Vida Consagrada: exigências cristãs

 

A vida consagrada é um dom. Não é um estatuto melhor ou superior a todos os outros estados de vida na Igreja. Não somos melhores. Na Igreja cada um é chamado a realizar a sua vocação e enriquecer a Igreja com o seu testemunho de vida que será sempre a melhor maneira de aproximar as pessoas de Jesus. Como dizia São Paulo, vivermos unidos ao Senhor, casados, solteiros… como optámos ou como acabou por acontecer. 
Gostava de reflectir, a partir das leituras deste domingo, três atitudes que são pilares da vida consagrada. 
1. Coerência de vida. Jesus é duplamente admirado pelo que diz e pelo que faz. Admirado e comparado: fala com autoridade e não como os escribas. A autoridade reconhecida em Jesus não lhe vem da classe social ou religiosa: Jesus não era rico nem da classe sacerdotal. A autoridade de Jesus vem da coerência entre a maneira de viver e a sua pregação em palavras e milagres. Só um Jesus pobre poderia chamar bem-aventurados os pobres em espírito, só um Jesus misericordioso poderia proclamar bem-aventurados os misericordiosos, só um Jesus não violento poderia dizer em alta voz felizes os mansos, só um Jesus consolador poderia declarar bem-aventurados os que choram. Jesus não faz marketing de Deus… Jesus mostra o verdadeiro rosto de Deus, tão desfigurado pelo discurso atrasado e bafiento dos sumos sacerdotes, escribas e fariseus. 
2. Compromisso. Os consagrados, à semelhança de Jesus, estamos profundamente comprometidos com a Igreja e com o mundo. Comprometidos com uma Igreja em diálogo e não divorciada com o mundo, com uma igreja que ajuda o mundo. Na Igreja e em Igreja, comprometemo-nos a viver à maneira de Jesus, na simplicidade, em pobreza, vivendo os conselhos evangélicos de obediência, castidade e pobreza. Não são proibições, são opções. Assumimos o estilo de vida de Jesus, preocupando-nos com as coisas de Deus, em agradar-lhe. Em exclusivo. E estamos comprometidos com o mundo. Somos chamados a ser no mundo semeadores da semente do Reino de Deus. Foi a causa de Jesus, é a nossa causa. Trazer para o mundo, pela nossa forma de vida, pela nossa pregação, pelos nossos apostolados, o Reino de Deus que Jesus veio mostrar. Muito concretamente, assumindo a atitude libertadora de Jesus. Não estamos a ser colaboradores de Jesus se apresentamos uma Igreja que rejeita, que aprisiona, na qual não sentimos a vida de Jesus. Jesus teve palavras libertadoras e todos os seus milagres foram também eles libertadores. Nós, consagrados, estamos profundamente comprometidos com Jesus numa Igreja libertadora e num mundo que precisa dos valores do Reino de Deus. 
3. Voz profética. Todos nós, pelo baptismo, estamos configurados com Cristo, sacerdote, profeta e rei. Muitas pessoas do tempo de Jesus começavam por achar que ele era um profeta e depois concluíram que era mais que um profeta, que era o Messias. Nós, consagrados, a começar pelo nosso modo de viver (pobre, humilde, discreto, desprendido de bens e pessoas, como Jesus exigia e Paulo pedia) e depois pelo nosso modo de estar no mundo temos uma missão, não política mas profética. Que significa por um lado denunciarmos as injustiças que se promovem no nosso mundo (as guerras, os extremismos, a não igualdade de todos os seres humanos, a falta de dignidade do trabalho humano, o modo como se maltrata a vida humana, não só nas questões de aborto ou eutanásia mas também nas questões de trabalho, habitação, educação, saúde, cuidado do meio ambiente…)… poderíamos pensar que isto é política mas não. É a falta dela. E cá está a Igreja não a fazer campanha pelo partido A ou B não a criticar a esquerda ou a direita, mas a denunciar um mundo doente que precisa de se ir recuperando. E, por outro lado, sermos voz de quem não tem voz. Quantas vezes, em lugares de missão, em lugares onde ninguém quer estar está a Igreja, como Jesus, por palavras e por obras, a ser voz dos que não têm voz. 
Agradeçamos a Deus o dom da vida consagrada na Igreja. 
Agradeçamos a Deus estes homens e mulheres, monges, monjas, frades, irmãs de vida apostólica que de uma forma tão discreta e modesta são no mundo presença de Jesus e da sua Igreja. 
E que cada um de vós, saiba não só agradecer a Deus este dom, mas também tenha a capacidade de ajudar, colaborar, com a presença, com a oração e também com o apoio da caridade. 
Que assim seja.

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