A beatificação de João Paulo II

No próximo domingo será beatificado o Papa João Paulo II. Há os que, excitadíssimos, contam os minutos que faltam e os que estão contra esta beatificação. Os primeiros, mais conservadores, organizaram peregrinações a Roma, querem festejos especiais… uma animação. Os outros, mais liberais (esta nomenclatura conservadores vs liberais fica mal na Igreja mas o que é facto é que os há…), mandam mails a dizer que Ratzinger matou João Paulo II e que João Paulo II não deveria ser beatificado pelo mal que fez à Igreja e porque não avançou em temas como a ordenação das mulheres ou dos padres casados ou ainda a questão da sexualidade (contraceptivos) os do abuso de crianças por parte de alguns padres católicos… e a lista poderia continuar. Mas há também um grande grupo de católicos que não se identificam com nenhuma destas correntes. Estou numa pequena casa dos dominicanos, à beira mar plantada, e a casa tem uma capela onde, quando possível, há a celebração da Missa. A zeladora da capela disse-me que no domingo quer também celebrar a beatificação do “Beato Santo Padre”: vai colocar na capela uma imagem grande que tem em casa e “acender-lhe a vela que lhe pertence”.
E eu? Onde me situo? Talvez neste grupo mas com mais contenção ainda. Mas devo dizer que não concordo com estas duas posições extremas. Por um lado é bom que alguém próximo de nós no tempo e no espaço seja uma referência para a Igreja; por outro acho de um tremendo mau gosto Católicos andarem por aí contra a beatificação porque o vento do pontificado de João Paulo II não soprava do lado que eles queriam.
Em relação a esta beatificação acho que sim. Que este homem de Deus foi excepcional. Ser beato não quer dizer não ter pecados. Ser beato quer dizer ser feliz. E este homem foi feliz e fiel. Feliz pela experiência que fez de Deus, pelo que disse, pelo que vez não só a favor da Igreja mas também do mundo. Que teve pecados? Todos os santos tiveram. Que se saiba, na história do cristianismo, para além de Jesus, só Maria é que não terá tido pecado porque era cheia de graça. E agora pense-se em quem se quiser e veja-se se não teve pecados… a começar pelo próprio Pedro, que negou Cristo e a quem Cristo até chamou de Satanás! Ou mais adiante Santo Agostinho que antes de se converter teve uma vida pouco católica que ele próprio confessa… e por aí fora. Se só fossem beatificados ou canonizados os que nos caem bem seria também tudo muito poucochinho.
Em relação a estes processos de beatificação e de canonização em geral também tenho uma opinião. Acho mal que a beatificação de uma pessoa dependa de um milagre post mortem para acreditar tudo o que fez em vida. Então o que conta? O que fez e o que disse em vida ou o milagre depois da morte que o faz sobressair? Neste aspecto João Paulo II teve sorte. Coitados dos que estão “encalhados” por falta de milagre… e não são poucos! Eu defendo que se o que nos salva é a fé e as obras, para que é que temos de nos sujeitar à ciência que não reconhece a fé? Parta que é que a Madre Teresa de Calcutá precisava de um milagre para ser beatificada? Não tinha bastado a sua vida? Aqui é que acho que deveria mudar o esquema. E então teríamos muito mais gente “oficialmente reconhecida” e teríamos até mais por onde escolher.

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