Quaresma da Misericórdia - Mensagem da Quaresma

Meus caros amigos,
A Igreja começa hoje, uma vez mais, um caminho de penitência e de conversão, olhando para o mistério da Cruz que não termina em Sexta-feira santa mas que tem que passar por ela. A beleza da manhã de Páscoa não esconde nem ofusca o grande sinal do amor misericordioso de Cristo pela humanidade.
O Papa Francisco, na Mensagem da Quaresma para este ano da Misericórdia perde-nos que vivamos a sério e de uma maneira cristã as obras de misericórdia corporais e espirituais. Digo a sério e cristamente porque não são atitudes estóicas ou meramente humanas mas olhar o mundo e os pobres com o olhar de Cristo. E pede igualmente o Papa para que nós “saiamos da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia”.
Como sabemos, a Igreja pede-nos neste tempo santo três atitudes mais constantes: a oração, o jejum e a esmola. A oração que nos liga mais a Deus, o jejum que nos faz desprender do excesso material e a esmola que nos faz partilhar com os mais pobres – sejam pessoas ou situações – o que temos e o que somos. Como se lê na Bíblia, no conselho de Tobit ao seu filho Tobias: “Dá esmolas, conforme as tuas posses. Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus. Filho, procede conforme as tuas posses: se possuíres muita riqueza, dá esmola em proporção da mesma; se, porém, dispuseres de pouco, dá em proporção desse pouco. Nunca tenhas receio de dar esmola. Assim, acumularás em teu favor, um bom depósito para o dia da necessidade. De facto, a esmola liberta da morte e não permite que a alma desça para as trevas. A esmola é, aos olhos do Altíssimo, uma dádiva sagrada de grande valor, que aproveita a todos os que a oferecem.
Que destino dar ao fruto das nossas renúncias? Como muitos saberão, passei vinte dias em Angola, a visitar os meus irmãos dominicanos e as comunidades onde estão presentes. Tenho dito e repetido: gostei do que vivi não gostei do que vi. Porque vi miséria, porque toquei realidades que me pareciam não ser deste mundo e perguntava-me: como é que uns têm tanto e outros não têm nada? Não vou particularizar imagens de situações difíceis ou até arrepiantes mas vou partilhar convosco o destino que gostaria que dessemos à renuncia quaresmal deste ano da misericórdia. Tive a alegria de passar um fim-de-semana numa cidade chamada Wako Kungo. Esta cidade, que é paróquia, foi entregue aos dominicanos desde 1982. Foi a nossa primeira comunidade em Angola. Aí vivem quatro frades e assistem a paróquia que, de extensão chega a cem quilómetros (como de Lisboa a Santarém). Grande parte das estradas não são alcatroadas. Mesmo as que são têm bastantes buracos o que multiplicam o tempo de viagem. O que se poderia fazer numa hora acaba por demorar três. Mas a paróquia do Wako Kungo tem muitos centros (lugares de culto) espalhados. São mais de trezentas pequenas comunidades, mais de vinte centros, agrupados em sete zonas. A escassez de sacerdotes e de meios faz com que a alguns centros só se possa celebrar a Eucaristia uma vez no ano. Esta foi uma realidade que eu toquei.
Na conversa fraterna que tive com o superior da comunidade, perguntei-lhe como é que eles faziam para as celebrações. E ele, com naturalidade respondeu-me que a alguns sítios conseguem ir mas a outros, por falta de transporte, têm de pedir boleia. Têm dois carros (jipes) um deles com vinte anos e outro um pouco mais novo. Falou-me da ideia que têm de vender o jipe mais velho para, como o dinheiro que ainda der e com mais algum que consigam possam comprar um carro melhor, capaz de vencer buracos que são constantes nas estradas da paróquia. Mas, neste momento, não podem vender o carro nem têm dinheiro para comprar o novo. E, então, comprometi-me com os meus irmãos de Angola que nós, no convento de São Domingos de Lisboa e a partir do Convento, algum dinheiro iríamos arranjar para que o Evangelho e a Eucaristia chegue aos pontos mais críticos da paróquia que nos está entregue.
E conto convosco para esta missão: ajudemos os nossos frades dominicanos do Wako Kungo a comprar um novo carro para que possam levar a Palavra e os Sacramentos a tantas pessoas que querem aderir a Jesus e à Igreja mas a mensagem não chega lá.
Portanto, além de algum dinheiro que o Convento já colocou de parte para esta campanha (um pouco mais de dois mil euros), o resultado das renúncias quaresmais que se entregarem no convento e da caixa das esmolas da igreja do Convento serão igualmente conduzidas para esta causa. Caso queiram fazer algum donativo através de transferência bancária poderão fazê-lo para esta conta que pertence ao Convento: PT50 0033 0000 4523 4381 7050 5, colocando sempre a palavra “Angola” no descritivo, para sabermos que destino dar ao donativo.
Várias vezes, ao longo da minha estadia em Angola me lembrei da passagem de São Paulo em que perguntava: “De facto, todo o que invocar o nome do Senhor será salvo. Ora, como hão-de invocar aquele em quem não acreditaram? E como hão-de acreditar naquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, sem alguém que o anuncie? E como hão-de anunciar, se não forem enviados? Por isso está escrito: Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas-novas!” Ajudemos, pois, com as nossas orações e com as nossas ajudas estes mensageiros que querem anunciar o nome do Senhor, a sua alegria e a sua misericórdia.
Eu posso dizer-vos obrigado, mas Deus, que vê no segredo, dará a sua recompensa: bem medida e calcada, a transbordar!
Uma boa caminhada quaresmal.

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