Memórias de Feirão: os dias tristes

Dias tristes em Feirão, antes de eu nascer, eram os da partida para longe (sair da terra já era ir para longe), para a tropa ou a morte de alguém. Feirão, entre os anos 50 e 70, teve um grande fluxo migratório. Para o estrangeiro: Brasil, França e Alemanha, e cá em Portugal, o Porto, a Marinha Grande (“descoberta” por uma minha tia-avó) e para Lisboa. À noite, ao toque do sino, quem tivesse os seus longe da casa, marido, filhos, sobrinhos, rezava à Senhora da Guia “Que os alumiasse e guiasse nos seus caminhos”. Eram nomeados, um a um, e cada um tinha o seu pai-nosso e a sua ave-maria. Só depois se jantava o caldo triste e amargo, porque triste e amarga era também a vida. Não adiantava escrever cartas porque poucos as saberiam ler. A minha mãe, por exemplo, lia as cartas à minha tia-avó, e estamos nos anos 60. Quem ia para a tropa ficava entregue à Senhora dos Milagres, que sempre teve uma grande devoção aqui em Feirão. Se não acontecesse nada ao filho, ou se ela o livrasse da trop...