Para além de Luanda

(Por impossibilidade de acesso à Internet não consegui passar por cá. Aqui fica o que escrevi no sábado)

A viagem de Luanda ao Wako, onde estou, foi mesmo de oito horas, sendo que se as estradas fossem boas teria sido mais rápido. Para não demorarmos mais pelo caminho mais curto mas mais problemático, tivemos que dar uma volta maior e os últimos 75 quilómetros a penar porque não havia cem metros sem um buraco. Parecia aqueles jogos de carros de computadores.
Mas a viagem, apesar de tudo, foi bonita. Por um lado, a primeira parte a acompanhar o oceano, uma vez que íamos pela costa; por outro a natureza africana que a Europa não conhece: os irreverentes embondeiros, que se impõem pela grandeza e pela “anormalidade” dos seus ramos, os esguios e formosos cactos, as palmeiras reais, a terra vermelha da Gabela, as cachoeiras do rio Queve rio que mudam radicalmente a ideia que temos de uma África seca, sem vegetação. Ao chegar ao Waco vemos as montanhas com pele de baleia que parecem santuários protectores das aldeias de tijolos de barro vermelho cobertas de palha ou chapa.
Pelas estradas sempre alguém sentado a vender ou a andar carregado: vende-se tudo o que a terra ou o mar dá: mamão, manga, ananás, banana, batata, tomate, mukula, milho, peixe seco e bocados de carne seca, que dão para fazer o típico prato de calulu… É a lei da sobrevivência: emprego não há, em casa não se ganha nada e à beira da estrada sempre pode haver comércio. E quem anda, anda na recolha: os homens de catana na mão e as mulheres, muitas vezes com os filhos às costas, carregadas com molhos de lenha ou de fruta.
Chegámos ao Wako num dia de festa. Um dos nossos freis, o frei Gil, que está nesta comunidade desde 1982, faz hoje 80 anos. Houve Missa e almoço, do qual só beneficiámos das sobras, óptimas, que vieram para a Comunidade. O fr. Gil levou-nos a um terreno que adquirimos há pouco tempo e que, enquanto não se constrói, cultiva-se com um pouco de tudo, porque a terra dá de tudo. Dali, fomos a um cemitério abandonado que dá pena, para visitar o primeiro frei que morreu em Angola. No meio de capim chegámos à sua campa e rezámos pela sua alma.
Agora é tempo de dormir, que a viagem foi longa.

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