Um coração puro

A caminhada da Quaresma que é, antes de mais, um tempo de libertação, faz nascer em nós um desejo de mudança. As renúncias e penitências que nos impomos são ajudas para nos libertarmos. Pedimos a Deus um coração puro e temos de fazer por ter um coração puro. Um coração puro é o contrário de um coração manchado. E a Quaresma pode ser este tempo favorável de purificação. Com a ajuda de Deus, retirarmos do nosso coração toda a maldade que não nos deixa ser felizes nem fazer felizes os outros. Isto é uma espécie de morte: morrer para o mal para poder nascer o bem. 
Se o grão de trigo lançado à terra não morrer… Esta frase de Jesus adquire hoje um duplo significado. Por um lado, a sua própria morte, que Jesus compara a um grão de trigo. Também Jesus será sepultado, não para ficar no túmulo, mas para nos dar o fruto da sua ressurreição: a vida eterna. Mas também nos quer dizer que na nossa vida há mortes que temos de fazer acontecer para que delas possa nascer vida: pessoas, relações e ambientes que não nos fazem bem e que para os quais temos de morrer, feitios e maus hábitos que temos de fazer morrer em nós para que um outro eu possa surgir… são tempos aparentemente mortos, mas que são geradores de vida. Não tenhamos nunca medo de morrer para o mal e para o que nos faz mal. Só morrendo para o mal poderemos sentir o fruto madura de uma vida nova. As mortes trazem sofrimento e exigem luta. 
Aprendeu a obediência no sofrimento, ou seja, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu. Todos nós já sofremos alguma vez na nossa vida. E, muitas vezes, os momentos de dificuldade acabam por nos dar lições de vida. Numa sociedade e em tempos em que se esconde o sofrimento… como é que nós, cristãos o vemos, assumimos e ultrapassamos. Crescer dói. Sabemos tirar consequências positivas do que sofremos? Há pessoas que depois de momentos de profundo sofrimento reaprenderam a viver: viver um dia de cada vez, valorizar o importante da vida, tornar-se mais dócil e sensível aos outros… ontem, uma senhora no fim da missa disse-me que num momento difícil da sua vida que rezava assim: “Jesus, ensina-me a aprender a sofrer”. 
Queremos ver Jesus. Este pedido dos gregos, gente crente, é mais do que ir ver alguém importante ou diferente. É um pouco o que ouvíamos na primeira leitura: aprender a conhecer o Senhor. Hoje, há muitas pessoas que querem aproximar-se de Jesus. Adultos que pedem para ser baptizados, pessoas que por alguma circunstância da vida se têm vindo a aproximar. E onde é que se pode ver Jesus? Na sua Igreja. A Igreja tem de ser ao mesmo tempo o lugar onde se possa ver Jesus e os cristãos que pertencemos à igreja temos de ser sempre e em qualquer lugar o rosto de Jesus. E tem também de conduzir a Jesus como fizeram Filipe e André. 
Finalmente a última frase da Quaresma que nos introduz já no que vamos celebrar no próximo domingo: Quando eu for levantado da terra atrairei todos a mim. Jesus continua a atrair porque há homens e mulheres que o procuram e se sentem atraídos por ele. Jesus continua a atrair porque muitas pessoas vêm nos discípulos de Jesus o mesmo sentimento que Jesus teve na cruz: o amor. O amor atrai. Não nos esqueçamos disto: o amor atrai. 
Ao chegarmos ao fim do tempo da Quaresma, rezemos por todos aqueles que se andam a aproximar de Jesus e que o encontram na sua Igreja. Peçamos pelos que estão a passar alguma situação de sofrimento: para que não desistam, mas sintam sempre a presença de Jesus que os acompanha. E que cada um de nós faça sua a oração que escutámos no salmo: criai em mim, ó Deus, um coração puro.

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