Quando nos aparece Jesus ressuscitado...

O evangelho deste domingo situa-nos ainda no dia de Páscoa. No entanto mudaram os sentimentos. Se bem recordamos aquela manhã de Páscoa não foi de alegria: não porque Jesus não tivesse ressuscitado, mas porque os discípulos e amigos de Jesus não acreditaram nas suas palavras sobre o terceiro dia da ressurreição. Vemos as mulheres dos perfumes preocupadas com a pedra pesada que tinham de rolar, os discípulos em casa, desorientados, a Madalena que chora à procura do corpo de Jesus e os discípulos de Emaús, derrotados e tristes, regressam à sua aldeia numa tentativa de refazer a sua vida. Todos estes sentimentos negativos se convertem em alegria e esperança a partir do momento em que Jesus lhes aparece: as mulheres dos perfumes vão a correr espalhar a boa nova da ressurreição, a Madalena agarra-se ao corpo de Jesus, os discípulos de Emaús, radiantes de alegria e de coração ardente, regressam nesse mesmo dia, à noite, a Jerusalém, e contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Impressionante como tudo isto às vezes se passa na nossa vida: o mesmo caminho, de Jerusalém a Emaús, é um caminho longo, mas de Emaús a Jerusalém acaba por ser um caminho rápido. A diferença não está nos quilómetros, a diferença está em Jesus, que transforma os nossos caminhos de tristeza em caminhos de alegria. 
Aparece Jesus e diz-lhes: A paz esteja convosco. A paz é dom de Jesus Ressuscitado. E é o melhor dom que Jesus nos poderia dar e deixar. Não é saúde nem dinheiro, não é fama nem prosperidade. Que seria disto tudo se não tivéssemos paz… o Padre António Vieira, num sermão que pregou sobre este evangelho, faz a ligação entre as palavras e a atitude de Jesus, a paz que Jesus dá e o lugar que Jesus ocupa: Jesus, no meio deles, a todos dá a paz. Para concluir o que nos parece óbvio, mas que é bom sempre recordar ou nunca esquecer: “sem igualdade, e igualdade com todos, não há paz”. Queremos paz no mundo? Tratemos todos com igualdade; queremos paz na Igreja? não queiramos ser mais que ninguém; queremos a paz na nossa vida? nunca nos achemos superiores a alguém e ocupemos o mesmo lugar de Jesus: no meio dos outros. 
Aparece Jesus e abre-lhes o entendimento. Também é novidade da Páscoa. Jesus ressuscitado está sempre a explicar aos discípulos que tudo tinha de acontecer para se cumprirem as Escrituras, e ao grupo abre-lhes o entendimento para que percebam que Jesus continua com eles, o mesmo mas não da mesma forma. Também na nossa vida, na vida da Igreja, precisamos que Jesus nos esclareça, nos abra o entendimento para que mais depressa chegue aos outros a sua mensagem do que as nossas opiniões e teimosias. Este é um grande perigo na Igreja de Jesus: a ideologia. Sabemos bem que as ideologias não são saudáveis e não podemos transformar o evangelho de Jesus em ideologia. A novidade e a beleza do evangelho não pode ser instrumentalizada nem subvertida. Pensar que a mensagem de Jesus é só para converter os outros é pensar ao contrário. Por isso, podemos pedir a Jesus este dom Pascal: que ele nos abra o entendimento. O entendimento sobre a nossa vida, o entendimento sobre a vida da Igreja, estarmos abertos ao que o Espírito Santo nos quer inspirar. Não esqueçamos que o Espírito Santo actua onde quer e não onde nós queremos, e que Jesus Ressuscitado quer-nos próximos do mundo, das pessoas, não para as condenar, mas para as salvar. 
Aparece Jesus e envia-os em missão: “Vós sois as testemunhas de todas estas coisas”. Esta é a principal mensagem de Jesus Ressuscitado desde o dia da Ressurreição até à sua Ascensão: ser testemunha, ir pelo mundo fora anunciar Jesus. Jesus não nos quer no conforto, mas sim no desafio. Jesus não nos quer numa fé tímida e privada; Jesus não nos quer no anonimato, mas sim no corajoso testemunho. Jesus não nos quer cristãos a viver como pagãos, mas cristãos a viver como cristãos. Jesus não nos quer protagonistas, mas sim testemunhas. Num mundo e numa sociedade em que criticamos a mudança de valores e a ausência de Deus, cada um de nós tem de se perguntar sobre o contributo que tem dado para que Deus permaneça? Jesus diz aos discípulos que eles vão ser testemunhas a começar por Jerusalém. Na ascensão vai envia-los mundo fora. Assim também connosco: Jesus pede que sejamos testemunhas da sua vida, da sua ressurreição na nossa casa, na nossa família, na nossa comunidade (onde por vezes é mesmo o lugar mais difícil) e depois continuarmos onde a vida nos vai colocando. Nunca protagonistas, sempre testemunhas. 
Agradeçamos neste dia o dom da alegria da Páscoa. E peçamos ao Espírito Santo que acenda em nós o mesmo fervor que deu aos primeiros discípulos e faça de cada um de nós testemunhas da paz, da justiça e do amor de Deus no mundo. Assim seja.

 

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