O meu Cristo sem cruz

não está numa cruz.
Vejo-o na cama,
deitado,
quase apagado,
mas sem as dores
nem as marcas
de Jesus crucificado.
Da cama onde está,
envolvido num sudário comum,
de mãos abertas e pés cruzados,
não cita salmos.
Respira fundo,
habita o profundo
nestes silêncios calmos.
Voltado para Deus
-virá da janela ou da porta? -
espera,
respira, volta-se,
e sente a brisa suave,
a mesma de Elias,
que refresca o seu corpo doente
e alivia o peso dos dias.
O resto já não lhe importa.
(Imagem de Georges Henri Rouault)