As três violetas


Nos últimos dias tenho andado a ler, antes de me deitar, a biografia de São Marcelino Champagnat, fundador dos Irmãos Maristas, editada em 1856, escrita por um dos seus primeiros seguidores, o Irmão João Baptista. Ontem foi o funeral do Irmão José, de oitenta e sete anos e sessenta e nove de Irmão Marista. Hoje e amanhã estarei com mais dois ou três padres a confessar os alunos do Externato. Mas voltemos ao Ir. José. Era, certamente, o Irmão mais conhecido do Externato. Sempre sorridente, solícito, no seu posto de trabalho - a papelaria - sem ninguém esperar, de uma sexta para um domingo, morre. Talvez enquanto foi vivo pouca gente tivesse reconhecido a sua importância porque, às vezes, é preciso deixar de ter para dar valor. A Missa de ontem foi o mais belo presente que lhe poderíamos dar. Foi mais do que uma homenagem. A presença dos outros Irmãos Maristas, o silêncio dos alunos, as lágrimas que corriam na cara de algumas pessoas, os testemunhos que os representantes dos vários ciclos deram do Ir. José foram de uma simplicidade e de uma beleza que emocionou. A mim emocionou. Não foi uma celebração de morte. Foi uma celebração de comunhão com alguém que, de certeza está já junto de Deus.
As flores mais queridas aos Irmãos Maristas são as violetas. No livro ainda não consegui encontrar as origens e o porquê, mas num outro sítio, de que faço fé, li que São Marcelino num passeio pelo campo viu três violetas. E pensou: "Humildade, modéstia e simplicidade. A melhor maneira de educar para o mundo transformar". Felizmente que, no Irmão José, e também nos outros Irmãos Maristas, conseguimos cheirar o perfume destas violetas.
Hoje o Irmão José não estava na papelaria como nos outros dias. Mas estavam as professoras a enfeitar a montra com o presépio, como ele fazia. E que tudo continue, se calhar não ao jeito do Irmão José, mas não deixando cair o que ele levantou, tudo isto envolvido na humildade, na modéstia e na simplicidade.

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