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A mostrar mensagens de novembro, 2011

Músicas e Jubileu da Ordem

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Mais um dia de trabalho que chega ao fim. Em Roma os dias escurecem cedo. No fim do dia, mesmo cá em cima, ouve-se o barulho dos carros e o barulho estridente das sirenes da polícia, sempre a tentar furar pelo trânsito caótico dos romanos (para não generalizar). Apesar deste blog mais parecer um facebook ou um twiter, não resisto a escrever aqui o trabalho deste segundo dia, que se dividiu em duas partes: de manhã sobre a música e, na parte da tarde, uma conversa agradável com o Mestre da Ordem, sempre bem disposto e pronto a escutar. Há uma questão de fundo que está presente nesta comissão de Liturgia e que deixa apreensivo quer o Mestre da Ordem quer os próprios membros da Comissão e até outros frades, que é o movimento "tradicionalista" dentro da Ordem. Convém fazer a distinção entre conservador e tradicionalista mas, de fato, esta é uma questão presente. Por isso, qualquer passo que se dê em termos de liturgia, tem de ser cuidadoso para que a unidade da Ordem não sej

A melhor vista sobre o Vaticano

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Conta-se que, numa visita que o Papa João XXIII fez a este convento de Santa Sabina, levaram-no a uma parte do Convento, chamada Belvedere, que é um terraço elevado (miradouro, neste caso miratevere), com uma vista soberba sobre Roma e sobre a cúpula do Vaticano. O Papa, ao ver a cidade e apontando para a cúpula de São Pedro exclamou: " Esta é a melhor vista sobre o Vaticano. E isto é infalível! " Esta história conta-se em Lisboa, em Paris, onde quer que seja, sempre que se fala de Santa Sabina. Ontem, ao jantar, voltou a contar-se esta história. E, no final, disse um frade inglês: pena que no vaticano se tenha perdido o sentido de humor. Gargalhada geral. Esta é, de fato, uma das mais belas vistas sobre a cidade de Roma. Aqui ao lado, pela fechadura do portão da Ordem de Malta, pode ver-se com um binóculo lá instalado, a cúpula de São Pedro. Mas aqui é diferente: vê-se grande parte da cidade: em frente o Vaticano, à direita o monumento a Vitor Emanuel, à esquerda Traste

Babel em Santa Sabina

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Para quem pensa que vir a Roma é vir de férias, que se engane. Posso dizer que hoje não saí literalmente de casa... ou melhor, saí para ir para a igreja, manhã cedo, para a Missa. O dia foi passado, portanto, intra muros; entre o quarto e a sala de reuniões, igreja e refeitório. Fiz esta associação mas poderia fazer de outra maneira: quarto e refeitório e sala de reuniões e igreja. O trabalho hoje foi o dos mais novos. Embora a comissão não seja muito grande, estamos três da comissão que acaba e três da que agora começa, hoje o trabalho foi dos que acabámos de chegar. Cada um apresentou um pequeno relatório sobre a situação das traduções das suas regiões. A mim coube-me a tradução espanhola, que vai para além da Espanha (pensemos em toda a América latina), e também a portuguesa, que inclui o Brasil. Com a Babel instalada, a língua oficial é o italiano, que nenhum dos novos fala, resta-nos o inglês e o francês porque quem fala italiano não fala inglês. Menos mal que um dos mais velho

Mais uma viagem

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Roma. Ancora una volta . Os aviões sempre com atrasos e sempre com desculpas. A de hoje foi o nevoeiro. E pensei: na Escandinávia devem andar todos trocados! Conclusão: saímos com uma hora de atraso. Estou em Roma numa reunião, a primeira em que participo, da Comissão de Liturgia da Ordem. Vai ser uma semana. Deus queira que tenha uns tempos livres para passear em Roma, que se conhece andando. Agora que já descobri uns atalhos para chegar ao centro de Roma, dá para sair mais. A casa já a conheço: Santa Sabina, dos meus amores, que me faz lembrar o meu convento de Lisboa. O Aventino está para Roma como o Alto dos Moinhos está para Lisboa: calmo, um lugar de partida e de chegada. É bom sair da cidade para regressar a casa. Com os atrasos todos e com as chegadas ao convento, davam as quatro horas na igreja de Santo Alessio; ainda me deu para ir aos sítios onde teimosamente queria ir antes de tudo: Videre Petrum . Lá me pus a pé (verifico agora que foram cerca de quatro km para cada lad

Sinais de Advento

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Já sinto o sabor do Advento. Ele aí vem, com a mesma esperança de sempre, apesar do roxo que o veste. Já oiço a voz dos profetas que chama ao caminho da verdade e da verdadeira conversão. Já vejo a aurora que vem depois do entardecer trazer a frescura do novo dia, sinal daquele que não há-de ter fim. Já sonho com os tempos definitivos em que não se ouve falar de guerras nem de desgraças causadas por mão mãos humanas tantas vezes carregadas de injustiça e de desamor. Já espero o sim da Mãe de Deus, que é também o meu, que consente a vinda do desejado dos nossos corações. Curvo-me como a planta que espera a nova madrugada para se abrir com novo vigor ao Deus connosco o Emanuel. (imagem: Salvador Dali, Será chamado profeta do Altíssimo)

Chá de beneficiência

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Decorre nestes dias, no Convento dos Cardaes, um chá de beneficiência em ajuda da obra que as Dominicanas de Santa Catarina de Sena lá desenvolvem, relacionada com pessoas invisuais ou com deficiência. Quem lá vai, além do chá e da fatia de bolo caseiro, pode comprar livros, doces e biscoitos feitos lá, e que são ótimos. Estive lá esta manhã, numa visita de médico, não por causa do chá, que só começava à tarde, mas por causa de uma papelada que tinha de entregar. Mas as Irmãs quiseram mostrar-me não só as exposições do próprio convento - obras de arte espantosas e bem cuidadas - bem como as salas de exposição com as mesas de chá colocadas no claustro. Mas, se falo desta visita, é para aqui deixar o que vi numa das salas. Um oratório que, fechado, parecia um armário mas que, aberto, se desdobrava em beleza de imagens e de teologia. Quando se abriam as duas portas laterais, de que falarei mais adiante, via-se um tríptico, com uma imagem (estátua) da Imaculada Conceição. Nos outros

Um poema para a crise

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Há mais de uma hora que procuro a frase certa, a quadra ou o poema, que dê corpo ao postal de Natal do Convento. De autor em autor, de antologia em antologia, vou folheando as páginas para ver se encontro alguma coisa que me agrade. A minha mentalidade, talvez antiquada, não se conforma com estes poemas modernos, que falam de árvores-de-natal chinesas ou de Natais passados em Miami. Mas também acha desajustada ir buscar às arcas encoiradas os poemas barrocos de anjos resplandecentes e Meninos Jesus em frias palhas deitados... Não encontro um meio termo. Nem o Torga me salva desta aflição. Os seus poemas de Natal são interessantes mas muito pessoais... Não tenho uma frase de Santo Agostinho ou de Santo Efrém que me resolva a preocupação. O que me apeteia mesmo era escrever na caixa do texto "Devido à crise não se encontrou um poema à altura da época que celebramos". Mas não pode ser. Sendo assim, acho que este ano vou-me ficar pela Sophia, num poema de duas linhas, que, não

O curativo

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" Feliz o homem a quem Deus corrige! Não desprezes a lição do Todo-Poderoso. Ele é quem faz a ferida e quem a cura; Ele fere e cura com as suas mãos ". Ela adormeceu com um livro aberto entre as pernas, com dedo sobre esta passagem, sublinhada a vermelho, do livro de Job. O livro era o da Bíblia, ainda com escrita antiga, porque além da Bíblia ser muito antiga, a edição que tinha herdado dos pais também não era nova. Nunca quis ter outra Bíblia. E agora, no canto da sala, sentada no cadeirão, com uma manta verde com riscas azuis sobre as pernas, ia passando grande parte das tardes. Aliás, na mesa de apoio, com tudo à mão, tinha a Bíblia, o terço, um livro de orações e umas fotografias dos entes queridos, uns ainda na terra dos vivos e outros já na terra da Verdade. O filho aproximou-se e, ao tentar tirar o livro das mãos da mãe, acordou-a. Já várias vezes o filho tinha lido da Bíblia da mãe; sabia inclusivamente que, um dia, mais cedo ou mais tarde, o livro seria se

Ao som da chuva

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Desde que vim de Roma o tempo não me chega. Ok, um pouco exagerado, tavez, mas é o que sinto. Têm sido coisas atrás de coisas, com imprevistos pelo meio, o que faz com que nem tudo esteja a ir ao ritmo que precisaria e que o meu trabalho merecia. Mas um sábado tranquilo, como há muito não tinha, está a dar para adiantar trabalho mais urgente, como a homilia de amanhã, que acabei de escrever. Ao som da chuva. Gosto da chuva. Da janela do meu quarto vou vendo as metamorfoses do dia que começou com algum sol, foi escurecendo, e acaba de chover forte e feio, seria a expressão, mas digo forte e bonito. Porque ela veio mansinha, com o seu introito, pinga aqui, pinga ali, o vento a dar expressão e, de repente, num crescendo contínuo, cai certinha, molhando tolos e não tolos. Cai muito depressa, como se a nuvem escura que pairou sobre o convento quisesse descarregar aqui a água toda de uma vez. Foi o som da chuva que cai, com algum ruído dos carros que passam, que me fizeram parar o qu

Onze do onze de dois mil e onze

Ontem, às onze horas e onze minutos do dia donze do onze do ano de dois mil e onze, estava no céu, que é como quem diz, no avião. A caminho de Roma. Dou-me conta que começa a acontecer com Roma o que já há anos tem acontecido com Fátima: ir em trabalho. E não há tempo para marcar programas extras. Vai-se com pouca antecedência, está-se na reunião e regressa-se ao final do dia ou no dia seguinte de manhã. Mesmo que por ilusão se possa pensar que a reunião acaba antes e pode-se ir à cidade eterna ver esta ou aquela igreja ou ainda a janela da sala de trabalho do Papa. A grande alegria é que fico hospedado, pela primeira vez, em Santa Sabina. Santa Sabina é uma das mais antigas igrejas de Roma. No século XIII o papa deu-a a São Domingos, e aí viveu e daí se fez a Cúria Geral. Já tinha estado duas vezes neste Convento, mas sempre de visita, de passagem. Desta vez vai ser diferente. Vou em trabalho, uma reunião de preparação de um encontro dos provinciais dominicanos da Europa que, em 2012,

Aniversário da Dedicação da Basílica de São João de Latrão

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Dizem que vir a Roma e não ver o Papa é uma grande falta, mas, vir a Roma e não me vir visitar é uma falta maior. Porque sou a mais antiga igreja de Roma e do Mundo. Com razão me chamam a "Mãe de todas as Igrejas". Antiga, bela e formosa. Sou antiga porque sou do tempo do cristianismo livre, dos tempos de Constantino, que me mandou construir. Pedra sobre pedra, aos poucos, numa mistura de lágrimas de trabalho misturadas com as lágrimas de alegria por, finalmente, deixarem construir-me para acolher os cristãos. Os meus construtores quiseram deixar a sua marca. E mandaram escrever, na minha fronte, por cima das colunas, estes dizeres: " Por direito papal e imperial, estabeleceu-se que eu seja a Mãe e cabeça de todas as Igrejas. Quando se concluiu toda a obra, determinaram dedicar-me ao divino Salvador, dador do Reino celestial. Por nossa parte, ó Cristo, a Ti nos dirigimos com humilde súplica, e Te pedimos que, deste ilustre templo, faças a tua residência gloriosa "

Aterragem

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Acabo de aterrar em Lisboa, vindo de Espanha, mais concretamente de Sevilha. Fui em trabalho, apesar de que quando de fala em viagens, se pense que se vai passear. Em representação do Padre Provincial, dois motivos me levaram à belíssima cidade de Sevilha: a uma reunião de provinciais da Península Ibérica e à tomada de hábito de dois noviços que ali estão a fazer o seu noviciado. A reunião, apesar de não se poder dizer muito, correu bem, quase tudo nomeações para cargos de coordenação de equipas de trabalho. Nestas coisas vem-me sempre à memória esta frase que não sei de quem é, será porventura da sabedoria popular, ou se a inventei, o que é pouco provável: quanto mais nos mostramos mais sobra para nós. A tomada de hábito, no domingo, foi simples e emocionante. Talvez mais para mim do que para eles, mais ontem que há treze anos. É sempre o mudar de roupa e o que isso significa. Vestir o hábito deveria dizer-nos que há hábitos a mudar, os maus, claro está. Embora o hábito não faça o

O que é a vida?

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O que é a vida? A vida é a nossa participação na história. Como as estações do ano ou como as paisagens, a vida vai mudando e nós com ela. Mas nós também mudamos a história. A história era diferente antes de nós e não será igual depois de nós. Nós mudamos a história com a nossa vida: as nossas acções, boas e más, as nossas palavras, as nossas opiniões e as nossas decisões, os nossos amores e os nossos ódios... Tudo é vida, tudo é história. Mas a vida não se cruza só com a história. Na nossa vida temos factos e temos pessoas. Cruzamo-nos com os outros, que também têm as suas vidas e as suas histórias. Como os castelos. Pedra sobre pedra, fortalezas, onde só entra quem deixamos, o sítio de encontro, o lugar da segurança, para os que amam, o lugar do amor. Bem situados, normalmente nos altos das vilas ou das cidades, de lá nós vemos quem se aproxima: amigos que nos querem bem, os mal intencionados, que nos deixam assustados, os desconhecidos que nos visit

Deus, pintor da vida

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No céu cinzento e molhado um arco-íris é desenhado pelo dedo de Deus. As cores não são as nossas; em vez de dinheiro, saúde, trabalho e sucesso, Deus pinta o seu arco com as cores da fidelidade, da esperança, da confiança e da fé. Deus, pintor da minha vida, guarda-me debaixo do teu arco da aliança, e que as cores que vejo no firmamento me ensinem a simplicidade, a confiança e a alegria.

Os primeiros de Novembro

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Na aldeia o mês de Novembro era um mês intenso. Todos os dias havia que celebrar, fosse religioso fosse mais profano. No dia dos Santos a aldeia respirava santidade: grande silêncio nas ruas e nas casas; os homens iam tratar do gado e as mulheres tratar do almoço. E nestes trabalhos de fazer por casa esperavam a hora da Missa, marcada pelo padre Acácio, para as dez da manhã, mais ou menos, tudo dependeria do tempo e da disposição da égua que o trazia. O animal andava cansado. Sempre carregada, os padres também pesam, e o padre Acácio tinha bom peso. A volta para dizer Missa era sempre a mesma: Missa em Pretarouca às sete, nas Dornas às oito e meia e em Feirão às dez. O padre Acácio gostava de ensaiar cânticos para a Missa. Quase sempre trazia um verso para ensaiar no fim da Missa e as raparigas cantavam bem. Depois da Missa juntava-as, cantava uma ou duas vezes o verso, mandava-as repetir e depois advertia-as que não o voltassem a cantar sem ele, não fosse o diabo tecê-las e altera