Datas que não se esquecem
Sou um bocado esquecido em relação a datas; às dos outros e às minhas. Tenho uma agenda onde coloco as datas dos aniversários das pessoas amigas e muitas vezes esqueço-me de lá ir ver a quem toca festejar mais um ano; No diretório litúrgico (livrinho onde vêm as determinações da liturgia para cada dia) tenho os aniversários dos frades e as datas importantes do Convento e da Província; na minha cabeça muito poucas datas e às vezes confusas.A segunda não tem história, ou então, tem uma história pequena: há 13 anos, em Sevilha, tomava hábito nesta Ordem dos Pregadores.
São estas memórias que alimentam o nosso caminho e a nossa vida.
Cruzei-me há dias com uma citação de Vergílio Ferreira, sobre a memória, que aqui deixo neste dia de boas memórias:
"Não digas o nome porque o não tem. Não procures a razão porque a não há. São momentos inexplicáveis de uma certa beatitude ou de uma certa melancolia ou afundamento, que é mais forte. São momentos que nos aparecem e em que nos sentimos em paz desbordante, um bem-estar da alma em que há um sorriso a querer sorrir por dentro e a imaginarmos por fora, mas ninguém o vê. Não é alegria, que faz muito barulho. Não é entusiasmo excitado, que ainda mais. É um abandono feliz de nós, uma serenidade que nos aproxima da verdade simples de o mundo existir e em que mesmo a morte nos não pode perturbar. Isso nos acontece em certas horas do dia que reflexamente nos evoca outros dias e horas de um tempo muito antigo em que fomos felizes à memória que os alcança."
(Sé de Lisboa, gravura do séc. XVI)