Hospital botânico

Tenho, num canto do corredor do convento, o mesmo piso onde vivo, uma espécie de hospital botânico. Tudo começou quando, no hospital, começaram a deixar plantas que, por falta de luz natural, iam secando e quase morrendo. E, então, comecei a trazê-las para cá e a tratar delas. Claro que o mérito meu resume-se praticamente a trazê-las e, muito de quando em quando, fazer a visita médica, cortando alguma flor que secou, regando alguma mais seca, endireitando o tronco de uma orquídea... O grande trabalho é o de uma empregada que, como se fosse uma enfermeira, dedicadamente as rega e administra os cuidados básicos. O que é certo é que o sol, água e atenção, quase ressuscitam as flores. Algumas, sobretudo orquídeas, vou oferecendo a quem passa por lá e gosta delas. Senão já não era um canteiro mas jardim.
Mas, há dois ou três anos, vieram entregar-me uma planta, porque iam mudar de casa e o convento poderia cuidar dela. O que ela precisava era de luz e que fosse regada pelo meio das folhas que parecem um funil ou um cone. Regava, regava e nada. Desmotivei-me e desmotivaram-me: é pouco provável que nasça... Há uns meses houve uma tentativa de nascimento mas a pobre flor mirrou pouco antes de dar à luz. Mas, quando regressei de Espanha e fui ver as plantas, qual o meu espanto quando vi que uma flor tinha nascido. E bem bonita que está.
Não é só com as plantas que isto acontece. Connosco também. E não sei se é necessidade ou instinto de sobrevivência e de felicidade. A felicidade é uma necessidade ou um instinto? Talvez as duas coisas. Acompanho uma história comovente de uma pessoa que está prestes a mudar de vida. De repente, parece que tudo mudou: nem o passado nem o presente lhe dizem alguma coisa; ele já só pensa e vive no futuro: uma vida nova. Um dia, este rapaz que conheço, há-de ser como esta planta que tardou a florir mas venceu a necessidade e o instinto. Deus queira que, no futuro, ele se lembre que antes desta nova vida que se lhe coloca com tanta ilusão e que agora fica para trás, houve um tempo em que foi amado, cuidado, quase ressuscitado, como as plantas do meu hospital botânico. Agora é tempo de florir. E de ser feliz.
 

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