Degenerar com dignidade

Acabo de vir do hospital. Reencontrei uma senhora que o Parkinson vai atacando. Quer escrever mas quase não consegue. Gosta de ler para os outros mas não gosta de ditar porque não consegue exprimir o que sente. Quando entrei no quarto estava a escrever sobre o Inverno e as recordações que lhe traziam: a chuva, as trovoadas, a avó à lareira... Uma senhora que fez voluntariado em oncologia, vê-se agora limitada pelo Parkinson.
Para mim o mais difícil da vida não é a morte mas a degeneração. Digo degeneração e não degradação. Degenerar não tem que ser degradar. Pode-se degenerar com dignidade. É a degeneração degradante que me aflige.

É o que sinto no hospital: cada doente tem a dignidade que merece. Crente ou não crente, mais simpático ou mais resmungão. Um doente é um desafio à nossa capacidade de ir ao encontro daquele que está mais débil e que precisa de nós.

Ao ver um doente de cancro, Parkinson e até de Alzheimer - tudo doenças degenerativas - olho também para o seu contexto. Se calhar já não consegue comer por si próprio mas tem que lhe dê de comer ou beber; pode não conseguir andar pelos seus próprios pés mas ainda tem quem o leve numa cadeira de rodas a ver uma exposição ou ir ver a rua, mesmo de longe.

Acaba também de falecer uma outra senhora, com menos de cinquenta anos. Mais uma vítima de cancro. Para ela e para a família que tem fé e acredita em Jesus, a morte não é uma derrota mas uma vitória: passou aquela barreira que a separava de Deus.


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