frei Matias, op (1947-2024)

 
Faleceu hoje o frei José Augusto Matias, assignado ao nosso convento de Fátima.
Nasceu em Franco, Mirandela, em 1947. E pouco mais se pode dizer da vida dele, além das poucas assignações que teve mas, sobretudo, porque muito do que disse e fez foi tão discreto, que seria preciso agora encontrar as pessoas que se cruzaram com ele para nos dizerem como as tocou.
Um frade simples, mas muito valioso nas suas ideias, na sua simplicidade e discrição. Tendo podido subir aos palcos do êxito e da notoriedade, preferiu sempre os pequenos grupos e comunidades onde aí era profundo e fecundo pregador.
Apesar de nunca termos vivido na mesma comunidade, tive a honra e o prazer de me cruzar com ele em muitas ocasiões, quase todas de trabalho: comissões preparatórias de capítulos provinciais e ambos membros de conselhos económicos e provinciais onde, no ultimo, ele estava como secretário e eu como sócio do provincial. As suas intervenções eram sempre no sentido de ajudar (às vezes encontramos pessoas que agravam o problema!). O frei Matias trazia sempre uma luz, um ponto de vista que raramente não se aproveitava. Fazia sempre parte da solução. E depois, também o seu apostolado, igualmente discreto mas iluminador, de pessoas e grupos, onde aí abria a arca da sua sabedoria, com a maior simplicidade, sempre mais como alguém que partilha e não como alguém que ensina.
Prudente, nunca quis ser ordenado presbítero. Ainda o conseguiram convencer a ser ordenado de diácono mas ficou por aí. Tinha vida de um irmão cooperador, no mais positivo que essa vocação tem na nossa Ordem.
Admirador do grande dominicano Jerónimo Savonarola, nunca o víamos a fazer uma crítica feroz er destrutiva a pessoas e instituições, não deixando, porém, de dizer a verdade. De humor apurado, e bastante tranquilo, dele aprendi a expressão: "Desde que aprendi que Deus é o absoluto, tudo o resto é relativo".
Certamente que tinha o seu feitio e personalidade, como todos nós o temos. Mas, como acontece com cada um de nós, os que lidam mais diariamente connosco conseguem percebê-los mais rapidamente do que os outros que circunstancialmente se cruzam na nossa vida. Profundamente humano, compreendia as fraquezas que via nos outros, nunca as expondo mas sempre ajudando.
Hoje a Ordem dominicana e a província de Portugal perdem um grande dominicano. E fica a lição: a grandeza de um grande homem ou mulher não está na exibição nem no dar nas vistas, mas sim no ser discreto e, como fermento na massa, ajudar a levantar a vida das pessoas. Que depois destes anos de maior sofrimento descanse em paz.

(Não posso deixar de escrever aqui uma nota sobre a forma verdadeiramente extraordinária com que o convento de Fátima tratou o frei Matias nestes últimos anos. Não sendo aqui o lugar para muitos pormenores, Deus certamente recompensará os irmãos que tão generosamente cuidaram dele até ao fim. Há coisas que só mesmo Deus é que pode pagar.)

Mensagens populares deste blogue

Oração para o início de um retiro

Regina Sacratissimi Rosarii, ora pro nobis

Degenerar com dignidade