Cristo vivo em nós

O Evangelho de hoje narra-nos duas aparições de Cristo Ressuscitado: uma no próprio dia da Ressurreição, em que São João nota que Tomé não está presente, e outra, oito dias depois, já com Tomé, sem Tomé nem os outros saberem que Jesus lhes iria aparecer. No entanto, as leituras de hoje focam-se muito na importância da comunidade que se reúne com o Ressuscitado. Ele está sempre, como tantas vezes dizemos na Missa: “ele está no meio de nós”. Gostava de partilhar convosco a importância da comunidade na nossa vida cristã. Não há dúvida de que a comunidade é o lugar privilegiado do encontro com Jesus Ressuscitado, mesmo se entre nós temos laços que nos unem. A comunidade reúne-se à volta de Cristo Ressuscitado. Quem se quer encontrar com Cristo tem a certeza de que ele se revela na Eucaristia de cada dia, de cada domingo. O domingo é importante porque nos faz sair da nossa casa para nos reunirmos na casa da Igreja. E quem não vem, perde, como Tomé. Quem vem encontra-se com Jesus, quem não vem não tem essa possibilidade. Não significa que seja menos cristão ou que não sinta Cristo na sua vida, mas a comunidade é o lugar onde temos a certeza de que Jesus está. Ele próprio o disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. Ele próprio o demonstrou, não indo a procura de Tomé, mas aparecendo quando Tomé está com a comunidade. Nós, cristãos, devíamos ter gosto de nos reunirmos em comunidade para estarmos com Jesus. E se motivação nos faltasse, deveríamos fazê-lo ao menos pensando em tantos irmãos nossos privados da Eucaristia, porque nos lugares onde vivem não têm a possibilidade de se reunir, ou porque estão impedidos por doença ou impossibilidade de se deslocar. Ainda assim, a estes últimos Cristo visita-os porque eles têm sede de Cristo. A comunidade é lugar de paz e de perdão. A paz e o perdão são dons da Páscoa. É assim que Jesus se apresenta nas suas aparições: “A paz esteja convosco! Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados”. Também nós, cristãos de nome e de facto, que nos reunimos à volta de Jesus Ressuscitado queremos ser testemunhas da paz e do perdão que recebemos de Jesus. São Francisco de Assis pedia isto a Jesus na conhecida oração “Senhor, faz de mim um instrumento da tua paz… Onde há ofensa que eu leve o perdão”. Cada um de nós é chamado a ser instrumento de paz e de perdão. Fica-nos mal andarmos em guerras e vinganças, em ódios e violências. Fica-nos mal andarmos zangados uns com os outros, preferindo deixar de falar do que perdoar, preferindo amuar do que dialogar para que o perdão seja uma conquista e um recomeço. Jesus continua a soprar sobre a sua Igreja, continua a estar no meio de nós para que nós sejamos incansáveis na promoção paz e do perdão. Finalmente a comunidade é o lugar de caridade e de união. Na primeira leitura escutámos um dos relatos de como viviam os primeiros cristãos. E os de fora ficavam admirados de como os cristãos viviam “gozavam de simpatia de todo o povo”. E porquê? Porque tinham um só coração e uma só alma; porque ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum e porque os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. É admirável como a primeira comunidade cristã não só gozava de simpatia entre o povo como muita gente, ao vê-los, se convertiam e aderiam à Igreja: um só coração e uma só alma, ajudavam-se nas necessidades e davam testemunho de Cristo Ressuscitado. E o que é que o mundo, lá fora quer ver em nós? Uma Igreja unida, solidária e alegre. Não é a divisão que congrega, não é a inveja que atrai, não é a tristeza que conquista. Quem quer pertencer a uma Igreja triste e dividida? Nós temos o espírito de Jesus Ressuscitado. Somos nós que temos de o levar aos outros. Nós, com o espírito de Jesus, venceremos. A nossa fé, mais testemunhada em obras que em palavras, há-de ser o maior trunfo para que outros possam aproximar-se de Jesus, na Igreja. Hoje, fazemos nossa a oração de São Francisco, da qual já falei há pouco, pedindo a Deus que sejamos testemunhas de Jesus e não escândalo. E que a sua paz e o seu perdão nos convertam. Rezamos, então, assim: Senhor, fazei de mim um instrumento da vossa Paz! Onde houver ódio, que eu leve o Amor; Onde houver ofensa, que eu leve o Perdão; Onde houver discórdia, que eu leve a União; Onde houver dúvida, que eu leve a Fé. Onde houver erro, que eu leve a Verdade; Onde houver desespero, que eu leve a Esperança; Onde houver tristeza, que eu leve a Alegria; Onde houver trevas, que eu leve a Luz. Oh Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar que ser amado. Pois é dando que se recebe; É perdoando que se é perdoado; E é morrendo que se vive para a Vida eterna. Amen.

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