Contextos Dominicanos

Os Dominicanos devem a sua existência a São Domingos de Gusmão, nascido provavelmente em 1174, em Caleruega, Espanha, e morreu em 1221, Em Bolonha, Itália. A sua cronologia é relativamente curta, quer por falta de informação quer porque como escreveu um Dominicano, não sabendo se para se justificar ou para confirmar o que muitos confirmamos: Os dominicanos preocuparam-se sempre mais em fazer as coisas que em narrá-las. Assim foi com São Domingos. Não temos autobiografias e os relatos mais antigos só são escritos dez anos depois, já com vista à canonização do Santo Fundador. Mas a história tem a curiosidade como ingrediente principal e consegue-se cruzar vidas e acontecimentos. É o caso de um Bispo de Osma, onde São Domingos foi cónego, que nuns inícios da nossa história era só um bispo que gostava de São Domingos, que o chamou para Osma e que o requisitou para uma viagem à Dinamarca, onde então se deram conta da heresia. Com a investigação histórica mais recente sobre a Ordem, figuras que eram mais secundárias nos nossos interesses, tornam-se mais importantes que as poucas páginas que lhes dedicamos. É o caso então de Diogo de Acebes, o tal bispo de Osma, próximo, amigo e santo, como São Domingos. Procurando eu alguns materiais para a espiritualidade dominicana, encontrei online um relato breve deste Bispo. Um livro de 1618, com o título "Teatro eclesiástico das cidades e igrejas catedrais de Espanha". No capítulo sexto fala-se "Do santo Bispo Dom Diego de Acebes, e como no seu tempo a Igreja de Osma começou a ser regular, sendo nela cónego São Domingos de Gusmão".
O relato é tardio mas tem muito do que se diz deste homem de Deus, que ajudou certamente São Domingos a fundar o que hoje é a Ordem dos Pregadores. Aqui deixo o relato, corrigindo apenas a gralha da data da morte de Diego de Acebes. O relato diz que morreu em 1245 o que não é asdsim. Diego terá morrido em 1207 e sepultado na capela onde está actualmente no ano de 1245. O autor juntou tudo na mesma data. Eis então o relato: «Não cabe na História a santidade dos bons, porque o vaso é curto e pequeno, nem a língua nem pluma e nem sequer os seus ministros têm poder para tanto, e esta é a razão para fazer curta notícia das vidas dos santos, cuja grandeza do seu estado não nos permite que a fé fale dela como merece. Um dos santos e assinalados Prelados, que teve a Igreja de Osma foi o santo Bispo Dom Diego de Acebes, tido e celebrado como tal nos Anais da Igreja de Osma, e também nas Histórias da Espanha. Foi natural da terra de Campos, na velha Castela. Pela grandeza dos seus costumes e vida foi chamado para ser Bispo de Osma, razão pela qual os cónegos da sua Igreja tinham necessidade de prover para si tal cabeça e Pastor. E considerando que o melhor meio seria reduzir o estado da sua Igreja de Secular a Regular, como o pensou e propôs ao Papa Inocêncio III, este mandou-os observar a Regra do Pai e Doutor Santo Agostinho, obedecendo em comum ao Bispo, e uma cabeça com o título de Prior. E para principiar a esta obra, trouxe para seu cónego, da cidade de Palência onde estava a estudar, a São Domingos, depois pai de tão grande família, para que com o seu exemplo os outros cónegos aprendessem a bem viver. Não escreverei os seus feitos, para não apagar o que outros, com boa intenção acertaram; nem muito menos da sua antiga nobreza qualificada com o seu nascimento, e feitos deste Santo, pois a maior que tem é de ter dado início a tão grande Monarquia de Santos e varões Sábios com que serviu a Igreja. A de Osma reconhece por grande misericórdia de Deus o ter sido este Santo seu Cónego; tendo-o como patrono, celebra-o com oitava, e no ofício divino faz dele comemoração todos os dias: tal coluna colocou na sua Igreja este prelado (Diego), e grande cuidado em olhar pelas suas ovelhas. Visitava o seu bispado a pé, e muitas vezes descalço, mostrando com as suas obras o bem público que desejava para os seus. No ano de 1203, pelo mês de Abril, estava este Prelado em Palência, onde o Rei tinha a sua Corte, e desejava ir a Roma para visitar aqueles lugares santos. O Rei dom Afonso mandou-o que passasse por França, e visitasse em seu nome a Infanta Dona Branca, mulher do Rei Luís oitavo. Escolheu como companheiro desta viagem a São Domingos. Ao passar conheceram o estado da Religião Católica contaminada pela dos Hereges Albigenses. Gente insolente e bruta, que em Toulouse de França, e seus contornos, tinha semeado o veneno da sua seita daninha. Bem quis deter-se mas com o tempo que gastou a fazê-los ver a sua malícia, teve que sair de França, com a sua embaixada, chegou a Roma, e dando a conhecer ao Papa o que tinha visto em França, e o perigo que se devia temer com os Hereges Albigenses, se com presteza não se acudisse a remediar o dano que iam fazendo. Suplicou ao Papa que aceitasse a sua demissão como Bispo e voltar a França para se opor, com a sua doutrina, e a de São Domingos, aos Hereges, desistindo da sua própria vontade, dos seus parentes e terras, entrando em terra alheia, entre gente estranha a penar entre os inimigos, já conhecidos por tais. O Pontífice não aceitou a renúncia do Bispado; pelo contrário, fê-lo seu Legado, na companhia de São Domingos mandando-o voltar a França, e que tratasse deveras da causa de Deus e da sua Igreja, e tomada a bênção do Pontífice Inocêncio despediu-se da sua Corte, chegou a França, e com a sua influência e a pregação de São Domingos, e seus milagres, em pouco tempo iluminaram com a luz da sua doutrina grande parte daquela gente errada, desfazendo o engano do demónio, ficando a Fé vencedora com as armas da sua doutrina. Compostas assim as coisas santamente, morreu em 1245. Deram sepultura ao seu corpo numa capela da sua Igreja, dedicada à memória de Cristo, num sepulcro lateral com o seguinte epitáfio: “Hic Iacet Didacus Azeves, espiscopus Oxomensis. Obiit Era milésima ducentesima a quadragesiama quinta».
(Fotografia: Capela de Cristo dos Milgares e de São Domingos. Diz a história desta Catedral que São Domingos rezava muitas vezes diante de Cristo. Por esse motivo se colocou a imagem de São Domingos nesta capela e nas paredes laterais duas sepulturas de dois importantes bispos de Osma. O do lado esquerdo é Diego de Acebes)

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