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A mostrar mensagens de abril, 2011

Coisas do céu

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Se eu, ao mostrar esta fotografia, disser que foi tirada esta tarde, por volta das seis, algumas pessoas não irão acreditar. Mas foi. Das 15.30 às 17.30h, nesta zona do Alto dos Moinhos, Pontinha e Colégio militar, fomos atacados com trovoada, chuva e saraiva! Mas literalmente. Ao som do primeiro trovão - grande nuvem negra pairava sobre o convento - saí de casa, enquanto não chovia, para ir para o hospital. Tinha de passar no Colombo e, por isso, mesmo que chovesse, podia esperar lá porque a coisa era passageira. Pois ao sair de casa começaram as primeiras gotas grossas; quando saí no Colégio militar a coisa estava mais feia mas, quando entro no centro comercial e olho para trás... só percebi que era granizo porque o barulho era tanto (os tectos do Colombo são de vidro) que deu para ver que não era só chuva. E foi, bem à vontade, mais de 10 minutos a cair do céu aqueles berlindes de gelo. Mas comigo tudo bem. Deu para ir ver uns livros e uns CDs. Quando vou para sair, já o gelo tinha

A beatificação de João Paulo II

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No próximo domingo será beatificado o Papa João Paulo II. Há os que, excitadíssimos, contam os minutos que faltam e os que estão contra esta beatificação. Os primeiros, mais conservadores, organizaram peregrinações a Roma, querem festejos especiais… uma animação. Os outros, mais liberais (esta nomenclatura conservadores vs liberais fica mal na Igreja mas o que é facto é que os há…), mandam mails a dizer que Ratzinger matou João Paulo II e que João Paulo II não deveria ser beatificado pelo mal que fez à Igreja e porque não avançou em temas como a ordenação das mulheres ou dos padres casados ou ainda a questão da sexualidade (contraceptivos) os do abuso de crianças por parte de alguns padres católicos… e a lista poderia continuar. Mas há também um grande grupo de católicos que não se identificam com nenhuma destas correntes. Estou numa pequena casa dos dominicanos, à beira mar plantada, e a casa tem uma capela onde, quando possível, há a celebração da Missa. A zeladora da capela disse-me

Tríduo - avaliação

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Passou o Tríduo pascal. Desde que foi dedicada a igreja do Convento onde vivo que os dominicanos têm celebrado lá este grande mistério da fé. Antes, íamos celebrar ao Mosteiro do Lumiar porque o Convento não tinha um espaço celebrativo para celebrações destas. Também desde o dia da Dedicação da Igreja que escrevo num caderno de capas pretas os principais acontecimentos que se lá passam e faço também uma avaliação das principais festas do ano litúrgico: Natal e Páscoa. Acerca deste ano creio que foi um ponto de chegada quer em relação à afluência quer em relação à qualidade. Este foi o sexto ano que se celebrou a Páscoa nessa igreja. No fim da Vigília pascal várias pessoas deram os parabéns pela qualidade das celebrações. Também achei. Desde as leituras, os cânticos – este ano deixámos as tradicionais fotocópias para passarmos a ter um guião editado – o ambiente celebrativo à boa maneira dominicana, simples e sóbrio, criaram uma interioridade e uma intensidade que às vezes não se conseg

Democracia

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Quem conhece bem a Ordem dominicana reconhece, entre outras coisas, a democracia que existe na Ordem. De facto, os dominicanos são democráticos. E não é de agora. Já há 800 anos que elegemos os nossos superiores! Dizem as crónicas daquele tempo que o próprio São Domingos se submetia às decisões dos Capítulos gerais. Também se diz que a Constituição americana se inspirou nas constituições dos dominicanos (eleições, representatividade…) Em que é que somos democráticos? Em tudo. Desde a eleição dos priores do convento até à eleição do Mestre da Ordem, tudo é feito por eleição, ganhando quem alcançar a maioria. A diferença dos outros sistemas democráticos é que não há campanha eleitoral. Depois, também os oficiais do Convento (subprior, ecónomo, conselheiro…) ou as coisas mais importantes da vida comunitária (horários, aprovação de orçamentos e de contas) também se fazem de acordo com a maioria, seja por eleição seja por votação secreta. O exemplo do governo de um convento é paradigmático:

Liberdade

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Não sei o que foi o 25 de Abril. Fui gerado, nascido e criado depois desse acontecimento. A única realidade sociopolítica que conheço é a que vigora: a democracia. E confesso que também não me agrada muito. Entendam-me: não é tanto pela democracia – defendo que, apesar de não ser o modelo perfeito, é o melhor que temos – mas pelos excessos que se cometem. Tem-me impressionado que, nos últimos tempos, algumas das pessoas que viveram o 25 de Abril digam que agora fazia falta um Salazar (a uma senhora ouvi dizer que, agora, nem cinco Salazares a governar!) para por isto tudo na ordem… Assistimos às desgraças do país como se não dependesse de nós mudar tudo isto. A democracia, que devia estar cheia de esperança, é vivida com tristeza, descrédito, desespero e, este ano, com o fantasma do FMI, que é quem nos vai governar nos próximos anos (curiosamente não foi eleito mas sim imposto...). Mas, se virmos bem, nunca estivemos tão condicionados como agora! Temos eleições e, há trinta anos que os

A mãe de todas as vigílias

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Um pouco por todo o mundo, sobretudo na Europa, começam as celebrações da Páscoa, com a Vigília pascal, a mãe de todas as vigílias. Uma das mais antigas indicações diz que ela deve começar depois do pôr-do-sol e terminar antes do nascer do sol. É uma vigília, durante a noite em que os cristãos aclamam Cristo-Luz, escutam Cristo-Palavra e comungam o Corpo Ressuscitado. É Cristo que nos reúne, é Cristo que dá sentido à nossa vida, é Cristo que nos ressuscita com ele. Que a alegria de Cristo Ressuscitado encha o nosso coração para que possamos levar aos outros a boa notícia de que a morte foi vencida e que a vida é, afinal, eterna. BOA PÁSCOA!

O silêncio da dor

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Quando morre alguém que nos é querido, depois do funeral e das lágrimas, vem o silêncio. O silêncio tem muitas cores. Pode ser de contemplação, de descanso, de não ter nada para dizer... mas também pode ser de dor. Às vezes o silêncio é o único som que conseguimos dizer. Hoje toda a Igreja está em silêncio. Não é como os minutos de silêncio que fazemos em memória de alguém. Não é porque o Senhor morreu, pois sabemos que ele ressuscitou e, então, o silêncio seria teatro. Hoje estamos num silêncio de solidariedade. Diante do mistério da dor, do sofrimento e da morte, o silêncio continua a ser o grande amigo das horas sofrentes. Hoje unimo-nos ao silêncio dos que não têm palavras e se calhar até lágrimas para exprimir a sua dor. Com o nosso silêncio dizemos a todos os que sofrem: somos solidários. Hoje a Igreja fica em silêncio como Maria. Um silêncio que não é de revolta nem de porquês. É um silêncio habitado. Cheio de confiança e de esperança de que Deus falará nos nossos corações.

Morrer para dar vida

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A Igreja celebra hoje o mistério da morte de Jesus. O sentido da morte liga-se ao sentido que damos à nossa vida. Morremos como vivemos. Por um lado, em Jesus vemos que a sua morte é a consequência da sua vida; por outro vemos que o modo como morreu foi contrário do que viveu e ensinou. Ele que nunca incitou à violência teve uma morte violenta; ele que nunca quis que os seus sofressem sofreu em silêncio o mal que lhe faziam; ele que era seguido por multidões experimenta o drama da solidão. Hoje é um dia de contemplar em silêncio o mistério da cruz. Hoje, ao olhar para o Crucificado, vemos que nele se cumpre a profecia de Isaías, que escutámos na primeira leitura: um homem desprezado e repelido pelos homens, um homem de dores, acostumado ao sofrimento, de quem desviamos o nosso olhar. Hoje, ao olhar para o Crucificado, vemos que ele é, ao mesmo tempo o sumo-sacerdote e a vítima, e que o seu sangue derramado é o sangue da nova, definitiva e eterna aliança. Hoje, ao olhar para o Crucifica

Dei-vos o exemplo

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No Evangelho da Missa da Ceia do Senhor, Jesus, depois de lavar os pés aos seus discípulos - embora não o tivesse feito para lhes dar o exemplo, como se estivesse a ensinar como se faz - pede-lhes que eles façam como ele fez. Mas, o que é que Jesus fez de tão extraordinário? De facto, lavar os pés aos convivas era um ritual normal, na prática do acolhimento. Mas aquele gesto resumiu toda a vida de Jesus. Afinal ele não veio para servir? Aqueles gestos de humildade de sair do seu lugar, de tirar a sua túnica e de se curvar diante dos Doze, são o melhor ensinamento, quase sacramental, de que todos devemos estar ao serviço de todos. E sem glórias, visibilidades ou louvores. Na intimidade, como Jesus fez com os Doze. Mas continuemos a reparar nas mãos de Jesus. Nesta Ceia elas serviram para lavar os pés dos Doze e para partir e repartir o pão e o vinho, estes sim, sacramento do seu Corpo e Sangue. São as mesmas mãos que tocaram nos olhos do cego de nascença, as que levantaram do chão a pec

A última Ceia de Cristo

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(Pascal Dagnan Bouveret, a última Ceia, 1924)

No mínimo comovente

(Neste post decidi não colocar nenhuma imagem. Desculpem. Tenho-a na minha cabeça e não a consigo digitalizar) Hoje assisti a um episódio - episódio é uma palavra fria para descrever o que vi e senti - no mínimo comovente (foi bem mais que comovente). No hospital onde tenho ido visitar um doente tem aparecido uma amiga dele, com trissomia 21, acompanhada de uma Irmã. Várias vezes já nos cruzámos, sobretudo no corredor, eu a sair e ela a entrar. Mas hoje coincidimos no quarto. Já tinha ouvido histórias desta amizade mas hoje vi que, de facto, os sentimentos unem muito as pessoas. Ela entrou, viu que eu estava e ficou calada. Comportamento típico de quando se está com estranhos. Depois lá quebrei o gelo, pedindo-lhe um beijinho, que deu, e oferecendo-lhe a cadeira onde estava sentado (ela gosta muito de estar sentada). E tudo o resto pareceu um ritual, os dois abstraídos dos que estávamos no quarto. Ela pegou na cadeira, aproximou-a da cadeira do amigo e sentou-se. Olhou para ele, levant

Ver e ler

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Esta noite tenho uma vigília de oração e, amanhã, ao final do dia, começo a pregar mais um retiro, até quarta-feira santa. Graças a Deus que o preparei há já algum tempo e, por isso, hoje estou mais aliviado. Também hoje vou começar a leitura de um livro de arte " As cores da Crucifixão ". Ler, aprender, perceber e contemplar como, ao longo dos anos, foi evoluindo, na arte, a ideia da Crucifixão de Jesus. O interesse é que a arte não revela só os sentimentos do autor mas de toda uma cultura e de uma época. (imagem: Emil Nolde, a Crucifixão, 1912)

De mãos dadas

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O meu calvário é um hospital e a minha cruz é uma cama. Os pregos foram trocados por catéteres e tubos, em vez de fel e vinagre dão-me injecções e comprimidos. Não sou um novo Cristo nem o Servo de Deus, mas estamos unidos nas mesmas penas e nas mesmas paixões. As manhãs passam-se em limpezas de maus cheiros, as tardes com visitas que cansam e as noites com barulhos incómodos. Quando se está doente tudo irrita porque a paciência é pouca. E vou olhando quem me visita. E pergunto porquê? Porque é que vieram? Por amizade, talvez, mas as caras que trazem são de inquietação, de tristeza, talvez já se adivinhe que o que aí vem pode não ser bom. E faltam as forças. Há visitas mais assíduas, as do dever, as da amizade, as da família, as do interesse, e há também as não visitas. Sim, há gente que não me visita. Porque não me quer ver assim, porque acha que em breve vou para casa... mas a verdade é que estou aqui há muito tempo. E fecho os olhos. De cansaço. Parece que vejo o meu corpo, os meus

O livro do Papa

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Ontem à noite, antes de adormecer, acabei a leitura do novo livro do Papa. Comecei a leitura no primeiro Domingo da Quaresma; levou-me quase um mês a ler. Normalmente sou mais despachado, mas este livro é complicado. Comprei-o e publicitei-o porque pensava que ia na linha do primeiro volume, mas não. É bem mais difícil e pressupõe uma visão biblico-teológica. O primeiro volume era mais espiritual e, para mim, bem mais interessante. No entanto, mesmo com mais ou menos cultura bíblica, é um livro que deve ser lido. Ficamos com a percepção de que em Bíblia não há certezas mas hipóteses. Que ler é interpretar e que interpretar é dar um sentido. Novidade? Alguma. É pena que o Papa (deveria dizer-se Joseph Ratzinger), na introdução fale de bibliografia recente (obras desta última década) mas depois, no texto, que ande à volta de exegetas dos anos 60-70 (é verdade que também usa autores mais recentes). O que valorizo neste livro? A bibliografia comentada. Gosto. Quem faz escolhas bibliográfi

Homem de dores

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" Sou contado entre os que descem à sepultura / sou um homem já sem forças ". Este é um versículo do salmo 87, que o autor intitulou de «Oração do homem gravemente enfermo». Os salmos são poemas da vida. Quem os escreveu, escreveu-os a partir da sua vida, dos seus sentimentos, da sua relação com Deus. E, às vezes, só fugindo do real, é que se consegue exprimir o que se sente através de um traço escrito ou desenhado, de um som que ganha tempo e forma numa pauta de música ou num instrumento. Este salmo é triste, ou melhor, é uma oração triste, de um homem muito doente, quase sem forças, porque as poucas que tem gasta-as no grito da oração. Esta foi a oração de um homem, incógnito. Esta foi a oração de um povo que sentiu, como comunidade, a distância de Deus " Porque então me afastais de Vós, Senhor / porque escondeis de mim o vosso rosto? ". Mas não deixa de o invocar. Este salmo foi o salmo de Jesus. Num momento igual ao deste autor. Não por doença mas pelo seu sofr

Tem a sua piada

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Escrevi eu, há umas horas, que ando preocupado, cansado, etc. etc. Fui esta tarde visitar um frade da minha comunidade, que está hospitalizado, e comprei-lhe o jornal. Ofereciam um livro de jogos de passatempos. Fiquei com ele. Enquanto esperava pelo comboio, para descontrair, evadir até do cansaço - ia celebrar uma missa - comecei a resolver alguns dos problemas do livro. Não é que num jogo pedem para preencher uma frase codificada e sai-me " Quem vive no convento é que sabe o que vai lá dentro "??? Só pensei: não acredito. Nem a jogar me distraio.

Com saudades

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Estava com saudades de aqui vir. Não sei bem porquê, talvez porque seja mais fácil escrever que falar. Estar uma semana sem aqui vir diz muito da minha vida: bastante trabalho (que adianta queixar-me...), preocupações, cuidados, correrias... Mas enquanto vejo aqui no convento as pessoas que estão em silêncio, sentadas ou a passear pelo claustro (hoje é aqui dia de retiro), também eu paro aqui uns minutos para dizer que estou vivo e que estou bem, apesar de tudo. Espero em breve aqui vir com mais calma. Tem sido uma quaresma difícil e não precisei de arranjar penitências... a vida encarregou-se disso. Abri o meu livro de citações e encontrei uma que me dá força e me faz estar e ficar onde estou sem grandes lamúrias. Diz assim: " Dá atenção a tudo o que está debaixo de ti. Se foges do relâmpago do tempo como queres contemplar um relâmpago de eternidade? ". Que Deus transforme tudo em dom.

Desgraças a sorrir

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Tenho ido nestes fins-de-semana à terra onde me criei. O pároco não está e pediu-me que o substituísse. Uma Missa vespertina de sábado e uma de domingo a acrescentar às que já tenho. Um duplo sentimento: por um lado o tempo passa e a malta mais nova já não me conhece e por isso maior distância; os que na altura já tinham alguma idade agora têm mais mas esses sim, ficam contentes de me ver; e há os da minha idade, anos para cima anos para baixo, os da minha geração. Hoje falei com uma amiga minha, um pouco mais velha que eu, catequista, e perguntei-lhe pela família: irmãos e pais. E foi a desgraça completa: o pai morreu, a mãe, doente com uns problemas na perna, está a viver com ela, que é casada e tem dois filhos; um irmão surdo-mudo, casado e com dois filhos, paralisado numa cama com uma doença degenativa; uma outra irmã, a viver no norte, casada e com um filho, uma outra irmã também casada e com três filhos que vive longe e a mais nova, casada, abandonada pelo marido, com um filho,