Venho cansado
Venho cansado de um dia em que preguei um retiro. O cansaço não é deste dia mas a acumulação de vários já de antes do Natal. Mas vou sentindo que vou sendo útil - embora servo inútil, como Jesus nos ensina no Evangelho - com uma palavra que possa ajudar a mudar.
Na sala dos encontros do retiro encontrei um livro que me chamou à atenção "Vida quotidiana - Vida cristã" de um cardeal belga, Cardeal Suenes, que marcou a história da Igreja da Bélgica pela sua abertura ao mundo e ao papel dos leigos, coisa que nos anos quarenta ainda não era muito normal. Este livro, no tempo desactualizado (1965) mas actualizado na espiritualidade, continua a ser confortante para quem pode ler as suas pequenas meditações. Abri ao acaso e encontrei uma bela meditação sobre o Natal. Pedi o livro emprestado para poder lê-lo e partilhar agora convosco parte desta meditação de Natal. Entretanto ainda tive que passar no hospital confortar um doente que está de partida. Agora que tenho um bocadinho, é tempo de aqui vir partilhar. Depois... preparar o dia de amanhã que se prevê longo.
O título da meditação é "Saber adorar":
O título da meditação é "Saber adorar":
"...E prostrando-se, adoraram-No; e abrindo os seus cofres ofereceram-lhe oiro, incenso e mirra (Mateus 2, 11).
O Natal convida-nos a ajoelhar perante o mistério do Amor de Deus, que transcende toda a inteligência humana.
Que Deus nos ame, não nos custa a compreender; mas que nos tenha amado até ao presépio, isso confunde-nos. Um amor que transpõe semelhantes obstáculos não é deste mundo. Perante esse amor, uma só atitude é digna: a de Maria, a de José, a dos pastores, hoje; a dos reis, amanhã; a dos povos cristãos, através das idades: a Adoração. Este abismo de amor, esta loucura de Deus que se encarna, desnorteia a inteligência dos homens.
«Tudo, mas isso não», dirá o descrente. Perante o presépio, o homem encontra-se na encruzilhada dos caminhos. Ou aceita Deus e o mistério do seu amor, ou nega-se-lhe.
Se o homem escolhe a Deus, aceita logo o mistério. É Normal que Deus ultrapasse infinitamente o homem, é normal que as suas vias não sejam as nossas e que se encubra de mistério como de uma veste. Se o homem «compreendesse» Deus, Deus deixaria de o ser, viso que compreender é igualar, e o homem deixaria de o ser também.
É normal que o homem se situe no seu lugar, que se ajoelhe diante do que o ultrapassa. Se, pelo contrário, se negar a Deus, escolhe-se o absurdo e o caos; a vida não passa de relâmpago entre dois nadas; não é o relativo colado aos bocados, o contingente multiplicado pelo contingente, que lhe fará descobrir o Absoluto e o Necessário.
Querer explicar a existência do mundo - cujas partes podem desaparecer - que não tem em si mesmo a razão de existir, pela simples justaposição de cada um dos fragmentos, é optar pelo absurdo.
Deus ou nada, o mistério de Deus ou o caos. Não temos outra escolha. Precisamos de ajoelhar para sermos plena e lucidamente sensatos."
Que Deus nos ame, não nos custa a compreender; mas que nos tenha amado até ao presépio, isso confunde-nos. Um amor que transpõe semelhantes obstáculos não é deste mundo. Perante esse amor, uma só atitude é digna: a de Maria, a de José, a dos pastores, hoje; a dos reis, amanhã; a dos povos cristãos, através das idades: a Adoração. Este abismo de amor, esta loucura de Deus que se encarna, desnorteia a inteligência dos homens.
«Tudo, mas isso não», dirá o descrente. Perante o presépio, o homem encontra-se na encruzilhada dos caminhos. Ou aceita Deus e o mistério do seu amor, ou nega-se-lhe.
Se o homem escolhe a Deus, aceita logo o mistério. É Normal que Deus ultrapasse infinitamente o homem, é normal que as suas vias não sejam as nossas e que se encubra de mistério como de uma veste. Se o homem «compreendesse» Deus, Deus deixaria de o ser, viso que compreender é igualar, e o homem deixaria de o ser também.
É normal que o homem se situe no seu lugar, que se ajoelhe diante do que o ultrapassa. Se, pelo contrário, se negar a Deus, escolhe-se o absurdo e o caos; a vida não passa de relâmpago entre dois nadas; não é o relativo colado aos bocados, o contingente multiplicado pelo contingente, que lhe fará descobrir o Absoluto e o Necessário.
Querer explicar a existência do mundo - cujas partes podem desaparecer - que não tem em si mesmo a razão de existir, pela simples justaposição de cada um dos fragmentos, é optar pelo absurdo.
Deus ou nada, o mistério de Deus ou o caos. Não temos outra escolha. Precisamos de ajoelhar para sermos plena e lucidamente sensatos."
(continua amanhã...)