Miguel Torga no hospital

Voltei a visitar uma senhora, internada no Hospital da Luz, unidade de cuidados paliativos. Sempre me fez muita impressão a rotineira pergunta: "Então como vai?" Se uma pessoa sabe que não está bem a resposta vai ser: "mal!". Opto por outra pergunta: "Então como tem passado?" E então há mais possibilidades de resposta e de seguir conversa: "Estou bem, não tenho dores..."

Mas, como dizia, visitei esta senhora pela segunda vez. É impressionante como se mantém calma e serena em relação à morte que está perto. Tem pressa de morrer. Não queria morrer em casa... "Deus não me chama", disse-me. Falámos, então, do tempo de Deus que é diferente do nosso tempo. Mas o grande tema de conversa foi Miguel Torga, de quem ela é apaixonada: "é a minha paixão!" Vêm-lhe as lágrimas aos olhos. Li pouco Miguel Torga. A primeira coisa foi o Romance da Raposa. Já muito mais tarde li os Contos, e agora, tenho na estante a Poesia Completa e a Vindima à espera de tempo para serem lidos. Mas a D. Isabel diz-me que o melhor de Torga é o Diário: "Tem que começar pelo diário. Lemos a história dele e a história do país".

Torga dizia que era agnóstico. No entanto, estava perto de Deus (e Deus perto dele).

Deixo aqui duas citações que a D. Isabel, de olhos embargados, recitou. A primeira, retirada do Diário X: "Tréguas com Deus. Mas ainda não consegui saber se fui eu que deixei de lutar com ele, se foi ele que deixo de lutar comigo". A outra, também do Diário XIV, diz: "Deus. O pesadelo dos meus dias. Tive sempre a coragem de o negar, mas nunca a força de o esquecer".

Fiquei com vontade de ler o Diário. Já o procurei. Anda esgotado. Vou ver se o encontro na bibioteca do Convento...

Ah... já agora, Miguel Torga é o pseudónimo de Adolfo Correia Rocha. Aqui fica a imagem de uma torga:

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