Decisões e indecisões


Depois do jantar um dos frades da Comissão Litúrgica disse-me que se notava que estava cansado. E eu respondi: sim, as preocupações cansam-me.
Hoje foi um dia de resolver problemas e ganhar outros, de decisões e indecisões. E um dia que muda, ainda que ligeiramente, a minha vida.
Como estava previsto, hoje era o dia do Mestre da Ordem nos visitar e dar informações sobre o futuro da Comissão Litúrgica. Mas não está cá. Nem ele nem o Vigário. Mas como a vida continua apesar das ausências das pessoas, veio o Pro Vigário, "em nome do Mestre da Ordem", como referiu, trazer-nos notícias sobre o futuro.
E, como já se previa, a antiga Comissão cessa funções por estes dias e a nova será nomeada no Verão. E o Mestre achou por bem, que este que vos escreve seja o próximo Presidente da Comissão Litúrgica da Ordem. Que reunia consenso da antiga comissão e dos novos membros, que o Mestre da Ordem confiava em mim e no meu trabalho e que não valia a pena refutar porque a decisão estava muito consolidada. Por isso, como se diz na nossa lusa língua: nem tugi nem mugi! Assim que, até Setembro será tempo de "governo em transição". Depois das nomeações assinaladas, passou-se ao segundo ponto: tarefas encomendadas pelo Mestre da Ordem à Comissão. Não as vou explicar aqui, até porque são de âmbito mais restrito, mas o comentário que o Pró Vigário fez depois de as enumerar foi: o Mestre da Ordem como trabalha muito e dorme pouco, acha que todos somos como ele. Foi para aliviar mas sim, é trabalho duro, para mim o equivalente a partir pedra.
Manhã concluída, distribuiu-se o trabalho da tarde e não havia trabalho para mim. Comentei para gargalhar: estou a ver que vai ser bom ser presidente desta comissão!
Aproveitei, então, para dar as voltas da tradição. Em Roma gosto sempre de ir aos mesmos sítios, não impedindo, quando posso, de conhecer novos. Hoje visitei a Igreja de Santa Maria Sopra Minerva, onde rezei diante dos túmulos de Santa Catarina de Sena e do Beato Angélico, de quem sou devoto, depois passei em Santo António dos Portugueses, na Igreja de Santo Inácio, onde está sepultado São Roberto Belarmino e, finalmente na Igreja da Santa Maria Madalena, onde está o corpo de São Camilo de Lelis, padroeiro dos doentes e dos que deles tratam.
De regresso passei numa livraria para resolver uma indecisão. Trouxe para ler a vida do Papa João XIII. Estou prestes a terminar e não tinha outro para ler. Numa sala do Convento encontrei alguns, mais profanos, mas que não me satisfaziam. Como tábua de salvação trouxe um do Saramago, escrito em espanhol, "Viagem a Portugal". Mas, sinceramente, não me estava a apetecer ler sobre portugal numa língua estrangeira, Assim, tendo entrado na dita livraria, encontrei uma biografia do Papa João Paulo I, "o gigante da humildade". EM italiano, claro está, que só me faz bem. E será a minha leitura para os próximos dias.
No caminho que faço para o convento, passo sempre pela judiaria, o bairro judeu onde está inclusivamente a Sinagoga. Um bairro clássico, onde vemos, ao final da tarde, os mais velhos sentados a falar na sombra das ruas. E, olhando para o chão, vi umas placas quadradas com uns dizeres: era a memória de alguns judeus que, das casas onde viviam naquelas ruas, foram levados para os campos de concentração.
Chegar ao convento, rezar com a comunidade, falar ainda com o Secretário Geral sobre coisas mais práticas do futuro e vir aqui escrever estas linhas. Agora, como sempre, rezar e dormir, que amanhã outro dia se levantará, se Deus quiser, com as suas alegrias e as suas penas.
(Fotografia: quadrados com os nomes dos judeus deportados para os campos da Concentração, numa rua do bairro judeu de Roma)

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