(in)diferença


(vídeo com música para ouvir durante este texto ou mais tarde, quando aparecer a indicação)

Já se vai divulgando a futura associação "João13", que vai nascer a partir do convento. Não vou hoje falar dela, até porque não faltarão ocasiões para dela falar. Mas tenho tido reuniões com os que agarraram este projecto para pormos em marcha esta nossa vontade de amar e servir a Deus , amando e servindo o próximo e, através desta associação, os sem-abrigo em especial, dando-lhes a possibilidade de tomar banho, mudar de roupa e uma refeição numa sala de refeições.
Ontem tivemos uma reunião para ver a questão dos voluntários e voluntariado e hoje uma reunião com a "Comissão instaladora" para as questões de objectivos e motivações.
Hoje foi também um dia de preparação da igreja para as celebrações da Semana Santa. Graças a alguns amigos do convento ficou tudo preparado para amanhã. E todo o dia esteve no convento, sem que se fizesse notar, o senhor Luís, que queria falar com um frade. Frade este que estava ausente, e o senhor Luís não se importou nada com isso, tinha tempo e não tinha que fazer, por isso esperou. Esteve sentado nos bancos da entrada do convento, com um saco ao lado e depois mudou-se para a porta da garagem. Uma amiga do convento, que vinha à Missa vespertina, encontrou-me e falou-me da preocupação que o senhor lhe causava: estava no convento desde a manhã, não sabia se estava bem, se tinha comido... Pedi-lhe que fosse lá falar com o senhor para ver o que se passava. Regressou pouco tempo depois a dizer que estava à espera do frei que conhecia, na esperança de o poder ajudar. Quando acabámos a reunião, por volta da hora do jantar o senhor Luís estava na portaria do convento, de pé, à espera. Eu estava acompanhado com uma amiga que faz parte da "comissão" e perguntei-lhe o que queria e lá me explicou: queria falar com tal padre, que já uma vez o tinha ajudado, porque precisava de uns medicamentos para a tensão e não tinha dinheiro. Perguntei-lhe que medicamento era, mostrou-me a receita, disse-me que o medicamento não tinha comparticipação, que custava oito euros na farmácia. Como estava de saída com esta minha amiga, pedi-lhe que me acompanhasse com o senhor Luís para lhe ir aviar o medicamento. Lá fomos, ele já lá tinha estado, pedi o medicamento, paguei-o e dei-lhe algo mais para poder comer qualquer coisa. Perguntei-lhe onde ia e ele disse que ia para Santa Apolónia, para ver se conseguia comer qualquer coisa. Perguntámos se queria que lhe arranjássemos algum albergue e ele disse que sim. Não tinha família, é de Montemor, a mãe morrera-lhe e a reforma dele não lhe dava para manter uma casa alugada. Há duas semanas veio a Lisboa para ser operado mas os médicos disseram que não, não valia a pena operar. E como não tinha para onde ir foi ficando por cá, lavando-se em casas de banho dos hospitais e ajudado pela comunidade Vida e Paz que, em Santa Apolónia lhe dava de comer. Fizemos uns contactos, todos eles bem sucedidos, e pediram-nos que o fossemos levar a uma esquadra perto e depois voltássemos a ligar para que depois o pudessem encaminhar para um sítio. O senhor Luís não gostava muito da ideia, de ir para a polícia, disse-lhe que não tivesse medo que não ia ficar preso, era só porque nós não podíamos continuar ale e ele não tinha nenhum contacto. Lá aceitou ir. Fui buscar a carrinha, entrou e a música do rádio começou a tocar: Ubi caritas et amor Deus ibi est! (clique no vídeo que contém a música que os três escutámos a caminho da esquadra). Perguntei-lhe, entretanto se era religioso, disse que sim, lembrou-se de padres que conhecera, sempre ligado à Igreja. Perguntei-lhe se ainda teria forças para trabalhar e disse também que sim, apesar de não ver de uma vista. Chegámos, entretanto, à polícia, identificámo-nos e expusemos o sucedido. O agente, solícito, recebeu o senhor, mandou-nos embora descansados e, quando tivesse boas novas, que nos dizia. E assim aconteceu: uma hora e pouco depois, o agente da polícia ligava-nos a dizer que o Senhor Luís ia para um albergue da Santa Casa.
E nós demos graças a Deus que deu conforto a um senhor de sessenta e oito anos que iria dormir por aí.
E eu dou graças a Deus por estas duas amigas que não ficaram insensíveis ao senhor Luís. E rezo ao bom Deus que inspire a João13 para que seja sempre atenta e solícita aos que pedem a nossa ajuda e apoio: "Senhor, não deixes que as trevas da indiferença me impeçam de te ver nos que mais sofrem".


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