Um dia de São Domingos



Nós, Dominicanos, celebramos hoje uma festa “menor” de São Domingos. Digo menor porque o dia da sua comemoração, na Igreja, é a 8 de Agosto. A data de hoje é uma data alternativa para que as comunidades possam celebrar juntas a memória do seu fundador.
Uma memória viva, ou real, se quisermos. Viva porque nós, dominicanos, e todos os que se identificam com este ideal, com este carisma de são Domingos, somos chamados hoje a tornar presente as atitudes e as intuições de São Domingos como o estudo, a pregação, a comunidade e, sobretudo, a misericórdia. Somos chamados hoje, no nosso tempo e nas nossas circunstâncias, a actualizar, através da nossa vida, a vida de São Domingos.
Digo actualizar a vida de São Domingos porque nós, Dominicanos, só nos podemos agarrar ao que ele fez, porque o que ele disse vem narrado por outros que o ouviram dizer e, além de uma carta que escreveu às monjas de Madrid, não temos mais nada. Mas sim, poderíamos ver a vida de São Domingos como um livro evangélico, a vida de um irmão, de um mestre e de um fundador que viveu profundamente o Evangelho.
Por isso, nem a esse passado nos podemos agarrar, como se se tratasse de uma relíquia.
Mas nesta nossa celebração gostava só de destacar duas atitudes de São Domingos que poderão ser um caminho para manter esta memória viva.
A primeira é a da procura da verdade. Numa antífona que cantamos em honra de São Domingos, e que iremos cantar no final desta nossa celebração, dizemos que ele é doutor da verdade (Doctor Veritatis). Ora, a verdade não é património exclusivo de uma pessoa. Alguém que dissesse que possui a verdade absoluta depressa se tornaria num terrorista ou num intolerante. A verdade da qual São Domingos é doutor é a verdade que é uma constante procura, uma permanente investigação e não um absoluto. Se assim fosse a verdade estava enclausurada e não era preciso nada mais que decorá-la e papagueá-la. Por isso a dimensão do estudo é importante na nossa vida. Esta verdade que se procura, nas fontes do Evangelho, que se escuta e que se percorre, como um caminho aberto.
A segunda dimensão que gostaria de realçar é a do diálogo. Que vem da busca da verdade. Percebermos que o diálogo foi uma atitude constante da vida de São Domingos. Dialogar com as pessoas, dialogar com o mundo para o perceber, não numa atitude impositiva – deixaria de ser diálogo para ser monólogo – nem para vencer ou convencer. São Domingos nas suas pregações, nos seus encontros com os hereges, não estava para vencer ou impor a doutrina mas sim para iluminar. Por isso, também na antífona que iremos cantar no final se começa por chamar são Domingos de Luz da Igreja “Lumen Ecclesiae”. A atitude dialogante de São Domingos não se resumiu a conversas mas a todo um testemunho de vida que passou, certamente, pela prática do Evangelho e que as leituras de hoje tão bem nos dão conta: a vida dos pregadores é a vida dos discípulos de Jesus.
É esta a graça ou as graças que podemos pedir nesta tarde a São Domingos: a sede da verdade que se sacia nas fontes do Evangelho e a capacidade do diálogo para que das trevas se faça luz. Que assim seja.

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