Uma entrevista

No domingo à noite uma monja dominicana (contemplativa mas de muita acção) que vive em Espanha, deu uma entrevista na televisão espanhola que escandalizou meia Espanha com todos os contágios provocados pelo menos na Europa. Um dos temas e o mais polémico foi o da sexualidade. Defendeu a sua sexualidade - virgem por opção, que nunca se masturba, mas plenamente mulher - mas quando lhe perguntaram pela virgindade de Nossa Senhora ela não teve a mesma coerência nem naturalidade, ao dizer tranquilamente que o jovem casal (Maria e José) se amavam muito, que eram um casal normal e, por isso, também era normal que tivessem tido relações. Ora, uma afirmação destas, assim, sem mais, choca. Dentro da Igreja a indignação e a condenação da irmã por blasfémia, porque pôs em causa um dogma da Igreja; fora da Igreja os que se aproveitaram para dizer que o que a irmã disse é o mais lógico e que querem abafar uma realidade, e que a religião católica é castradora... etc etc. O bispo da diocese do mosteiro das Irmãs já veio lamentar as infelizes declarações que levam à confusão dos fiéis, e a própria Irmã Lúcia também já veio a público dizer que se calhar não se exprimiu bem, que se calhar não a entenderam bem e que nunca quis, de modo nenhum, chocar os fiéis e abalar a sua fé.
A mim interessa-me pouco a sexualidade das pessoas. E também me interessa pouco a do jovem casal. Talvez em termos espirituais e pessoais tenha achado excessivo ela ter dito assim as coisas. Mas o que talvez mais me tenha chamado à atenção foi o facto de ela ter defendido tanto e tão bem a sua sexualidade e a sua virgindade e depois não ter feito o mesmo em relação a Nossa Senhora. Para mim é tão normal e legítima a opção que a Irmã Lúcia fez um dia em ser virgem, pura e casta, como Maria e José poderem ter feito essa mesma opção. É claro que Maria e José poderiam ter tido relações, mas também é claro que podiam ter abdicado delas como a Irmã Lúcia podia ter tido relações e abdicou delas.
Mas a minha admiração por esta monja não fica abalada por causa deste senão. Pessoalmente gosto mais do que ela faz do que o que ela diz. Talvez o que diz até esteja certo, no sentido de abrir horizontes e outras perspectivas. É ousada. Mas faz parte do ser humano ultrapassarmos alguns limites. Digo-o com pena. No entanto, os senãos não podem escurecer nem tirar o brilho a vidas tão bonitas e sãs como as desta minha irmã dominicana, que gasta e passa a vida a fazer o bem.

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