Quase Natal

Estamos quase no Natal. De há uns anos a esta parte que não tenho grande alegria no Natal. As prendas são uma obrigação, o social e o familiarmente correto; está bem que há sempre a afetividade, mas mal vai se o nosso carinho pelos outros fica num cartão de dinheiro em compras numa loja, ou num frasco de doce ou de perfume. Até os afetos já precisam de se materializar.
A minha tristeza não é uma tristeza de falta de sentido, mas talvez porque tudo me parece vazio. Tudo se faz porque sempre se fez, rotinas anuais, tudo sempre igual... culpa minha, talvez, porque haverá gente com muita alegria espiritual a celebrar o Natal.
Pois a mim, muito sinceramente, já tudo me aborrece, desde as luzinhas a piscar às correrias eclesiásticas destes dias, de missas de natal antecipadas. É no que estamos.
Não sei que volta tenho de dar, ou até se há volta a dar. A única coisa que ainda me vai dobrando o coração é o presépio. Não os elaborados, não os de muitas peças, mas o que brota das mãos de quem os desenha, pinta ou constrói.
Na igreja do convento está um presépio contemporâneo. Contemporâneo de recente. O artístico do presépio é porque foi feito em barro, por alunos do Externato Marista de Lisboa. É colorido, engraçado, dos que mais gosto. Nunca se montou um presépio na igreja. Este ano deu-me para isso. Com a ajuda de um postulante que está cá a passar uns dias, lá montámos a gruta, com uns panos...  Até umas luzinhas lá colocámos. Brancas, ao fundo, sempre acesas, nada de piscadelas nem de musiquinhas irritantes... Tive até de construir uma extensão, vejam a minha dedicação para com as figurinhas divinas, construídas em barro por mãos humanas, ao contrário de nós, construídos do barro por mãos divinas. Lá fui eu comprar fio, uma ficha macho e outra fêmea e toca a construir. Foi a minha primeira montagem e dei-me bem.
O Natal para mim, tal como o temos, não tem sentido. Aquela noite tão calma e as nossas noites tão agitadas. Tudo ao contrário.
Para mim será Natal quando tudo isto mudar, quando as relações humanas e pessoais forem mais importantes que as prendas e os almoços de natal, quando Cristo fizer sentido nas nossas vidas e no nosso mundo. Isto para mim é o essencial do Natal. Mas já dizia o Principezinho: "o essencial é invisível aos olhos".

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