Impostos
O senhor 'Manolo' é um pobre pescador da pequena baía de Cadiz. Digo pobre pescador não porque o conheça mas pela monótona vida de pescador, cuja variante será a quantidade de peixe que possa apanhar ou algum mais especial que possa cair nas suas apertadas redes.
Do barco faz casa. Passa o dia no barco, entre o porto e o mar, arranjando as redes, lançando-as ao mar e rezando à Virgen del Carmen para que haja peixe abundante.
E explica-me enquanto fuma o seu cigarro e bebe a sua cerveja: mire usted: o mais mal pago sou eu! Eu pago a gasolina e a manutenção do barco. Apanho o peixe mas não o posso vender directamente; tenho que o entregar na lota. E agora veja o que vai de impostos: nada mais o peixe chegar a terra, tenho de pagar um imposto ao estado por ter pescado um peixe das suas águas. A lota fica também com o seu e veja a que preço o peixe já vai sair da lota. Depois, o peixeiro vai vendê-lo ao consumidor final a um preço superior ao que comprou, para pagar o imposto pelo seu comércio e ter a sua margem de lucro. E arrematava: o mais prejudicado sou eu! E eu respondi: desculpe mas sou eu, que pago os impostos de todos!
E o senhor Manolo, atirando a beata para um canto diz: Vale, las dos puntas. Hasta luego!
(imagem: Adolphe-Félix Cals, o pescador, 1874)