Os meus trabalhos

Tinha pensado num outro título para este blogue: ou "Os trabalhos de Hércules" ou "Os trabalhos de Penélope". Mas nem um nem outro se aplicam ao meu caso, pelo menos diretamente. Mas a ideia é a mesma: trabalhar sem parar.
E aqui estou como a Penélope: ando num sarilho. Claro que estou a jogar com a palavra que tem muitos significados. Poderia ser o mais comum: estar metido numa embrulhada, mas o sentido que lhe dou é o mais original: um sarilho é uma espécie de dobaboira que enrola os fios para fazer uma meada e, a expressão aqui é mesmo esta, andar num sarilho, numa roda viva.
Os meus dias passam como os de Job - como uma lançadeira num tear - não pela doença ou pelo sofrimento, mas porque passam rápido e o trabalho pouco se desenvolve. Este ano de 2012, em que cortei bastantes atividades, para estar disponível para algumas atividades internas da Ordem, tem-se mostrado bastante apressado.
O que tenho andado a fazer não é nada do outro mundo. Na verdade, passo a maior parte do dia no quarto, de onde saio para algum trabalho que faz parte da rotina, algum assunto do convento para resolver ou para as refeições. No quarto estou entregue a um trabalho de tradução do Missal da Ordem dominicana. A edição típica está em latim e, cada província, a partir deste protótipo deverá traduzir para a sua língua e adaptá-lo à sua realidade. E é nisto que estou. Este trabalho teve um primeiro empurrão há 7 anos atrás, quando traduzi as orações dos nossos santos, mas agora impõe-se uma edição de altar, até porque estamos a comemorar os 50 anos da restauração da nossa província.
Não me julguem um latinista de primeira. De latim tenho na bagagem dois anos desastrosos em que nas aulas só se ouvia o professor a ler, traduzir e falar latim. Por isso, o latim da universidade de pouco me vale neste trabalho. Mas o latim da liturgia é bastante acessível. E como estou coadjuvado pela tradução francesa e, nalgumas coisas, com o Missal Romano em português, apesar de demorado, a coisa vai. É uma questão de embalo. Pessoalmente dá-me prazer este trabalho, apesar de moroso. Percebe-se que os dominicanos têm uma forte tradição litúrgica (até ao Concílio Vaticano II tínhamos um rito próprio) e que há gestos, sóbrios, mas de uma riqueza simbólica muito grande
Este Missal tem 6 partes. Se Deus quiser, amanhã acabo a segunda que, com a primeira parte, que são as introduções, foram as mais complicadas. Depois seguem-se mais três de copy-paste (são copiadas na íntegra do Missal Romano) e só fica a faltar o que fiz há 7 anos, com uma grande revisão e alguns acrescentos.
Entretanto, começam também agora os preparativos para o encontro de Provinciais dominicanos, cá em Portugal, na semana depois da Páscoa. Sou o secretário. Depois da convocatória começo agora a recolher as inscrições e a organizar a logística.
E assim vão passando os dias. Entretanto, à margem ou como ruído de fundo, vamos ouvindo falar de crise e de pieguices (o Presidente da Republica e o Primeiro Ministro fazem cá um dueto!), para não falar do polémico Carnaval. Mas isso é outro samba.
(Esta fotografia foi tirada em Roma. É de uma página do "Protótipo de Humberto de Romans", um livro do século XIII [1246] que contém a primeira coleção de livros litúrgicos dos dominicanos)

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