quatro noviços das províncias de Espanha. Parto num dia importante para o convento e, emocionalmente, para mim: o sétimo aniversário da dedicação da igreja do Convento. Emocionante pelo que se construiu como beleza arquitetónica e pelo que se constrói pela beleza da comunidade que aqui se tem vindo a formar e também pelo número redondo: sete anos. Na bíblia, o número sete é o número da perfeição. É dia de dar graças a Deus por esta sua casa onde a Igreja se reúne para partilhar a sua fé, escutar a sua palavra e celebrar os seus sacramentos. Se puder escrevo desde Sevilha. Orate pro me.

Lágrimas de Nossa Senhora

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A paróquia de Marvila inaugurou, há poucos meses, no seu centro paroquial, um jardim bíblico. Visitei-o há um mês, com surpresa pelo bonito que está e bem cuidado, graças à D. Elvira, que é quem se ocupa dele. Editou-se também um pequeno opúsculo com a indicação das várias árvores e plantas. A Dona Elvira fez-me, na altura, uma visita guiada pelas videiras, trigo, palmeiras, oliveiras e roseiras, figueiras com bons figos, que depois são vendidos e o resultado da vesnda reverte para as obras da igreja. E mostrou-me um pequeno arbusto que tem por nome "lágrimas de Nossa Senhora". São umas bagas cinzentas das quais se podem fazer terços. E ela fá-los. Sem qualquer lucro, vende-os a seis euros e o dinheiro reverte igualmente para as obras da igreja. Pedi-lhe um na altura mas ela disse-me que me oferecia, mas já com as novas bagas, que se poderiam colher em meados de Outubro. Ontem chegou-me às mãos. Um terço feito com lágrimas de Nossa Senhora. A primeira vez que passar estas

A oração Colecta da Missa

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A primeira oração das Missas tem o título de Colecta. Chama-se assim porque é a oração do presidente da celebração que recolhe as orações dos que estão a celebrar a Missa. No Missal vem a indicação de que entre o Oremos e a oração propriamente dita deve haver um momento de silêncio para que cada um, no seu coração, faça a sua oração a Deus. Depois, então, o presidente faz a colecta das orações com a oração que vem indicada no Missal. A oração colecta deste 30ª semana do Tempo Comum pede a Deus que nos aumente a fé, a esperança e a caridade porque para merecermos alcançar o que Ele nos promete, devemos amar o que nos manda. É uma oração pequena, mas que pede humildemente a Deus aquilo que só Ele nos pode dar: a fé, a esperança e a caridade. Nesta semana, como já escrevi, preguei um retiro sobre a Fé. Não me fiquei só na fé porque precisamos também da Esperança e da Caridade para que a nossa fé seja, perfeitamente dom e virtude. Ontem fui pregar uma recoleção (dia de retir

Um dia que podia ter passado despercebido

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Hoje é um dia importante da minha vida espiritual e dominicana: faz hoje 14 anos que tomei hábito, no convento de São Tomás de Sevilha. Não me lembrava da data. Mas, uma amiga, bem cedo me lembrou. Enviou-me um email com o título "Um dia especial na vida do fr. Filipe". Confesso que o abri com curiosidade não tendo associado o mail à efeméride. Fiquei contente com o mail e com o lembrete. Já lá vão 14 anos. Este dia, que iria certamente passar despercebido aqui em Fátima, e até para mim, acabou por  ser um dia comemorado. Pela minha parte, antecipei a oferta e um santinho de São Domingos que ia entregar no fim do retiro. Mas as minhas queridas Noelistas trataram de arranjar um bolo comemorativo. Depois do jantar lá me fizeram esta surpresa, bem como a oferta de paramentos para os dominicanos que, em Janeiro próximo, irão para Timor. Elas são queridas não só pelo bolo mas pelos detalhes, pela dedicação, pela bondade, pela simpatia, pela alegria e pela naturalidade e dis

De novo em Fátima

Cheguei esta tarde a Fátima. Venho pregar um retiro de três dias às minhas queridas Noelistas. Se não é já o quarto ano é, de certeza, o terceiro. As instalações fazem-me lembrar os tempos idos do Seminário de Penafirme. Não é queixa nem crítica nem nostalgia. É só sensação. O tema do retiro foi encomendado: "O ano da fé". Uma vez pediram a um padre que fosse pregar um retiro a uma comunidade. Que ele lhes falasse da fé, que a superiora achava que as irmãs andavam fracas de fé. O pregador passou os dez dias de retiro e ler-lhes o Catecismo! Eu não vou ser tão radical mas vou fugir da tentação de falar da fé teórica. Há perguntas que nos temos de fazer: Que seria da fé sem a esperança e a caridade? Que seria da fé sem obras? Como caminhar à luz da fé? Que exemplos de fé podemos ver na História dos crentes? Vai ser por aqui que me vou mover. Assim Deus me ajude, como diz Sao Tomás de Aquino, na sua oraçã o ao Espirito Santo, a obter a salvação das almas e a minha própria s

Noites sem nome

Noites sem nome, do tempo desligadas, Solidão mais pura do que o fogo e a água, Silêncio altíssimo e brilhante. As imagens vivem e vão cantando libertadas E no secreto murmurar de cada instante Colhi a absolvição de toda a mágoa. (Sophia de Mello Breyner Andresen)

Santo Inácio de Antioquia

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A Igreja celebra hoje o martírio de Santo Inácio de Antioquia. E pelas cartas que escreveu, sobretudo a do Oficio de leituras, que nos é oferecida hoje na Liturgia das Horas, gostava de falar da relação que ele faz entre o martírio e a Eucaristia. Todos sabemos que o mártir é aquele que dá testemunho. A palavra mártir não significa aquele que sofre mas sim aquele que testemunha. E, para nós, cristãos, o mártir é aquele que testemunhou até ao fim, o que se entregou até ao limite, por amor a Cristo e ao seu Evangelho. Santo Inácio escreve as suas cartas a caminho de Roma, a caminho do seu martírio. Um dos fortes apelos é à unidade dos cristãos. É uma constante. E, para Santo Inácio, esta união é realizada de modo perfeito pela e na celebração da Eucaristia. Na carta aos Filadélfios, exorta-os a tomar parte numa só Eucaristia, porque também é só uma a carne de Jesus Cristo, um cálice para a união com o Seu sangue, e um altar, com o bispo que é o garante da unidade eclesial. A E

Aonde os caminhos nos levam

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Já em Lisboa, a curar-me de duas grandes bolhas que me acompanharam ao longo dos meus cinco dias de caminhada a pé para Fátima. Teria sido mais interessante fazer uma pequena crónica em cada dia. Mas, ainda assim, deixo aqui algumas notas sobre estes dias a pé.   1. No primeiro dia fiz 27 km. Lisboa-Vila Franca de Xira. De mala às costas, comecei na estação do Oriente, percorrendo o primeiro dia, as indicações do "Caminho do Tejo". Ir acompanhando o Tejo, na medida do possível, dá-nos a frescura e tranquilidade próprias de uma manhã. À minha frente um frade franciscano conventual, anónimo como eu, lá vai também trilhando o mesmo caminho. O Tejo, o trilho do rio Trancão são ambientes para rezar Laudes e o Rosário. No fim da caminhada tempo para descansar as pernas e ver as amigas bolhas. No final da tarde, Vésperas, em união com a Igreja.     No dia seguinte, segundo troço: Vila Franca de Xira-Cartaxo. São 32 km. Os pés doem, as bolhas fazem-se notar, mesmo co

A caminho de Fátima - 5º dia

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Quando nos dispomos a andar, uma peregrinação a pé, por exemplo, há dois caminhos a percorrer: um que nos faz sair para ir ao encontro de Deus e outro que nos fez entrar em nós mesmos. Os dois são penosos mas valem a pena serem percorridos.

A caminho de Fátima - 4º dia

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“A existência humana é uma longa peregrinação de utopia em utopia, de santuário em santuário, em busca de um lugar não conquistado, da gratuidade fundadora e da comunhão como fonte do ser.” ( José da Silva Lima )

A caminho de Fátima - 3º dia

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"É graça divina começar bem. Graça maior é persistir no caminho certo. Mas graça das graças é nunca desistir." ( D. Helder Câmara )

A caminho de Fátima - 2º dia

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"Mesmo que já tenhas feito uma longa caminhada, sempre haverá mais um caminho a percorrer." ( Santo Agostinho )

A caminho de Fátima - 1º dia

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“Por graça de Deus sou homem e cristão, pelas minhas acções grande pecador, por condição um peregrino sem tecto da mais humilde espécie, que vai errando de lugar em lugar. Os meus haveres são um saco às costas com um pouco de pão seco, e uma Bíblia Sagrada que trago debaixo da camisa. Nada mais tenho”. ( Início dos Relatos de um peregrino Russo)

Fim dos festejos

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Venho do Porto. Saímos de madrugada e chegámos agora de um Colóquio "dominicano" para lembrar os cinquenta anos da presença dos dominicanos em Portugal. Foi um bom momento de aprofundamento histórico e teológico, nas suas várias vertentes, da nossa presença em Portugal. Infelizmente, talvez por ainda ser ou me considerar novo, estas evocações só falam do passado. O que se fez, onde estavam, como fizeram, quantos eram, que casas havia e onde é que estavam há cinquenta anos atrás. Os verbos são usados no pretérito passado, num jogo de pingue-pongue entre o lembras-te e o recordas-te... Talvez por ainda ser ou me considerar novo, sinto a falta de uma voz do presente, do agora, que diga o que fazemos e quais os desafios para o futuro. Parece que o presente não existe ou não conta. Qee o bom que se fez está só na memória do passado. Deixar para as próximas celebrações do centenário (2062) é voltar ao passado, com as fotografias e documentos dos que vivem agora o presente. Ma

São Francisco de Assis, pobre de Cristo

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Hoje fui celebrar Missa a Marvila. Tirei esta fotografia de São Francisco de Assis, que se encontra na Sacristia. Quase todos os anos escrevo sobre São Francisco. É dos santos que apetece falar, embora muito da sua vida fique muito pelas "Florinhas de São Franscisco", pequenos episódios, secundários, reais ou com fundo real, que explicam a outra vida dos Santos. Mas é destas florinhas que conhecemos a sua vida: a conversa com o lobo, com os pássaros, a sua vida evangélica, pobre de Cristo que é o mesmo que dizer rico de Deus. Uma bonita tradição, que ainda se conserva em algumas cidades, consiste em que os domincanos e francicanos se convidem nos dias dos seus santos. Ou seja, no dia de São Domingos o prior dominicano convida o prior dos franciscanos para pregar na Missa e almoçar com a comunidade. O mesmo no dia de São Francisco: o prior franciscano convida o prior dominicano para pregar na Missa e almoçar com a comunidade. Infelizmente em Lisboa, como prior, nunca consegu

O Anjo da guarda

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Coitados dos anjos que estão nas igrejas. Sempre ocupados. Ou a sustentar uma coluna ou a pia de água benta, a incensar ou a segurar alguma vela, lá estão eles, rechonchudos, rosados, meio desnudos, com uma faixa de tecido a tapar aquilo que não têm. Bem diferentes são os nossos anjos da guarda. Esses não são nem estão estáticos. Bem vestidos, esguios, de cabelo comprido, delicados, olham por nós. Não nos controlam; acompanham-nos. São aqueles que Deus nos deu para que a nossa vida ficasse protegida dos laços do mal. Pode parecer uma ideia pueril mas não é. E, se calhar deviamos estimá-los mais. Como estimamos um amigo ou alguém que gostamos muito. E falar-lhe, confiar-lhe a nossa vida e as nossas ações e, porque não, as nossas preocupações? Eu tenho devoção ao Anjo da Guarda. Não é um mágico e eu não sou uma marioneta nas suas mãos. Somos amigos e isso basta. (Imagem: Tobias e o Anjo, Jacek Malczewski, séc. XX)

Sinal de aterragem

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Estou em contagem decrescente. Termino dentro de dias o segundo mandato de prior deste convento, ao qual, juntando outros três e mais uns meses dá um total de seis anos e quatro meses. Hoje foi dado o sinal de aterragem. Sabem, quando estamos a viajar e damos conta daquela diferença no vôo, que nos mandam apertar os cintos e aquela voz simpática nos diz: "Senhores passageiros, vamos aterrar no aeroporto tal, pedimos que coloquem os vossos cintos e endireitem as costas das cadeiras?" É o que sinto acontecer. Hoje apresentei à Comunidade o meu relatório de final de mandato. Mandam as nossas leis. Por assim dizer, o último ato oficial. Relatório lido, contas aprovadas, pouco trabalho deixado a meio... e boa tripulação, claro. Agora é aterrar, descansar os motores, mudar a tripulação e seguir viagem como passageiro, ocupar a cadeira 9 A, para ficar do lado da janela e seguir viagem. (Fotografia que tirei no avião, na minha última viagem de Roma, ao chegar a Lisboa)

Memórias de um neto

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É verdade que por detrás de um (grande) homem está sempre uma grande mulher. Eu, apesar de não ser um grande homem, tive uma grande mulher, a quem devo quase tudo, desde o meu nome até à minha ordenação. E não é a minha mãe mas sim a minha avó, que morreu há 10 anos e, se fosse viva, teria 77 anos. Sim, é verdade. O meu nome foi ela quem o escolheu: José, o nome do meu avô/padrinho, e Filipe, por causa de um padre de Feirão que, segundo dizem, era muito generoso para com os pobres. Com este nome fui batizado, os meus avós foram os meus padrinhos, e foram-no de facto. Ofereceram-me no dia do batismo um fio de ouro com uma cruz e uma medalhinha também de ouro com a inscrição "Lça dos padrinhos", que conservo e uso. Foi graças à minha avó que perseverei, foi graças a ela que senti o icentivo de ir para o seminário e, depois, para os dominicanos. Um cancro começou a miná-la. Primeiro no útero e, quando se deu conta, nos intestinos. O tempo da sua doença foi um tempo santo para