Os hábitos

Passam hoje quinze anos que, em Sevilha, vesti o hábito dominicano. Sem dúvida, a celebração dominicana mais bela e profunda. Exteriormente e interiormente. Exteriormente, bela, porque se muda de roupa, passamos a ser chamados de freis, nos prostramos a pedir misericórdia e somos recebidos na comunidade. Mas interiormente a profundidade do que significa: sermos abraçados pela misericórdia de Deus e da dos irmãos, misericórdia que leva à conversão de outros hábitos, que significa conversão de vida, para termos uma vida nova, branca e preta, não de extremos, mas de verdade e responsabilidade, esclarecida pelo estudo, iluminada pela oração, acompanhada pela comunidade e testemunhada pela pregação. Vestir o hábito dominicano é tomar consciência das renúncias diárias que ele obriga: não querer ser superior a ninguém, por isso é frade, não querer ligar a vaidades, entenda-se as coisas vãs, querer que o corpo dignifique aquilo que o cobre. Nós conhecemos o ditado que diz "o hábito não faz o monge", mas é só meio ditado... porque ele continua: "mas o monge faz o hábito".
Nunca estaremos à altura do hábito que vestimos. Por mim falo. Mas poderemos, em cada dia, mudar de hábitos, os maus, para que o bom hábito ganhe corpo no nosso corpo.
Mas vestir o hábito dominicano é ainda um sinal de compromisso e testemunho: compromisso porque vestir um hábito religioso é mostrar que se opta pelos valores do Reino de Deus e do Evangelho; testemunho porque se vê e obriga palavras e gestos coerentes com o que se veste.
(Pode parecer estranha esta fotografia a ilustrar o post mas acho que o cogumelo é muito parecido com o hábito e a vida dominicana: o chapéu parece o nosso capuz, o tronco o nosso corpo, o agrupamento a comunidade mas, sobretudo, a fragilidade da nossa vida. Estes cogumelos encontrei-os ontem num parque da cidade... apesar de não serem comestíveis são humildes, discretos e resistentes... como deveriam ser os dominicanos!)

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