A grande vitória da Igreja Católica

A princípio não li mas depois voltei a trás e tive que ler. O artigo opinião de Fernanda Câncio, no DN de domingo passado. O título que deu ao artigo foi: A grande derrota da Igreja Católica. Aliás, creio que a religião que ela pratica é a anti-católica. Não me vou demorar na explicação do artigo porque não vale mesmo a pena ler. Para verem o estilo, ela faz o elogio das filhas, mães e avós que, apesar das proibições e penalizações, decidiram abortar:"Pensem na coragem dessas mulheres - as nossas avós, as nossas mães, as nossas filhas. E pensem que perante essa coragem, esse desespero, essa determinação, houve décadas de decisores políticos, médicos e clérigos a dizer que não era assunto, que não tinha importância, que estava bem assim". Parece-me surreal. Segundo o seu pensar, a minha avó (e muitas outras avós, mães e filhas) foi tudo gente infeliz, desavergonhada, inculta e fraca porque que tiveram muitos filhos e, apesar do número, o aborto foi sempre uma não-opção. Glória seja dada a quem aborta e pena de quem quis ter filhos.
Fernanda Câncio não percebe que mesmo que não seja possível penalizar o aborto (alguém que lhe diga que a Igreja Católica nunca promoveu o aborto mas sempre o perdoou, mesmo quando as leis do Estado penalizavam quem cometia este crime) não se deve promover nem se devem erigir estátuas e loas a quem o pratica.
Fernanda Câncio deveria perceber que quando se fala em despenalização do aborto, não se quer dizer que passa a ser uma boa acção. O que se quer dizer é que, no passado, uma má acção era penalizada e que agora, uma má acção deixa de o ser. Mas não deixa de ser uma má acção.
Fernanda Câncio não percebe que a Igreja Católica não é um partido político mas que se pode (e deve) meter na política. E deveria perceber que assim como ela defende umas ideias, qualquer outra pessoa ou grupo não está obrigado a comungar delas e pode divergir. Devia perceber que a Igreja Católica, ao contrário de muita gente ligada à política e até dos partidos políticos, não se move por votos ou sondagens mas sim por dignidade da vida humana. 
Fernanda Câncio devia ter só um bocadinho de humildade para perceber que a Igreja Católica só é derrotada quando se deixa instrumentalizar por partidos políticos e quando faz da religião uma ideologia (graças a Deus não o tem feito). Fernanda Câncio devia reconhecer que a grande vitória da Igreja Católica é que, apesar dos referendos e das despenalizações, continua a acolher e a acompanhar tantos casos de pessoas que ficam traumatizadas depois de um aborto (sei do que estou a falar), e que não vão falar com uma deputada nem sequer com um psicólogo. Quantas vezes a Igreja Católica, com ou sem clérigos, foi o conforto de quem passou por situações destas!
Fernanda Câncio devia ter um pouco de moral (mesmo da não católica) para reconhecer o imenso trabalho que a Igreja Católica desenvolve junto das pessoas mais carenciadas da nossa sociedade. E não o fazemos por votos, fazemos por amor ao próximo, próximo este que reconhecemos desde muito pequeno, ainda no ventre da sua mãe, passando pelos desempregados, pelos injustiçados, pelos doentes, abandonados... sem-abrigo. Fernanda Câncio ainda não percebeu que todas estas pessoas não vão à Assembleia da República buscar alimentos, dinheiro, pedidos de ajuda, mas que batem à porta das instituições religiosas, cristãs, e grande parte delas católicas?
Fernanda Câncio não devia ser agradecida a quem faz o bem e suporta tantas vezes os erros dos políticos e das políticas. Devia perceber que a Igreja Católica está. Está sempre para o bem e nunca para o mal. E o aborto é um mal, o desemprego é um mal, a corrupção é um mal, as más gestões politicas e partidárias são um mal, a falta de atenção aos mais abandonados é um mal, a eutanásia é um mal.
Fernanda Câncio tem tido uma agenda anti-penalização muito cheia. Agora é a da eutanásia... mas se calhar, prioritária, prioritária, seria a da despenalização da corrupção. Iria ter muitos apoiantes.
Mas Fernanda Câncio acerta numa coisa que escreve. Diz ela, com glória, que na noite do referendo, no Altis, ela disse: "Este sim não é o fim, é o princípio". E foi: o princípio do fim. Como ela se acha agora a embaixadora das causas despenalizadas ou em via de o serem, agora está na eutanásia. Outro engodo, que ela conhece bem. Mas a Igreja Católica estará lá, mesmo com a eutanásia despenalizada, não para condenar mas para dar conforto, para aliviar consciências pesadas, para ser uma presença de amor e de esperança. Não o fazemos por votos, somente porque amamos.

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