Lembro hoje a minha avó paterna, de quem nunca aqui escrevi, que se fosse viva faria hoje 97 anos. O meu lado paterno nunca foi muito explorado. Ao contrário dos meus avós maternos, que vieram para Lisboa nos meados dos anos 60, os meus avós paternos viveram, morreram e lá estão sepultados. Por isso, o contacto era praticamente anual, por ocasião das férias grandes, eles em Cotelo e nós em Feirão. Quando chegávamos era das primeiras coisas que fazíamos - visitar os avós e os tios -, e depois mais umas quantas vezes, duas por semana, talvez, e a visita da despedida, a minha avó sempre com lágrima no olho, a dizer que era o último ano, que estava para breve "passar o monte de Gosende" (significava morrer). A ela e ao meu avô, e a muitos mais da aldeia, a vida foi dura. Os filhos rapazes trabalhavam com o pai nas terras; as filhas trabalhavam em casa, com a mãe, fosse na lida, fosse no tear, fosse ainda com o levar a casa ao campo (o almoço ou a merenda a quem estava nas...