O dom das lágrimas
Palavras do Papa Francisco, durante a viagem de regresso ao Vaticano, depois de estar nas Filipinas, sobre o dom das lágrimas, mulheres e pobres:
Outra coisa é o pranto. Uma das coisas que se perde quando
se está demasiado bem, ou não se percebe bem o que se tem, ou estamos
habituados à injustiça, a esta cultura do descartável, é a capacidade de
chorar. É uma graça que devemos pedir. Havia uma bela oração nos antigos
missais, para pedir o dom das lágrimas. Dizia mais ou menos assim: “Ó Senhor,
que concedestes que Moisés, com o seu bastão, fizesse sair água do rochedo,
fazei que do rochedo do meu coração saia a água do pranto”. Belíssima esta
oração! Nós, cristãos, devemos pedir a graça de chorar, sobretudo os cristãos
que estão bem, e chorar sobre as injustiças e chorar sobre os seus pecados.
Porque as lágrimas abrem-te para perceber novas realidades ou novas dimensões da
realidade. Foi o que disse a rapariga e o que eu lhe disse a ela. Ela foi a
única a fazer aquela pergunta à qual não se pode responder: “porque sofrem as
crianças?” O grande Dostoievski fazia-a, e não conseguiu resposta: porque
sofrem as crianças? Ela, com as suas lágrimas, uma mulher, que chorava. Quando
digo que é importante que as mulheres tenham um lugar na Igreja, não é só para
lhe lhes dar uma função de secretaria de um dicastério, isso pode-se fazer. Mas
é porque elas dizem-nos como sentem e vêm a realidade, porque as mulheres têm
uma riqueza diferente, maior. Uma outra coisa que quero aqui sublinhar: o que
disse ao último rapaz [no encontro com os jovens], que verdadeiramente trabalha
bem, dá, organiza, ajuda os pobres. Mas não esqueçamos – disse-lhe – também nós
devemos ser mendigos diante deles, porque os pobres evangelizam-nos. Se nós
tirarmos os pobres do Evangelho, não podemos compreender a mensagem de Jesus. Os pobres evangelizam-nos. “Vou
evangelizar os pobres”. Sim, mas deixa-te evangelizar por eles!, porque
têm valores que tu não tens.