Sucessão de dias

A calma do retiro faz bem e ajuda a descansar. O horário do retiro está coordenado com o da comunidade. Laudes às sete da manhã, conferência às 9h, terço às 12h e almoço às 12.30h. À tarde, conferência às 15h, preparação da liturgia e do jantar (à noite somos nós), e Eucaristia às 18.30h. À noite, completas às 21h.
No total, somos 14: 4 frades e 10 postulantes. Pediram-me para fazer algumas refeições "portuguesas", o que vou fazendo mais com massas porque arroz e pirão é o pão nosso de cada dia. As questões culinárias são muito melindrosas: o arroz tem que ser seco (o malandrinho aqui não entra), os molhos são sempre bem-vindos, um sucesso e, se meter quiabo, tanto melhor.
Ontem foi-nos apresentada uma instituição do Vicariato de Angola, sediada nesta comunidade, o Mosaiko. E um Instituto de promoção e defesa dos direitos humanos. Dá trabalho a 25 trabalhadores, e é o único instituto em Angola que trabalha nesta questão tão social e tão religiosa. Uma apresentação, uma visita guiada e, no fim, sessão de perguntas.
Entretanto, esta manhã recebi um telefonema de uma amiga. Pensava que eu já tinha regressado e queria saber como tinha sido. Disse-lhe que não, que ainda estava por cá e disse-lhe que estava muito contente e feliz. Que apesar da "miséria" que se vê (comparada com o luxo da Europa ou da América do Norte), os olhos das pessoas não é tão triste como o nosso. Disse-lhe: não sei se nós somos mais felizes. Temos mais comodidades mas não sei se somos felizes. Aqui em Angola, vermos pessoas a vender o que podem e têm não é sinal de miséria mas sim sinal de sobrevivência, que não desistem, que há esperança. As senhoras com alguidares de fruta à cabeça e com filhos às costas, outras em praças improvisadas de terra batida a vender mandioca ou sabão, água ou o que for, são sinal da vida vivida com naturalidade. Nós desistimos fácil. Desanimamos... eles, quando se lhes fecha a porta, tentam encontrar a janela.
Ontem à noite foi dia de serão. O serão, aqui, é uma conversa informal. Queriam saber coisas sobre mim e sobre a província. Lá fui respondendo às perguntas que me iam fazendo.
Esta noite choveu bem forte. Fui dos poucos que acordei. Os postulantes nem se deram conta menos um, que disse que pensava que estava a sonhar com chuva mas que afinal chovia mesmo. Lembrei-me do trânsito hoje. Com tanta chuva, as estradas de terra batida e cheias de buracos vão fazer o caos nos bairros, Engarrafamento seguro.
Ainda ontem, depois de Completas, um dos rapazes perguntou-me se eu tinha saudades. Respondi-lhe: de Angola? Sim, já tenho saudades.

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