Os feriados

Volta à carga a extinção de dias feriados no nosso calendário. O Orçamento de Estado para 2012 quer que alguns feriados e pontes deixem de ser gozados. Claro que por causa da crise.
Sabemos que por detrás da crise há outros motivos que forçam algumas decisões. O que me dá pena é que não se sejam motivos nem verdadeiros nem coerentes. Se o problema fosse, de facto, a crise, não se extinguiam mas suspendiam-se. Mas enfim.
Queria escrever umas linhas sobre o que penso sobre os feriados em geral e sobre os feriados católicos em especial. Já não é a primeira vez que o faço e tenho consciência que muita gente vai estar em desacordo. É legítimo.
E começo por estes últimos. Acho que  deveriam acabar os feriados católicos. Não fazem sentido numa sociedade laica, pluricultural e plurirreligiosa. Ponhamo-nos no lugar dos muçulmanos, por exemplo. Não poderem ir trabalhar no dia de Natal, ou no dia do Corpo de Deus... deve ser uma coisa horrível. Ou coloquemo-nos do lado dos não praticantes. Um professor, por exemplo, diante do feriado do Corpo de Deus, que acontece quase sempre no mês de Junho: como nos feriados não há aulas e está calor para ficar em casa, vai até à praia. Não é justo privar quem não tem fé ou quem não a pratica obrigando-a a parar de trabalhar e ter de arranjar uma alternativa que pode, inclusivamente, comprometer todo o fim-de-semana, se for com ponte ou numa sexta-feira.
A origem dos feriados religiosos vem do tempo em que todos eram cristãos. E a sociedade, com uma grande influência do cristianismo, achou por bem, em dias importantes para a fé, que se deixasse de trabalhar para poder ir celebrar a sua fé na igreja, em comunidade, e não numa praia ou na neve, como se vai vendo hodiernamente.
Como a realidade actual é diferente o melhor seria acabar com os  feriados religiosos. A Igreja até deveria propor isso mesmo, para que não fosse acusada de querer impor as suas leis e preceitos à sociedade civil. Porque sejamos francos: quem quer ir à Missa vai mesmo em dia não feriado. Ilustremos com um exemplo: sexta-feira santa. O governo dá tolerância de ponto na tarde quinta-feira, sexta é feriado e depois mete-se o fim-de-semana. Se não houvesse feriado era tudo mais simples: trabalhava-se na quinta e na sexta-feira, e as celebrações faziam-se a partir das 18h. Creio que não iria diminuir a afluência às celebrações. De facto, isto já acontece em alguns países: nas festas de dia fixo, como a Imaculada Conceição, as celebrações fazem-se durante dia. Os sinos podem tocar para indicar a festa e as celebrações podem ser solenizadas mesmo não sendo feriado. E as festas móveis podem ser transferidas para o domingo seguinte (aconteceu-nos quando perdemos o feriado da Ascensão [quinta-feira da espiga] e é o que acontece actualmente com a festa do Corpo de Deus).
Para mim uma coisa é certa: nos dias de hoje, quem pratica a fé não está dependente de ser feriado ou não. Há muita gente que trabalha e que vai à missa todos os dias!
Em relação aos feriados civis acho que não são sensatos. Como é possível celebrar o dia do trabalhador não trabalhando? E como é possível dar o dia de segunda-feira no feriado do Carnaval? Andamos a brincar? O problema é que, durante muitos anos, os políticos fizerem da governação um verdadeiro Carnaval e o povo entrou na brincadeira: comprou as suas máscaras, desfilou, porque era Carnaval e nada é a sério. E vejam agora na quarta-feira de cinzas em que nos meteram!
Enfim, foi um devaneio. Só para dizer que sou a favor da abolição dos feriados. De todos e não só dos que nos convêm. Mas dos feriados católicos sobretudo para não ferir a suscetibilidade dos que não acreditam ou professam uma outra fé. Porque, para os que praticamos, também nos custa que, por um lado nos critiquem e, por outro, esfreguem as mãos e gozem os feriados, graças aos criticados.

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