Parasceves

A palavra é difícil, litúrgica até. Mas pensei nela antes de pensar no texto. Parasceve vem do grego e significa Preparação. No judaísmo, embora usem mais o hebraico, significa a Preparação da Páscoa. Os cristãos, ao longo dos séculos davam este nome à Celebração de Sexta-feira Santa, talvez porque este dia, no ano da morte de Jesus, era o dia da Preparação para a Páscoa.
Mas uso esta palavra no sentido mais profano: preparações.
Que começaram ontem, com as preparações das Primeiras Comunhões do Externato Marista de Lisboa. Uma pequena conversa com eles, para lhes explicar o que significa o que vão celebrar. Apercebo-me que as palavras que usamos, sejam teológicas, sejam litúrgicas, são-lhes completamente estranhas: comungar, contrição, absolvição... um trabalho de enriquecimento da língua portuguesa, porque a conversa acaba por ser isso mesmo: interpretação.
Depois da conversa e preparação para as confissões, fazem a sua primeira confissão. Uns mais nervosos que outros, como em tudo na vida. Alguns pensam que é um exame e desabafam com os colegas: correu bem. Outros saem mais circunspectos e, quando fazem alguma asneira dizem tristes: ó pá, já me fizeste pecar!... Purezas e inocências que nós, adultos, as perdemos, e por isso, bem disse Jesus que deveríamos ser como crianças.
Hoje vieram ao convento fazer o ensaio. A atenção a tudo, para que nada corra mal, chega a emocionar.
Maristas à parte, porque as praias são muitas (tenho de confessar que são as mais bem preparadas e tranquilas que faço são as dos maristas), este trabalho directo com as crianças é muito importante. Quase um remar contra a maré. Dá pena que alguns pais ainda façam da Primeira Comunhão um momento social a que os filhos têm direito, ou se preocupem demasiado com o almoço da festa ou com o "vestido de noiva" para as filhas (os rapazes são mais fáceis de vestir, ainda que, a este propósito, me lembre de, num ano, ver um rapaz de fato e gravata. Senti-o incomodado com a gravata. Disse-lhe para tirar a gravata, que o que era importante era que se sentisse confortável, ao que me respondeu: obrigado frei, não sei como agradecer-lhe!).
No ano passado o Papa Bento XVI pedia que se simplificassem as Primeiras Comunhões. Mas não há volta a dar. Restam-nos as parasceves, que são momentos mais sérios, profundos, e que levam as crianças a perceber o que vão fazer. Em relação ao aparato, com pena minha, fica a resignação, para não estragar a festa.
(Fotografia: Acto de contrição escrito no quadro. Escrevo, ou levo escrito, sempre que possível, para que as crianças não fiquem nervosas por não o saberem de cor)

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