Perfumes de Páscoa

O relato da paixão de domingo de Ramos terminava com o apontamento de que Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde Jesus tinha sido sepultado. No relato de hoje encontramo-las, apressadas e preocupadas: apressadas para ir ungir o corpo morto de Jesus e preocupadas porque não sabiam como é que iriam conseguir tirar a pesada pedra do sepulcro. O encontro com o Anjo, que lhes diz que o morto que elas procuravam afinal vivo, enche-as de alegria e de esperança porque, na verdade, nunca deixaram morrer o amor. E aqui temos, para nossa reflexão os três sentimentos da Páscoa, vividos pelas mulheres e celebrados nesta santa noite. 

Alegria. As mulheres sentiram grande alegria quando o anjo lhes disse que o Mestre que seguiram e que agora procuravam estava vivo. A esta alegria junta-se a alegria desta Páscoa, tão bem descrita na alegria da criação da primeira leitura… mas também na alegria da libertação que o povo sentiu quando saiu da escravidão para a liberdade… a alegria da nossa vida porque nos sentimos vivos no sentido pleno da palavra. Vivos porque úteis, vivos porque aquele que vive também em nós. 

Esperança. A tristeza das mulheres da manhã de Páscoa converteu-se também em esperança. Afinal, aquilo que Jesus tinha dito sobre a sua morte e ressurreição era verdade e reacendeu-se nelas a luz da esperança. Também está celebrado Pascal é um hino à esperança. A esperança de um Deus que tudo providencia, como Abraão disse ao seu filho Isaac, A esperança de uma vida melhor, de um mundo melhor, relatará também no livro do Êxodo, mas também cantada nas profecias que ouvimos nesta noite. A esperança de ser reconstruído, de ser transformado da pedra para a carne, como profetizava Ezequiel. Sim, nós cristãos, somos portadores de uma mensagem de esperança: não vivemos no desespero e na angústia. Vivemos as dificuldades da vida e tentamos ultrapassá-las porque temos esperança, não desistimos porque temos esperança, ajudamos o próximo porque acreditamos que a nossa esperança muda o mundo. 

Amor. As mulheres reacenderam no seu coração o amor. A devoção que tinham e que iam manifestar no tratamento do corpo morto de Jesus transformou-se em amor, o mesmo amor que sentiam antes e que nem a morte nos pode roubar. Também nós hoje, estamos aqui, a celebrar a Páscoa, a celebrar o amor. O amor de um Deus que nos criou e faz de nós o centro das suas atenções, como escutámos no relato da criação. O amor de um Deus que não desiste de nós, como escutámos numa das leituras e o amor de Deus que nos chama para ele, que nos atrai a Ele através da sua misericórdia. Que seria de nós sem a misericórdia de Deus. Não nos salvamos pelos méritos… só a misericórdia de Deus nos poderá salvar. 

 Estas mulheres de Sexta-Feira Santa e da manhã de Páscoa e que acompanharam Jesus ao longo da sua vida pública foram grandes amigas, grandes discípulas e grandes apostolas. Grandes amigas de Jesus porque nunca o abandonaram; grandes discípulas de Jesus porque punham em prática os seus ensinamentos; grandes apóstolas de Jesus porque foram as primeiras a receber a notícia da ressurreição e as primeiras a levá-la aos apóstolos. Grandes mulheres que não ficaram mergulhadas na tristeza nem no desespero. Na epístola desta nossa Vigília, São Paulo dizia que Cristo ressuscitou dos mortos para que nós vivamos uma vida nova. E é para aqui a que a Páscoa de Jesus nos traz: Viver ressuscitado é viver com o Ressuscitado, é no amor de Jesus e para o amor ao próximo. Diz São João numa das suas cartas: “Nós sabemos que passámos da morte para a vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama, permanece na morte”. Se amas, estás vivo! Se não amas podes até respirar, mas estás morto. 

Alegria, esperança e amor são os sentimentos desta noite e que devem acompanhar toda a nossa vida. Por isso rezamos nesta noite por aqueles que andam tristes, com problemas, para que a Ressurreição de Cristo ilumine as suas vidas e converta a sua tristeza em alegria. Rezemos nesta noite pelos que perderam a esperança: os que tentam recomeçar a sua vida, os que se sentem fracassados e inúteis, para que a Cristo Ressuscitado os visite e lhes devolva a esperança do recomeço. Rezemos pelos que não sabem amar, pelos que maltratam e humilham, pelos insensíveis ao sofrimento dos mais pobres, para que o Ressuscitado reacenda nos seus corações o seu Amor eles abandonem o ódio e a incompreensão e aprendam a amar. E rezemos por cada um de nós que nesta noite celebra a alegria da Páscoa: que a vossa vida seja, hoje e sempre, uma vida alegre, cheia de esperança e cheia de amor para partilhar. Que assim seja.

Mensagens populares deste blogue

Oração para o início de um retiro

Regina Sacratissimi Rosarii, ora pro nobis

Degenerar com dignidade