Bartolomé de las Casas - uma figura inspiradora

Não há dúvida nenhuma que ao longo de oitocentos anos de vida da Ordem Dominicana muitas luzes brilharam e algumas trevas escureceram a nossa história. Isto acontece desde o particular da nossa vida até à dimensão mais universal que pode ser uma instituição ou até o próprio mundo. Como cidadãos deste mundo podemos gloriar-nos de ter chegado à lua mas também nos entristecemos de termos consentido guerras e situações de injustiça.
Neste Capítulo Geral a figura de frei Bartolomé de las Casas aparece como um modelo de pregação para os nossos dias. Um modelo e um desafio.
Este dominicano nasceu em Sevilha em 1484. Entrou na Ordem e fez os seus estudos no Convento de San Esteban, em Salamanca, naquela época o maior centro de estudos da Ordem e até para toda a Igreja. Aí conseguiu uma formação sólida nas áreas da filosofia, teologia e direito. Este jovem dominicano, formatado com uma mentalidade de colonizador, é enviado para o Novo Mundo, concretamente para a ilha La Española (actual República Dominicana) e aí tem também contacto com a Comunidade de Pedro de Córdoba, famosa pelo sermão de António de Montesinos, na defesa dos direitos dos Índios. Anos mais tarde, na sua História das Índias, irá resumir o sermão, que é a única fonte que temos e da qual podemos presumir ou que o ouviu ou que teve acesso ao escrito, uma vez que o sermão estava assinado por toda a comunidade. E aí começa um total e profundo processo de conversão pessoal que irá influenciar toda a sua vida e pregação da defesa dos Índios, que naqueles tempos nem como pessoas eram considerados.
Em 1543 é nomeado Bispo de Chiapas, no México, onde esteve durante 5 anos. Um trabalho incansável através da pregação, mudando mentalidades, intimamente comprometido com a justiça e paz, direito dos nativos, das vítimas, dos mais débeis e dos desprotegidos.
Bartolomé de las Casas tinha uma profunda intuição de que com a sua pregação ajudava a Igreja a tomar consciência de um novo contexto para a pregar Jesus Cristo e a pregação da dignidade humana. De tal maneira se insurge contra os maus-tratos dos índios que chegará a dizer que maltratar os Índios é como maltratar Jesus.
Mas, como se disse no início, onde há luzes não há garantia de não haver trevas. Há um senão na vida deste bispo dominicano. Se, por um lado defendia o direito dos índios, por outro, durante algum tempo, promoveu a exportação de escravos africanos para a América.
É como bispo de Chiapas que ele se dá conta desta sua cegueira quando numa viagem a Espanha chega a Lisboa e, como ele próprio mais tarde vai escrever na Brevíssima Relação da destruição de África, é “a capital do país que então monopolizava a escravatura e venda dos negros da Guiné”.
Em Valladolid vai então, começar um outro trabalho, defendendo os escravos de África, não só na teoria mas também na prática.
No entanto, esta nuvem negra vai acompanhá-lo ao longo do resto da sua vida ao ponto de, antes de morrer ter dito: levo para a morte este erro no qual caí durante alguns anos. Morre em Madrid, em 1566.
Bartolomé de las Casas vai marcar a História do Novo Mundo como o Precursor na luta pela dignidade de todos as pessoas, sem distinção de raça, classe, sexo ou religião. Na Ordem, quase quinhentos anos depois, é uma figura inspiradora para que nós, dominicanos, ajudemos a Igreja a colocar a sua presença e pregação nos novos contextos da Igreja e do mundo.

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