Revisitar São Sixto

A tarde de hoje foi declarada livre. Após dias de trabalho faz falta ter um tempo livre para descansar ou fazer outras coisas. Pedi para que avisassem as irmãs dominicanas missionárias de São Sixto que iríamos visitar o convento. Pessoalmente já lá tinha ido mas há sítios, livros, refeições, que se visitam e revisitam sem cansar. E como grande parte dos membros da Comissão não conheciam, a ideia foi bem aceite e acabámos por ir. Recebeu-nos uma irmã italiana - Sor Maria Rosa - que nos explicou tudo tão bem e com tão grande vivacidade que parecia ter estado na construção do convento.
Mas falar de São Sixto é fala do século IV, altura da construção da primeira basílica, onde se crê ter sido morto o grande Papa Sixto II, e dias depois, noutro sítio, o diácono São Lourenço. E falar também do século XIII, porque foi este o primeiro convento dos Dominicanos em Roma, em tempos de São Domingos. Esta Irmã, devota mas não beata, explicou-nos bem a estadia de São Domingos naquele lugar: dois anos e oito meses. Aí viveu desde que chegou a Roma e até que o Papa Honónio III lhe deu a basílica de Santa Sabina, onde estamos até hoje e de onde escrevo estas letras. Foi alí que se deram os três grandes milagres de São Domingos. Dizia esta boa irmã: Assim como Jesus, ao longo da sua vida, fez três milagres de ressurreição, também São Domingos, por três vezes, ressuscitou alguém: uma criança que morreu em casa, enquanto a mãe tinha ido à igreja ouvir a pregação de São Domingos, o sobrinho do Cardeal Fossanova, e o arquitecto do novo convento anexo à igreja de São Sixto, onde São Domingos e seus primeiros companheiros viviam. No fim de contar as histórias acrescentou: não são os milagres que não dão a fé mas confirma-na.
Mas o grande milagre dominicano aconteceu igualmente naquele convento e, mais especificamente naquele convento. E lá nos relembrou a história: que um dia, tendo são domingos chegado a casa e sentando-se à mesa, não havia que comer. Mandou dois noviços que fossem pela rua pedir esmola para ver se comeriam alguma coisa naquela noite. Os noviços lá foram e conseguiram um pão. Vindo já de regresso encontraram um pobre que lhes pedia de comer; disseram um para o outro: só temos um pão que não nos vai alimentar mas que pode servir a este pobre homem. E deram-lho. Ao chegar a casa São Domingos perguntou-lhes se tinham conseguido alguma coisa. Os noviços, envergonhados, disseram a verdade: que tinham conseguido arranjar um pão mas que, tendo encontrado um pobre, deram-lhe o pão porque, no convento não iria chegar para todos. São Domingos elogiou a acção e disse aos frades que estavam no refeitório à espera de alguma coisa para comer: Irmãos, rezemos e confiemos na misericórdia de Deus,que não falta às suas promessas. E, começando a rezar, entraram dois anjos com uma cesta de pão cada um, pão acabo de fazer, e distribuiram pelos frades, a começar pelos mais novos, neste caso, os nossos noviços, tendo sido São Domingos o último a ser servido. E, acrescentou ela, o pão chegou e sobrou, como no milagre da multiplicação dos pães, e é daqui que vem a nossa tradição de que, à mesa, começa-se sempre pelos mais novos. E acrescentou: e nunca duvidemos da providência divina, que nunca nos faltará.
Continuou a visita, pelo claustro em que, em cada arco, tem pintada uma cena da vida de São Domingos. No final visitámos a parte mais antiga da igreja, que está toda em obras. E, no tecto da ábside, estavam as famosas pinturas da vida de São Sixto e de São Lourenço, seu diácono. E aqui, a boa irmã fez-nos mais uma bela pregação: todos os papas têm um grande amor aos pobres. Eu frazi o olho e ela respondeu-me: sim, padre, todos os papas têm um grande amor para com os pobres. Falo-lhe dos que conheci: João Paulo II, incansável, Bento XVI, que ninguém acredita porque ninguém sabe que todo o dinheiro dos direitos de autor dos livros é directamente canalizado para os pobres de todo o mundo. E do Papa Francisco não preciso dizer-lhe nada. Olhando para mim continou: por isso, padre, não se esqueça nunca dos seus pobres. Seja como os papas.
Já na rua mostrou-nos uma laranjeira que, diz ela, é do tempo de São Domingos, ou seja, quando os frades passaram para Santa Sabina, o convento ficou livre para as monjas dominicanas. E ele, que tinha plantado em Santa Sabina uma larajeira, arrancou-lhe um ramo e plantou-o em São Sixto. E arrematou a irmã: este é um sinal de que a ordem dominicana deve permanecer unida e dar frutos como a laranjeira.
E assim terminou a visita a um lugar tão espiritual para nós. Regressámos contentes pela visita mas, sobretudo pela alegria de estarmos juntos não só no trabalho mas também nos momentos de lazer e recreativos.
Gostei de São Sixto: do Papa, do Convento e da Irmã que mostrou tanto amor para a Ordem.

(fotografia: um dos milagres de São Domingos, que está na sala do Capitulo)


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