Esse homem és tu!

Na Missa diária temos vindo a ler na primeira leitura passagens do Antigo Testamento, em especial nesta semana o ciclo de David. Ontem escutámos a paixão assolapada do rei David por uma mulher casada, Betsabé. Queria envolver-se com ela, mas sendo casada havia um pequeno empecilho, o marido Urias. Mas há gente que acha que os meios justificam os fins. Lá conseguiu deitar-se com Betsabé, que engravidou, o marido veio a saber e David, para o despachar, como Urias era soldado, coclocou-o na frente da batalha, com a indicação de que não o socorressem se ele fosse ferido porque ele queria que Urias morresse.
Alguns poderão pensar: como é que a Bíblia relata uma coisa destas? Pois é, é a história humana. Nós, humanos, somos às vezes como o rei David: fazemos tudo o que está ao nosso alcance para chegarmos aos nossos objectivos, nobres ou nem por isso.
Mas a história não acaba aqui e hoje escutámos a segunda parte: Deus manda o profeta Natã ir ter com David para lhe pedir contas da asneira que fez. E Natã conta uma parábola ao Rei David para que ele desse o seu parecer: Havia dois homens, um rico e um pobre. O rico tinha muitas ovelhas e o pobre só uma. O rico deu um jantar a um amigo e, em vez de matar uma das suas ovelhas, foi a casa do pobre, tirou-lhe a única ovelha que tinha, aquela ovelhinha que "crescera junto dele e dos seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do seu copo e dormindo no seu seio; aquela ovelhinha era para ele como uma filha" (citação da Bíblia). O rei David indignou-se e disse que esse rico devia morrer. E Natã, tranquilamente, diz-lhe: Esse homem és tu!
David cai em si, reconhece o mal que fez, arrepende-se mas o arrependimento não consegue dar vida a Urias.
Moral da história, e por isso aqui a trago: ter um amigo é das maiores riquezas que uma pessoa pode ter. Um amigo a sério, não aquele que está sempre bem disposto e nos ampara as jogadas... Mas um amigo como Natã, que foi capaz de dizer ao rei que tinha feito uma coisa horrível, ao tomar para si a mulher de outro homem e depois despachá-lo sem dó nem piedade. Um amigo que seja um espelho, onde nos confrontamos. Um amigo que não deixa de gostar de nós mas tem a honestidade de nos chamar à razão e de nos dizer que não somos os donos do mundo e que o bem é bem e o mal é sempre mal.
O amigo tem nas nossas vidas, uma dupla missão: ajudar-nos e aconselhar-nos para o nosso bem e chamar-nos à atenção quando fazemos o mal.
E quem acha que a história de David não devia estar na Bíblia, leia os jornais e veja como se portam os grandes deste mundo: sempre a cobiçar a ovelhinha do mais pobre. Pena é que quem faz o mal desta maneira não se deixe corrigir pelos Natãs que lhes vão aparecendo no caminho.

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